A morte de Edgar Allan Poe


Edgar Allan Poe

Quem seria capaz de solucionar o maior mistério de Edgar Allan Poe, que foi a sua morte? Até hoje ninguém sabe o que realmente aconteceu. Apenas que esse misterioso escritor e poeta fracassou na profissão, no amor e na vida. Porém, não fracassou em seu talento literário que o revelou como gênio.
 
Uma névoa de mistério cobre os fatos que ocasionaram a morte de Poe aos quarenta anos. Um mistério povoado de histórias fantásticas, com um único fim misterioso e sem solução: a sua morte.
 
Ninguém nunca soube também o que aconteceu em seus últimos anos de vida, ainda mais misteriosos que seus escritos. Os locais por onde andou na véspera de sua morte são cobertos por uma névoa do mais absurdo mistério.
 
Convido-os a entrar nos becos da Filadélfia para investigar esse mistério, e descobrirão que ele passou por ali completamente bêbado. Dizem que ele foi vítima da loucura, a doença que mais temia adquirir na vida; dizem também que não há explicação para sua morte. Então foi um ataque repentino? Ou será que foram as drogas e bebidas que tanto usufruiu na vida?
 
Sobre isso, só sabemos que levou uma vida errante e que, certa vez, teve de ser tirado da prisão por amigos. Desde o nascimento teve esse tipo de vida. E essa obscura história começou em 19 de janeiro de 1809, em Boston, quando Edgar Poe veio ao mundo.
 
Seus pais, David e Elizabeth Poe, eram atores, e se casaram em 1806. Eles trabalhavam juntos, mas não tinham estabilidade na carreira e não faziam sucesso. Isso tornava difícil sustentar Edgar e seu irmão William. E para piorar a situação, David abandona Elizabeth doente e grávida de Rosalie, que nasceu em 1810 e que viria a ficar louca como o irmão William. Por isso Edgar tinha medo de que também fosse ficar louco, acreditando que aquilo poderia ser hereditário. Como conseqüência da vida miserável que levavam, e vítima de uma doença fatal, Elizabeth morreu logo a seguir, em 1811.
 
Aos dois anos de idade, Edgar foi abrigado pelo senhor Allan, por isso veio a se chamar Edgar Allan Poe. O senhor Allan era um negociante escocês bem sucedido, e deu a Edgar boas escolas e viagens. Até aproximadamente seus quinze anos, Edgar teve uma família e lar agradáveis. Mas a partir daí o senhor Allan se mostrou uma pessoa bastante irritada, entrando sempre em conflito com Edgar. Tudo conseqüência de seus problemas financeiros e da saúde precária de sua mulher, a senhora Allan. Nesses conflitos, o senhor Allan sempre jogava na cara de Edgar que estava prestando um ato de caridade para com ele e que nunca o adotou oficialmente. E Edgar, jovem como era, vivia constantemente absorvido pela pressão, sonhando com a carreira literária e sofrendo por ser um sonhador. E já aos dezessete anos, ao matricular-se na Universidade de Virgínia, envolveu-se com os jogos e a bebida. Mesmo assim isso não o impediu de ser um grande intelectual na universidade. Mas as dívidas e a dúvida em sua reputação ficavam cada vez maiores. E isso não ajudava em seu relacionamento com o senhor Allan. Tanto que Edgar deixou a universidade e ausentou-se várias vezes de casa. Já a senhora Allan tinha um bom convívio com Edgar, e quando ela morreu em 1829 o relacionamento de Edgar com o senhor Allan piorou. E seis anos depois morre também o senhor Allan, excluindo Edgar de seu testamento.
 
Mas se vocês pensam que tudo isso prejudicou o escritor, estão enganados. Edgar publicou seu segundo livro de poemas aos vinte anos; aos vinte e três ganhou o concurso de contos do jornal The Saturday Visitor; ganhou ainda um cheque de cinqüenta dólares e um emprego no periódico literário Southern Literary Messenger por causa de seu conto "Manuscrito encontrado numa garrafa", e trabalhou ali escrevendo textos, poemas, resenhas de livros e notícias do mundo literário. Para se ter uma idéia de sua influência, em 1837 esse periódico passou a circular de setecentos para três mil e quinhentos exemplares!
 
