As Cinquenta Sombras de Grey

As Cinquenta Sombras de Grey

Marco Antônio Pinto*

Muitos acham que não vale a pena comentar a respeito de duas catástrofes que estão acontecendo. Uma no mundo Literário e outra no terreno cinematográfico. A obra da escritora inglesa Erika Leonard James, "Cinquenta Tons de Cinza", no original: Fifty Shades of Grey, tornou-se o romance britânico mais vendido de todos os tempos com 5,3 milhões de cópias vendidas no Reino Unido e mais de 100 milhões no mundo todo. Na verdade é uma trilogia. Em 2012, a autora foi considerada pela revista Time umas das 100 pessoas mais influentes do mundo.

Em um brevíssimo resumo o livro conta a história de Anastasia Steele, uma jovem e ingênua estudante de literatura que aos 21 anos nunca teve um namorado, o que para mim é algo que ultrapassa a ficção. Ela conhece Christian Grey em uma entrevista, um bilionário de 28 anos que comanda um negócio multinacional. Trata-se de um jovem autoritário e sádico que irá promover as formas mais doentias de praticar sexo. Grey transforma Anastasia em um mero objeto de prazer não só na cama, mas durante todo relacionamento com a jovem. Tal obra inaugurou a segunda catástrofe ao se transformar em um filme pornográfico. E o pior, será assistido por milhões, de adolescentes.

Num período áureo da história da emancipação feminina, consequência da árdua luta das mulheres por dignidade e igualdade, alvo até mesmo de nossa Constituição no célebre Art. 5º caput, Educadores, filósofos, psicólogos, movimentos feministas e pais, ao longo do século XX, deixaram um legado maravilhoso, tornando nossas guerreiras como sujeitos de sua própria história. A obra de E. L. James tentar jogar por terra toda essa rica história. Não que sou contra fantasias sexuais. Acho até necessárias para o aperfeiçoamento do amor, desde que haja mútuo consentimento. Mas aqui não se trata disso, e sim de uma psicopatia sexual sem limites.

Quem afirma que nosso setor educacional é um caos desconhece que há uma crise mundial de nível, ético, cultural e educacional. A carência dos individualistas, se assim posso dizer, está prevalecendo e crescendo a níveis estratosféricos. Quem diria que no país de Virginia Woolf, William Somerset Maugham, Aldous Leonard Huxley dentre outros brilhantes, poderia surgir algo assim de tão estarrecedor.

Agora sim! Nossos adolescentes vão apreender fazer sexo strictu sensu e não terão a mínima idéia de que ele é um instrumento para chegar ao ápice do amor. Agora sim teremos lições de sobra para tornar nossos jovens, saudáveis, do sexo masculino, em máquinas doentias, meramente cópias daqueles trogloditas de priscas eras que não reconheceram o valor imprescindível de uma mulher.

Não se queixe do Brasil, se isso serve de consolo, o livro foi campeão mundial de vendas. O filme, que já está em cartaz será assistido por milhões de almas pelo planeta afora. Seria salutar promover um debate, com um olhar crítico sobre esta obra nas escolas, universidades e instituições que prezam a beleza e a luta de nossas, repito, guerreiras e lutadoras de cada dia, sobre essas duas catastrófes que estão acontecendo. Proibir que essas sombras entre em nosso país seria um atentado à liberdade de expressão, mas deixar simplesmente que nossos jovens apreciem tal obra com um olhar cinza é simplesmente uma falta de responsabilidade de toda a sociedade.

Marco Antônio Pinto
Enviado por Marco Antônio Pinto em 06/03/2015
Código do texto: T5160827
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.