O mundo sem os tradutores

Dias atrás li um fragmento do livro “Mundo da Lua e Miscelânea”, do contista Monteiro Lobato, o qual explicava a suma importância do tradutor para o desenvolvimento mental de uma sociedade.

É de se admirar que até meados do século passado o nosso país não tinha transcrito para a língua pátria grandes obras de imortais universais como Shakespeare, Edgar Allan Poe, Ibsen, Goethe e outros tantos grandes de línguas inglesa e alemã.

O Brasil contava com poucos tradutores. As principais obras a serem traduzidas eram obras oriundas de língua latina de escritores Escrich Ponson du Terrail e Alexandre Dumas. A proximidade destes escritores franceses e espanhóis com o Português facilitara à sua disseminação entre os editores e a população. Mas o país precisava de novos ares, novos sentimentos, precisava arejar as ideias. Surgiu então a necessidade de voltar à atenção aos então desconhecidos mestres das línguas primordiais.

Obras inglesas e alemãs começaram a ganhar espaço sob o céu do Cruzeiro do Sul. A avidez de um povo com mentalidade pobre de ideias demandava por mais traduções. Editoras pediam que fossem feitas e o nível destas cada vez mais decaia. Ganhava-se em quantidade e se perdia em qualidade. Lobato enfatiza que todo tradutor, principalmente em obras fora da língua latina, precisa ser também um escritor, ou seja, precisa conhecer bem a obra e também o escritor para que se faça um “transplante” deste livro e com suas palavras conte esta história.

Os tempos avançaram. O mercado editorial cresceu em número e boas traduções. Hoje não conseguimos nos imaginar sem acesso a uma obra de Shakespeare, Aldous Huxley, Oscar Wilde, George Orwell, Nietzsche no nosso cotidiano. Isto talvez explique no passado o atraso econômico do Brasil se comparado até mesmo a outros países colonizados, por exemplo, à Austrália.

Estas línguas primordiais trouxeram através das letras colocadas no papel por seus literatos conceitos de uma retórica sempre mundana. Pessoas daqui puseram-se a imaginar novos mundos e se libertam da rosa dos ventos brasileira. Em que ao norte temos Machado de Assis, ao leste Eça, ao oeste Euclides e ao sul o próprio Lobato.

Parafraseando Monteiro “Bendito sejam os editores inteligentes que descobrem bons tradutores, e malditos sejam os que entregam obras primas da humanidade ao massacre dos infames “traditores”“.

Chronus
Enviado por Chronus em 21/04/2012
Reeditado em 21/04/2012
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