E não parou por aí. Trabalhou em outros jornais e atingiu o mesmo desempenho. Além de trabalhar como editor do Graham's Magazine, da Filadéfia, em 1840 e fazer com que esse jornal pulasse de cinco mil para quarenta mil assinaturas!
 
Mas o que o escritor queria mesmo é ter o seu próprio jornal. Tentou várias vezes concretizar esse sonho, mas fracassou e não conseguiu realizar esse sonho que perseguiu durante toda a sua vida.
 
Um dos fatos que levaram Edgar a adiar o seu sonho foram as várias vezes que teve de mudar de emprego e endereço, em parte também por causa dos problemas de saúde de sua mulher, sua prima Virgínia Clemm, com quem se casou em 1835, quando ela tinha apenas treze anos. Esposa inseparável que sempre o acompanhou na busca de melhores condições, até ser vítima da tuberculose. As dificuldades financeiras foram crescendo ao mesmo passo que a saúde de Virgínia piorava. Tiveram então que se mudar para o campo. Mas o inverno era rigoroso, as hemorragias aumentavam, faltavam recursos para o tratamento, estavam na miséria. E em 1847 morre a senhora Poe, para profunda tristeza de Edgar Allan Poe.
 
Morte! Medo! Dor! Eis os elementos marcantes das obras de Poe. Como se sua vida fosse um mar de inspiração, que terminava nas ondas de mistério que envolvem sua morte. Volto a lembrar de sua morte como um mistério porque esse foi o assunto que usei para iniciar este artigo, e que voltaremos a abordar no fim do mesmo. Antes, porém, vamos falar mais um pouco de suas obras. Para quem não conhece ou nunca ouviu falar de Edgar Allan Poe, basta lembrar dos filmes que foram baseados em seus contos, como por exemplo "O Poço e o Pêndulo". Ou então de suas obras-primas do terror como "A queda da Casa de Usher" e "Ligéia". Obras essas que estão inseridas no conjunto de três livros de poemas e uma coletânea de vinte e cinco contos que escreveu e publicou até seus trinta anos. Tudo dentro de um clima sombrio e misterioso de cemitérios, navios fantasmas, torres inacessíveis e lugares subterrâneos povoados de personagens solitários, errantes como Poe, tristes, numa grande sensibilidade, até mesmo beirando a loucura. E quem lê seus contos percebe que o impossível tem uma explicação lógica que torna um absurdo possível. Isso ele mesmo explica em sua "Filosofia da composição", em que fala de seu poema "O Corvo", tratando os fatos que se passam no poema como acontecimentos possíveis. Além disso, por trás de seus contos encontramos uma suposição de que todos nós abrigamos uma força sombria e maligna na alma, como se o terror fizesse parte não só de seus contos, mas também de todos nós.
 
Houve um período em que Poe passou a se dedicar ao raciocínio, à dedução. Como podemos comprovar em seu famoso conto "Os crimes da rua Morgue" e outros escritos no mesmo estilo. E como nessa época não havia nada parecido com isso, foi Poe quem fundou a moderna "novela de detetive". Antes mesmo de Agatha Christie com suas histórias de assassinatos e Conan Doyle com o Sherlock Holmes. A diferença é que Poe sempre foi mais sombrio.
 
Nas histórias de Poe não encontramos como personagem principal um detetive, como já era de se esperar em histórias policiais de mistério, mas sim um falido nobre francês chamado Auguste Dupin. Enquanto o comissário de polícia considerava certos crimes sem solução, o francês Dupin desvenda esses crimes através de seus raciocínios complexos (raciocínios de Poe). Para esse francês excêntrico sua única diversão era passar as noites tentando solucionar crimes.
 
Como podemos ver, o mistério atraía Poe. Em seu tempo trabalhando no Graham's Magazine ele pedia aos leitores que lhe enviassem criptogramas (aquelas mensagens em que usamos símbolos no lugar das letras) e todos eram decifrados, para surpresa e fascínio dos leitores. O próprio Poe ensina como decifrar criptogramas em seu conto "O escaravelho de ouro". Esse conto, quando publicado, lhe deu um prêmio de cem dólares e uma circulação de trezentos mil exemplares. Precisa dizer mais? Poe, sem dúvida, ganhou a fama de escritor de contos policiais e histórias de terror.
 
