BÔNUS

BÔNUS

Quando uma pessoa é premiada com a longevidade, na maior parte das vezes, percebe essa premiação apenas como um bônus.

Bônus do latim “bom” entre outras definições é um dividendo extraordinário, uma distribuição gratuita, e isso não determina a extensão exata do que é ser premiado com mais tempo para acompanhar amigos e parentes, para produzir e repassar conhecimentos e experiências para a posteridade.

A consciência da nossa finitude marcada pelo espaço de tempo é sempre muito forte em nós. É verdade que a nossa qualidade de vida, em termos de saúde em geral, vai baixando gradualmente, e isso a medicina ainda não conseguiu controlar totalmente,

entretanto, nada de negativo do que foi exposto justifica o fato de que nossa necessidade interior de lapidarmos nossas aptidões, seja tão breve. Desejarmos nossa merecida aposentadoria é uma realidade saudável, mas isso não é motivo para abandonarmos o aprimoramento de nossas aptidões ou para redescobrirmo-nos com outras habilidades nunca imaginadas. Em nossa caminhada dentro da história do mundo, enquanto evoluíamos escutávamos conselhos e narrativas de experiências dos mais idosos, e esses impulsionavam a marcha do mundo no seio de uma tribo, no interior de um vilarejo ou de uma pequena comunidade.

A ênfase devida ao conhecimento empírico ou a experiência acumulada no tempo não deve ser descredenciada diante das descobertas técnicas e progressistas dos jovens.

Antes de surgir expressões do tipo: “as estatísticas provam” ou “as pesquisas afirmam que..”, valorizávamos devidamente expressões simples como: “aprendi com meu pai” ou “ minha avó me ensinou”. E ensinavam...

Ensinavam por que a comunidade laureava os mais velhos pela extensão e aproveitamento do tempo vivido, ou, pela imposição do próprio decano que se mostrava vivo enquanto vivo e consciente?

A acomodação do corpo e da palavra com o passar do tempo tenta evitar com maior ênfase o estresse do envolvimento com todo e qualquer tipo de compromisso. Talvez a acomodação do corpo e da palavra esteja lançando mão dessa vã tentativa de armazenar “bônus” para a prorrogação de vida. Será que lá num cantinho de nossa consciência não estamos, mesmo, fazendo uso dessa idéia? Ou será que isso é apenas uma representação empirista que estou expondo sem nenhum fundamento real? Sei que estou unicamente jogando premissas, mas não penso que essas proposições sejam mecanismos de atividades mentais inúteis. O ato de pensar, falar, escrever e debater, nos induz a produção de ânimo interior.

O fato de não ver aproveitamento no que pensa ou no que faz, reprime cada vez mais a qualidade mental e física de algumas pessoas que estão envelhecendo. Talvez a culpa seja muito mais interna e individual do que vinda do reflexo preconceituoso de algum grupo. A verdade é que precisamos aprender a valorizar o momento. Cada segundo que vivemos é precioso, é parte da cadeia do tempo que se dispõe à nossa frente numa esteira de escolhas singular a cada um de nós. O mundo pode acabar amanhã para todos os habitantes da terra, pode terminar nos primeiros minutos ou meses de concepção de um ser vivo ou pode perpassar pelo centenário de muitos indivíduos. Tudo é imprevisível para todos nós. Não há o que conjeturar, só há o que temos de viver, sempre com o comprometimento de tornar profícuo todo lapso de instante que nos é concedido. E é tempo de agradecer a Deus tudo que já nos foi permitido passar até esse agora.

JOYCE RABASSA

joycerabassa@hotmail.com

joyce rabassa
Enviado por joyce rabassa em 04/01/2011
Código do texto: T2707942
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