Um ícone feminino na literatura

“Procuremos somente a Beleza, que a vida

É um punhado infantil de areia ressequida

Um som d'água ou de bronze e uma sombra que passa…”

EUGÉNIO DE CASTRO

Em nenhum momento até agora nunca se viu uma figura feminina se tornar um ícone tão grande na Literatura de língua portuguesa como Florbela Espanca. Nascida em Vila Viçosa, muda-se para Évora e, apesar de ter passado por obstáculos em toda sua vida, a poetisa conseguiu, através da poesia e do conto, delinear de forma intensa e singela o íntimo e a sensibilidade – deveras – nunca antes visto. Mesmo que seus dois primeiros livros – O Livro de Mágoas (1919) e O Livro de Sóror Saudade (1931) – não terem sido bem recebidos pela crítica, Florbela consegue nos posteriores alcançar o reconhecimento pelo seu trabalho.

A poetisa passa praticamente a vida toda no dilema amoroso. Casa-se três vezes e em nenhum dos seus matrimônios ela consegue alcançar a felicidade, e, então, passa por problemas de saúde (chegou a ter neuroses, que pioram com o passar do tempo) e retira-se, por alguns momentos, do convívio social. Florbela quase sempre foi incompreendida pela sociedade devido a sua poesia de cunho erótico e, por isso, de ela ser chamada de imoral. Mas a sociedade da época não compreendia o seu alcance e a altitude em seus escritos nos quais tentava passar a sua sensibilidade e expressar a sua dor, servindo como uma confissão.

A sua segunda fase na literatura, Florbela passa por um amadurecimento na poesia, passando a escrever sonetos por achar que é a forma mais prática de expor seus sentimentos. Durante, essa mudança literária, ela recebe várias influências: como a de Antônio Nobre, por este discutir ao tema confessional ligado ao “esteticismo, narcisismo e culto literário da Dor”, a saúde e certo neogarretismo (termo vindo de Almeida Garret, que fez poesias relacionadas à pátria); a de Bocage e Camões, em relação a esta estrutura utilizada (o soneto); Antero de Quental e Camilo Pessanha, por tratarem da dor, de problemas existenciais; o ultra-romantismo sepulcral (como de Alberto de Passos) e o simbolismo por serem escolas literárias que tratam do decadentismo; Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa por estes falarem sobre a “crise de identidade do sujeito e à estratégia de fingimento do poeta”.

Devido a toda essa fase em que Florbela Espanca não teve amor correspondido, acaba-se por se entregar a Natureza a partir da qual vão surgir poemas relacionados à doutrina panteística, à lugares naturais ou de sua infância, à cidade de Évora – onde se casou em 1913 com Alberto de Jesus Silva Moutinho, colega de escola - tudo em um tom melancólico.

Por toda essas características literárias e pessoais de Florbela, ela acabou juntando o anseio pela morte e a sua arte de forma tão extrema que se suicidou em 8 de dezembro de 1930, em Matosinhos. Entretanto, deve-se reconhecer a grande aura literária que cobriu Florbela Espanca que até hoje seduz todos.

Ricardo Miranda Filho
Enviado por Ricardo Miranda Filho em 10/03/2011
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