Dogmas Doutrinários

Meu filho me disse que aulas de religião fazem parte do seu programa escolar. Não entendi a relevância da matéria, tampouco poderia absorver essa idéia. Essa é minha opinião. Religião não se ensina, se impõe. Como alguém pode exigir que se responda sobriamente sobre questões tão subjetivas? Não há nada no mundo mais subjetivo, fantasioso, demente e sem consenso. Supõe-se que poderia de algum modo chegar a ter a informação passada por alguém que não esteve, mas que conheceu alguém que lhe passou um texto em aramaico ou sânscrito para ser levado ao outro lado do mundo, porque se conhecia alguém que se supunha poderia traduzir a parte que interessava, para então voltar e buscar outros que viajaram pelo tempo e pela história que apresentem um farrapo de pergaminho que pudesse enfim se alinhar a idéia de montar um só extenso documento, que será difundido por todos os cantos do mundo com a anuência final de uma cúpula que ainda o analisaria sob a égide da censura, para finalmente chegarmos a um livro, a Bíblia. Esqueci de mencionar que outros povos tiveram a mesma idéia, intuídos ou não por uma inspiração divina, mas passaram por uma odisséia semelhante que resultaram em outros ainda mais antigos como o Bhagavad, por exemplo, sem mencionar Avesta, Torah, e outros, isso ao invés de agregar, conflitou, fracionou e fez da vida dos comuns um inferno de vaidades e poder. Em que faculdade divina formou-se esse “sábio”? Considero um achincalhe a minha inteligência. Isso já foi tentado antes. Já ouviram falar em um basco chamado Inigo Lopez de Recalde? Não? Mas em Ignácio de Loyola, santo Inácio, jesuíta, lembra? Aquela vírgula fora do lugar pode provocar uma revolução. O discurso das regras impostas por um ser supremo, onde não pode haver contestação, não cabe recurso. Tenho que aceitar as coisas com são, como me disseram no catecismo, resignado e servil. Não é exatamente o que deve fazer alguém que busca liberdade e estima. A insatisfação é uma característica inerente ao ser humano e é isso que nos torna diferentes e nos destaca dos demais animais, se a religião resume a vida à aceitação de tudo como está, impondo formas comportamentais, o que vamos fazer com nosso livre arbítrio? Isso é muito pior do que eu imaginava, estou sendo comparado a uma vaca, com deméritos a ela que chega a ser sagrada em outro ponto. É o que podemos chamar de ditadura sacerdotal.

• “O homem mais perigoso é aquele que aparenta muita religiosidade, especialmente quando está em grupos organizados e detém posição de autoridade, contando com o profundo respeito do povo, o qual ignora seu sórdido jogo de poder nos bastidores”.- Alberto Rivera.

Este padrão humano de “tudo pelo poder”, incluindo a fé, nos arrasta a homens capazes de atrocidades e assassinatos que podem ser verificados facilmente pelos próprios decodificadores dos livros sagrados, onde religiosos que diziam amar a Deus, na verdade eram políticos inteligentes e gentis que viviam em um mundo obscuro de segredos, conluios, intrigas e santidade mentirosa. Exemplos não faltam: escribas, fariseus, saduceus, sumo sacerdotes etc. denominações que ao passar dos milênios só mudaram as vestes e criaram novos títulos. Papas, pastores, Rabinos, babalorixas e “enviados” de toda ordem.

Classificariam alguém que fala coisas desse tipo como herege, o que também, como tudo que existe é relativo. Ateu para quem? Por causa de quem? Seriam indagações pertinentes sobre a qual minha lógica flutuante se daria ao desplante de fazer. Queira ou não acabo me tornando blasfemador aos olhos da leviandade. Se não reverencio Alah, serei ateu no mundo árabe, se nunca ouvi falar de Maomé serei fuzilado pelo islã, se não comungo ou crismo serei excomungado. Uma esfinge parece para mim uma aberração. O retrato do martírio dos santos com chagas, espadadas e flechadas, um culto ao sofrimento. Um Cristo que tanto se ama, imaginado dependurado numa cruz com as mãos traspassadas por pregos gigantes, me parece no mínimo de muito mau gosto. Isso talvez explique a fixação que as pessoas nutrem pelas páginas policiais e o crescimento de tablóides sensacionalistas. Não se pode confundir aversão a religião com ateísmo. São atos resolutos e insanos nessa divina comédia. Entendo que a incoerência e a relatividade caminham no mesmo sentido, sem conspirarem e sem se tocarem. Co-existem flertando.

Du Valle.

Anderson Du Valle
Enviado por Anderson Du Valle em 24/04/2011
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