(DIS) FUNÇÃO DA LITERATURA

A literatura, a seu ver, pode ter uma função transformadora?

“Não acredito que a literatura possa ter uma função, que ela possa ser uma possibilidade de reflexão, de alteridade. Literatura é literatura, não tem função nenhuma e você não pode esperar isso dela. Como autora, não posse ter essa expectativa e nem posso escrever pensando nisso. Lógico que, como leitora, tenho essa experiência, completamente desvinculada das expectativas do autor. Essas são as minhas inquietações, é a minha busca. Agora, atribuir esse papel à literatura, acho que é roubada.” – (Patrícia Melo, entrevista concedida a Sérgio Miguez na Revista da Cultura) – Edição 38, setembro de 2O1O

No Curso de Letras o mestre Valfrides – professor de Literatura –, definiu da seguinte forma a Literatura: “Um livro de Física é essencial, porém não tem nada prazeroso lê-lo. A Revista Caras é prazerosa, mas não há nada de importante. A Literatura deve ser útil e prazerosa”. Ou seja, a literatura tem sim uma função: “Informar, denunciar, satirizar, entreter, formar opiniões, filosofar. Uma das primeiras funções de uma obra é enriquecer o vocabulário do leitor – já que Literatura é a arte da palavra. Sendo assim percebemos que aqueles autores que se destacam mais são os que quebram a regra formal e criam seu estilo próprio. Não fosse assim não haveria as escolas literárias. Um bom exemplo de que a Literatura pela Literatura não teve tanto sucesso em outros países foi o Parnasianismo. Era apenas a “Arte pela Arte” apenas na França e no Brasil teve êxito. Esteticamente falando foi o a escola mais rica em adjetivos, rimas ricas, raras e musicalidade. Ainda assim teve uma função: a negação do subjetivismo e postura anti-romântica. Ironicamente, Bilac era um romântico enrustido e super patriota. É difícil imaginar um autor escrever apenas por tergiversação. Ainda mais num meio competitivo de hoje. Se não é para causar polêmica cria-se outra coisa – vê-se a modalidade de trilogias, e seres fantásticos – como bruxos, vampiros, lobisomens, anjos, demônios, por exemplo.

Li um livro de Janet Dailey em uma tarde A Carícia do Vento. Conta a história de uma riquinha recém-casada( Sheila Rogers) – inexperiente na vida sexual –, hospedada num hotel cinco estrelas – de lua de mel –, quando o carro em que estava com seu esposo é interceptado por guerrilheiros. Ráfaga é o chefe do bando. Ela é levada para sua casa e ele a estupra – praticamente. – Ela tem, então, seu primeiro orgasmo – ele acaba descobrindo a inexperiência dela. Bom a história termina com ela junto ao bando dos rebeldes – deixou toda sua vida, herança, riqueza, enfim. É um livro tipo Júlia, Sabrina e Bianca. A única coisa louvável é o erotismo que a autora utiliza para prender o leitor – e ninguém melhor para descrever um orgasmo feminino que uma mulher. O título se refere ao nome do desordeiro. É uma história, mas sem muito conteúdo. O texto é voltado para o sexo – entretanto teve uma função: a descrição do prazer feminino ante um homem rude, mas bom amante. É difícil imaginar uma obra sem uma função. Claro que o autor nem sempre vai prender-se a uma linha; porém é quase impossível não se inspirar no cotidiano, numa cena observada, numa palavra ouvida, numa história contada, reportagem, música, quadro, enfim... Como dizia Nelson Rodrigues: “Se o escritor parar de observar, para de escrever. Escrevo bem, pois som um bom ouvinte das pessoas”.

Se a literatura não tivesse uma função o que seria de 1984, e A revolução dos Bichos, Ulisses, O Grande Gatsby, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, O Cortiço, Triste Fim de Policarpo Quaresma, Recordações do Escrivão Isaías Caminha, O corcunda de Notre Dame, Os Lusíadas, Crime e Castigo, Cem Anos de Solidão, Macunaíma, O Quinze, O Ateneu, A Letra Escarlate, Decameron, As flores do Mal, Robinson Crusoé, Dom Quixote, Guerra e Paz, O Som e a Fúria, Hamlet, Fausto, A Divina Comédia, Os cantos de Maldoror, O Retrato de Dorian Gray, Doutor Faustus, E o vento levou, dentre outros? Não saber definir o que é Literatura é desanimador; e, achar que não tem função nenhuma, é o mesmo que dizer para criança “você tem que comer verduras!”. “Pra quê?”. “Pra que sim!”. Como incentivar a alguém a ler livros tendo essa opinião. Se me informassem que a Literatura não tem benefício algum, provavelmente, hoje, não me arriscaria nessa área. Apesar de eu não ser incentivado. Fui por curiosidade e amor pelo conhecimento.

11-18/O8/2O11

Gonçalves Reis
Enviado por Gonçalves Reis em 25/08/2011
Código do texto: T3182414
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