Quando tinha vinte e sete anos, Poe foi para Nova York com sua mulher. Ele queria criar uma revista e ficar conhecido como escritor. Nesse período é bastante irônico o fato de que seus contos eram recusados pelos editores por serem “muito estranhos”. Então um editor chamado J. K. Paulding sugeriu que Poe escrevesse um romance, para que assim ele saísse de sua situação difícil.
 
Em 1838 foi lançado "A narrativa de A. Gordon Pym", que infelizmente ninguém deu importância. Foi só em 1845, com a publicação de "O Corvo", que Poe ganhou fama e respeito como escritor pela crítica. Mas quando isso aconteceu, o próprio escritor não sabia que estava indo de encontro à glória. Baudelaire (poeta francês e grande admirador de Poe) diz que no dia em que o poema surgiu publicado no "Evening Mirror", causando impacto e mudando a partir daí o curso da vida do escritor, Poe foi visto atravessando a Broadway, cambaleante. Jamais conseguiu livrar-se do álcool. Sobre Poe, Baudelaire ainda diz: "Nenhum homem soube narrar com mais magia as exceções da vida humana e da própria natureza".
 
Em "A narrativa de A. Gordon Pym", Poe narra as aventuras marítimas de Arthur Pym. É interessante como ele descreve paisagens exóticas que nunca viu, como se fosse um documentário da Discovery Channel. Mas é claro que seu estilo inconfundível é o que marca seu romance. Como por exemplo o confinamento do personagem ao porão do navio, numa detalhada cena de canibalismo e morbidez na descrição de doenças e de cadáveres putrefatos.
 
Porém, engana-se quem pensa que a fama resolveu a vida de Poe. A literatura não dava lucros, o cálculo era feito sobre o preço desprezível dos livros para se tirar a quantia de um direito autoral absurdamente baixo. Isso teve como conseqüência uma vida em condições precárias, que se agravou com a morte de sua mulher Virgínia. A bebida e o ópio ficaram cada vez mais freqüentes em seu dia-a-dia. Chegou mesmo a tentar suicídio ingerindo grande quantidade de láudano, um produto que não o matou, mas o deixou com um ataque de paralisia facial.
 
Voltando ao mistério de sua morte, começaremos nossa história no dia 27 de setembro de 1849, quando Poe viajou para Baltimore às quatro da manhã após jantar com alguns amigos em Richmond. O objetivo dessa viagem era o seu casamento com a senhora Shelton, um antigo amor de juventude. Poe quis viajar bem rápido, já que o casamento estava de hora marcada. E é aqui que começa o grande mistério de seus últimos dias de vida, pois Edgar Allan Poe não chegou ao seu local de destino. Uns dizem que ele ficou embriagado e foi vítima de uma quadrilha de fraude eleitoral, outros dizem que ele foi buscar sua tia em Nova York para assistir o casamento. Apenas suposições...
 
O fato é que Edgar Allan Poe foi encontrado por um homem chamado senhor Walker. Este homem escreveu uma carta para um antigo amigo de Poe no dia 3 de Outubro. Eis o que diz a carta: "Há um cavalheiro, um tanto decomposto nas vestimentas, na rua Ward Polls, dizendo atender pelo nome Edgar Allan Poe, que parece estar muito atormentado e diz ter conhecimento com o senhor, e eu asseguro que ele precisa de assistência urgente".
 
O amigo de Poe o encontrou completamente desesperado numa taberna asquerosa e o levou para o hospital, completamente inconsciente e moribundo. E Poe permaneceu delirando no hospital até morrer poucos dias depois, no dia 7 de outubro de 1849. E durante esses dias no hospital ele chamava constantemente por um misterioso "Reynolds".
 
Vítima da loucura que ele tanto temia? Ou será que foi o uso desregrado de álcool e drogas? O que matou Edgar Allan Poe? E quem era esse "Reynolds"?
 
Um mistério sem solução que só alguém como Poe poderia solucionar...
Sr Arcano
Enviado por Sr Arcano em 10/09/2012
Código do texto: T3875261
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