A ESPANHA DOS ANTEPASSADOS DE SIRA QUIROGA*¹

Leonardo Lisbôa

“... Nem mais uma lágrima, nem um lamento. Nem um olhar condescendente para trás! Tudo devia ser presente. Tudo hoje. Para isso, optei por uma personagem que tirei da manga como um mágico tira lenços ou ases de copas. Decidi me transformar. Terei de me esforçar para que minha ignorância fosse confundida com soberba, minha certeza com doce desídia. Que meus medos nem sequer se suspeitassem, escondidos no passo firme... e uma aparência de determinação.”(p.115 - DUEÑAS).

A Espanha na década de 30 do século 20 se dividiu em:

a) Republicanos, Comunistas e Anarquistas.

Queriam construir um país novo a partir do que havia restado da realidade burguesa.

b) Nacionalistas, tendo à frente Franco, se proclamavam como defensores da tradição contra o caos. Esta divisão política levaria à Guerra Civil Espanhola (1936-1939).

A raiz histórica desta dicotomia estava no passado foi devido ao que se passou nos anos de 1800 e início do século 20.

A Espanha Oitocentista e Dezenovecentista.

No início dos anos de 1800 a Península Ibérica se viu invadida pelas tropas napoleônicas. Tal fato fez a Corte Portuguesa fugir para o Brasil iniciando aqui todo um processo que levaria ao surgimento do Estado Nacional Brasileiro em 1822.

Na Espanha, a dinastia Bourbon é destronada e o país se viu dividindo entre os que apoiaram o Exército Napoleônico e os “patriotas”. Estes últimos desconfiavam dos invasores ainda que os primeiros prometiam modernidade.

Em 1812, em Cádiz, porto que ficou livre da invasão francesa, ocorreu uma Revolução Burguesa que impôs uma constituição, mas preservou a Monarquia e o Catolicismo. Após expulsarem os franceses, restaurou-se o governo de Fernando VII, que negou a Constituição estabelecida.

O país se dividiu entre partidários do absolutismo e do liberalismo. A história da Espanha foi marcada então pelo conflito destas facções. Em 1873, os liberais proclamaram uma República que duraria alguns meses até que o poder foi dado ao rei Alfonso XII jurando uma Monarquia Constitucional Parlamentarista com a sucessão de um “Sistema Turmista” entre o Partido Conservador e o Partido Liberal (o mesmo acontecia no Brasil de D.Pedro II).

Esta política “era projetada para reger um país com escassa classe média urbana, cuja maioria da população vivia no campo e era analfabeta” (BUADES).

No País Basco e da Catalunha, ao norte, a realidade era outra: a indústria cresceu provocando o êxodo sulista. As forças políticas destas regiões passaram a reivindicar o fim do Centralismo do Poder de Madri.

Por outro lado, a industrialização trouxe os proletários conscientizados que se dividiram em anarquista e socialista. A princípio fundaram sindicatos e depois o Partido Socialista Operário Espanhol, em 1879.

No sul, os camponeses despossuídos abraçaram o anarcocomunismo; e a classe média urbana defendia o republicanismo.

Neste ínterim, Cuba foi perdida para os Estados Unidos da América afetando o brio dos militares.

Já no início dos novecentos, ocorreu uma greve revolucionária impulsionada por anarquistas e socialistas (1923).

A realidade política fez com que o rei Alfonso XIII permitisse o golpe de Estado liderado pelo general Miguel Primo de Rivera (1923), que copiaria o modelo da Ditadura Corporativista de Mussolini.

Já em 1931, o republicanismo ganhou força levando à proclamação da Segunda República Espanhola. O projeto levou à separação do Estado e da Igreja, a reformas agrárias e a autonomia das regiões. Isto não foi bastante, porque a esquerda se inspirou no Modelo Soviético e a direita se sentia seduzida pelo Fascismo e apoiava o militarismo.

Este cenário fez com que os generais se rebelassem contra o governo legítimo da República dando início ao sangrento movimento de 1936.

*¹ Protagonista do Romance de Maira Dueñas “O Tempo entre Costuras”.

*² Livro escolhido pelo Clube de Leitores de Barbacena, MG, para leitura e discussão.

REFERÊNCIAS:

1- BEEVOR, A. – A Batalha pela Espanha (A Guerra Civil Espanhola, 1936/39) Ed. Record – RJ. SP. 2007.

2- BUADES, J.M. – As Duas Espanhas. In Dossiê: Guerra Civil Espanhola. Entre o Sonho e A Barbárie. In. História Viva. Nº. 70. www.historiaviva.com.br.

3- ________________ Não Passarão! Idem.

4*²- DUEÑAS, Maria – O Tempo entre Costuras – SP. Ed. Planeta do Brasil, 2010.

5- FIUZA, B. – A Revolução Abortada. Idem.

6- SOUZA, I.I. de – A Guerra Civil Européia. Idem.

7- NEVES, L.F. da S. – Cemitério de Ideologia. Idem.

8- GATTAZ, A. – Nas Trevas do Franquismo. Idem.

LEONARDO LISBÔA

Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 05/10/2011
Reeditado em 07/10/2011
Código do texto: T3258920
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.