VIDA

Sempre que escutamos alguém dizer que viver bem é uma arte, essa asserção apenas roça em nossos sentidos sem conduzir à acepção verdadeira dessa simples e pequena frase. Ninguém vive totalmente alienado de tudo e quando empregamos corriqueiramente essa expressão é para apontar alguém que geralmente não tem grande interesse em enquadrar-se no “sistema” em que estamos convivendo. Então, precisamos ponderar o que os outros pensam de nós e, sem romper com o que pensamos, compreender e deixar espaço para que o próximo nos compreenda.

A verdade não é só nossa, é ela que nos possui. A dinâmica de ser compreendido é saber entender o que pensam de nós para que possamos analisar as nossas verdades.

A plenitude de nosso saber está contígua à convicção de que não é possível a radicalização total do pensamento, equilibrar motivos contrários nos faz visualizar a verdade mais próxima do momento.

O momento desestabiliza-se no movimento num crescer constante. Quando nossa idéia avizinha-se da permanência não se acomoda, forma correntes que irão caminhar indefinidamente através de outras idéias, idéias que talvez já estejam contaminadas pelo vasto fluxo de informações que circulam por nós. Isso nos faz inferir os porquês da relação humana nunca ultrapassar todas as barreiras do conhecimento.

Não existe analogia total entre nada por inteiro, tudo tem uma revelação nova, uma fronteira sutil e intransponível, e as diferenças também têm analogias.

Viver bem é uma arte, viver mal não é uma opção, é a disposição de um sistema falho que se embrenha às vezes muito cedo na vida de uma pessoa e a tentativa de redefinir ,reestruturar o sistema nem sempre é proficiente.

Não há como praticar alegria constantemente, mesmo quando um de nós estiver totalmente inserido na arte de viver bem.Eventualmente todo mundo corre o risco de experimentação da desafortunada arte de viver mal . E o único ingrediente que está sempre à disposição da vida em qualquer circunstância é a humildade. A humildade abre espaço para ultrapassarmos todos os obstáculos. A humildade está intrínseca em toda a trajetória da verdadeira arte de viver bem. A arte de viver bem só pode ser concebida como arte quando nos valemos da faculdade de dominar espírito e matéria com o intuito de suscitar no próximo, não a inveja, mas a extensão da capacidade de amar com estética.

Amar com estética, a arte de expor com clareza o que queremos do próximo e o que podemos fazer por eles.

JOYCE RABASSA