LEITURA POPULAR DA BÍBLIA

A leitura popular da Bíblia é uma entre tantas que se faz. Todas, numa tentativa de alcançar repostas satisfatórias às necessidades materiais e espirituais da vida. A maioria das tendências de interpretação da Bíblia segue processos dogmatizados, desprovidos de uma análise sócio-histórica, sem levar em conta o sitz im leben. Para isso o próprio Cristo deu exemplo, ao incorporar sua prédica e prática a vivências cotidianas facilmente compreensíveis.

Este jeito de análise bíblico-popular nasce da necessidade, da vez e da voz dos excluídos, com relação às perspectivas da Boa Nova, como anunciada por Cristo, a qual alcançou seu espaço entre marginalizados, mas logo foi adaptado às categorias dominantes, adequada ao contexto religioso. Nesse sentido cada povo, de posse de seu acervo cultural, adéqua leituras da Bíblia à sua realidade linguística e social.

Ao longo do tempo a leitura da Bíblia obedeceu a transcursos históricos. Até o estabelecimento do texto com formatação canônica como vemos hoje, muitos eventos interferiram na maneira de analisá-la. Assim é que encontramos interpretações das origens do universo, diferenciadas para cada povo; situações vividas pelos judeus em todas as peregrinações e no contexto das diásporas, as quais influenciaram o texto do VT; vivências espirituais imbricadas com o contexto idolátrico absorvido no estado nômade; etc. A partir dai foram fincadas as raízes das diversas leituras da Bíblia e especialmente da leitura popular. Muitos elementos históricos deram a sua contribuição. Eles viabilizaram o surgimento de métodos como o literalista, o liberal, o neo-ortodoxo, o diacrônico, o estruturalista. Métodos estes, adaptáveis ao contexto acadêmico. É natural, portanto, o surgimento de uma leitura popular da Bíblia, legitimada pelas camadas mais simples da sociedade, ou por tantos quantos já descobriram que embora se possam usar metodologias idênticas às já citadas, a compreensão e as perspectivas, podem ser diferentes dependendo de cada contexto. Como, por exemplo, interpretar a Bíblia entre índios brasileiros ou americanos ou mesmo entre os nativos tribais na Malásia, à luz do método fundamentalista?

Deve-se destacar que o próprio surgimento da Bíblia ocorre com o aproveitamento dos bens simbólicos, tangíveis e intangíveis das sociedades. Bem antes de o texto bíblico servir às estruturas eclesiásticas, foi útil diversificadamente para outras estruturas sociais, até que se chegasse ao seu conceito de sacralização.

A leitura popular, portanto, obedece a um processo histórico.