Saborosas reminiscências...

Em época (entre 1959 e 1968...), durante minha áurea fase de execução do antigo curso ginasial e posteriormente segundo grau, modalidade Científico, ouvi por várias vezes menção ao livro O HOMEM QUE CALCULAVA do escritor Malba Tahan, citado pelos MESTRES, além de tudo, como uma sumidade no campo da matemática. Estudei, além de nos livros próprios denominados cartilhas, que continham, via de regra, incursões por todas as disciplinas lecionadas, em outros livros direcionados para assuntos específicos.

No caso da Matemática, lembro-me dos Grandes Professores Ary Quintella, Carlos Galante, Oswaldo Marcondes e Osvaldo Sangiorgi, eram em sua maioria eleitos pelos abnegados professores que tínhamos.

Já em minha Licenciatura em Matemática, acresceram nomes como os de René Descartes, Euclides, Arquimedes, Isaac Newton, Évariste Galois, Carl Gauss... sumidades no conhecimento da arte em suas épocas!

O tempo passou e já um pouco avançado na idade, ao visitar uma improvisada biblioteca em um Centro de Integração para a Terceira Idade no município em que resido, chamou-me atenção uma publicação do Círculo do Livro intitulada LENDAS DO CÉU E DA TERRA, que trazia como nome de seu autor, nada mais nada menos do que o escritor citado em minha infância/adolescência Malba Tahan, e imediatamente procurei e encontrei nas últimas páginas da obra o capítulo: O AUTOR E SUA OBRA, contendo as seguintes informações:

“Antes de morrer, o escritor Malba Tahan pediu que seu enterro fosse feito num caixão de terceira classe, sem homenagens, flores ou coroas". A humildade foi uma constante na vida desse homem que escreveu tanto sobre os árabes e nunca foi ao Oriente Médio.

Carioca de família pobre e numerosa, Júlio César de Melo e Souza nasceu no dia 6 de maio de 1895 e ainda menino já vendia composições prontas a colegas preguiçosos no Colégio Pedro II. Escrever, desde então, sempre foi sua especialidade: são, ao todo, cento e quinze obras, entre livros de matemática e de contos juvenis --- ‘O Homem que calculava’, ‘História sem fim’, ‘Céu de Alá’, ‘Mártires da Armênia’ ---, que fascinaram pelo menos três gerações de adolescentes.

Ao adotar o pseudônimo de Malba Tahan, criou uma biografia para o ‘famoso escritor árabe’, nascido na aldeia de Muzalit, nas proximidades da antiga cidade de Meca, e cujo nome completo era Ali Iezid Izz-Edim Ibn Salim Hank Malba Tahan. Formado em engenharia civil, Melo e Sousa preferiu dedicar-se ao magistério e à literatura. Lecionou no Instituto de Educação no Rio de Janeiro, onde instituiu uma nova disciplina, a arte de contar histórias, para o aperfeiçoamento dos professores. Foi educador do Serviço Nacional de Assistência aos Menores e catedrático de matemática do Colégio Pedro II, da Escola Nacional de Belas-Artes e da Faculdade Nacional de Arquitetura.

Para o professor Lauro de Oliveira Lima, Malba Tahan ‘era o showman da pedagogia'. Popularizou a matemática em livros deliciosos, usados ainda hoje. Suas aulas de didática eram um verdadeiro espetáculo. Creio que ficará pouco de sua didática, pois sua didática era ele próprio. Acho que seu nome ficará como o contador de lindas histórias e como lembrança de um homem cheio de generosidade’.

Depois de esquecidos durante algum tempo, seus livros voltaram a circular a partir de 1984 e, certamente, irão encantar a nova geração. Esse homem, que contava com a admiração integral de um mestre da literatura infanto-juvenil, Monteiro Lobato, morreu no Recife, de enfarte, a 18 de junho de 1974.

O Círculo do Livro já publicou de Malba Tahan ‘O Homem que Calculava’, um Best seller da literatura juvenil, premiado pela Academia Brasileira de Letras e traduzido para o inglês e para o castelhano. ‘Lendas do céu e terra’ é um dos melhores exemplos da incomparável arte literária do autor.

Desta forma e mais uma vez, ferindo susceptibilidades e remando contra os preceitos impingidos pelos gestores do RL, ‘ouso’ repassar por aqui, inicialmente haja vista repassar outros, um excelente texto que li e da própria lavra do acima citado autor e que faz parte da coletânea inserida no livro LENDAS DO CÉU E DA TERRA.

Não devo e nem posso negar que, estou muito emocionado...

O CÂNTARO MILAGROSO

Em Lar, na Pérsia, vivia outrora um pescador muito indolente.

Certo dia, quando dormia, como de costume, à sombra de uma árvore junto ao rio, assaltou-o um sonho que muito o impressionou.

Sonhou que encontrara, no campo, ao voltar a casa um grande cântaro de ferro no fundo do qual descobriu, com surpresa, uma moeda de ouro.

Sandeji --- assim se chamava o pescador --- mergulhou a mão e arrancou do fundo do cântaro o precioso achado. Qual não foi, porém, o seu espanto, quando, ao repetir a operação encontrou nova moeda igual à primeira.

Era milagroso o cântaro!

Debaixo de cada moeda que o pescador tirava, outra logo, nova e rutilante, lhe vinha ao alcance da mão.

Ao acordar resolveu consultar um velho sacerdote que morava a dois passos e era perito em decifrar sonhos e visões.

Que significação teria aquele sonho original do cântaro milagroso?

Como explicar o estranho caso da moeda que ressurgia sempre, oferecendo-se à cobiça dos seus olhos e dos seus dedos?

--- É fácil desvendar-se o mistério --- respondeu o sacerdote. --- Vai ao rio, atira a rede várias vezes e saberás, então, a significação do sonho!

Encheu-se o pescador de ânimo e foi ao rio.

Viu vários peixes que nadavam na corrente. Lançou, rápido, a rede e apanhou alguns.

Novos peixes surgiram no seio profundo das águas e o pescador teve a felicidade de os recolher.

Assim, trabalhando ativamente, conseguiu fazer, naquele dia, pesca mais abundante do que a de um mês inteiro.

Um rico mercador que passava com seus ajudantes, corretores e escravos, ao ver os cestos do bom Sandeji repletos de lindos peixes, comprou-os todos por boa quantia.

Só então o pescador compreendeu a significação do sonho e o verdadeiro sentido das palavras do velho sacerdote.

O cântaro milagroso era, afinal, o rio de cujo seio tirava ele os peixes que se transformavam, a seguir, nas ambicionadas moedas de ouro.

Reparai bem, meninos da minha terra! Reparai bem!

O trabalho honesto e bem orientado é um cântaro milagroso no fundo do qual brilham sempre mil moedas de ouro para o homem inteligente e ativo que as quiser ir buscar.

Malba Tahan