São Gonçalo: Fragmentos da História.

FRAGMENTOS DA HISTÓRIA DE SÃO GONÇALO

O sertanejo, como disse Euclides da Cunha, é, antes de tudo, um forte. Mas é, também, um teimoso. Porque o sertão é o deserto que se tornou povoado à custa da pertinácia de um povo. Sobretudo naqueles tempos, quase não havia condições humanas. Os poderes públicos nunca haviam enxergado aquele heroísmo. E, vencendo secas sucessivas, os recantos de serras se foram povoando.

(NÓBREGA, 2004)

Segundo Mariz (1978), o início do processo de ocupação do sertão paraibano se deu após o ingresso de Teodósio de Oliveira Ledo na região, entre 1680 e 1690, através da implantação das fazendas de gado e com o advento da cultura algodoeira, em que grande número de colonos requereu terras em todas as ribeiras até o Rio Piranhas.

Inicialmente, a região foi explorada pela Casa da Torre, que se estabeleceu em torno do Rio São Francisco, adentrou pelo Sertão e se instalou em grande parte dos Rios Piranhas, Peixe, Piancó, Espinharas e o Sabugi. O português Teodósio de Oliveira Ledo arrendou parte dessas terras, expandindo seus domínios, através da expulsão e eliminação da população indígena.

O município de Sousa é originário a partir do Rio do Peixe, cujo território pertencia ao povo indígena Icós Pequenos, tendo como o seu primeiro povoador o português Antonio José da Cunha, que ingressou na região no ano de 1691 com bastante dificuldade, devido à forte resistência imposta pelos índios.

O registro mais antigo sobre São Gonçalo pode ser observado pela leitura de Gadelha (1986), ao se referir sobre o início da colonização da região da grande Sousa no século XVII:

Outros sertanistas vieram e no mesmo ano de 1691 aqui se fixaram: Francisco de Oliveira Ledo, em Bom Sucesso; Teodósio Alves de Figueiredo, na Serra de Santa Quitéria (hoje Comissário); Custódio de Oliveira, no Chabocão; Manoel Araújo de Carvalho, no Brejo e Olho D’água; João Gomes de Sá, no Riacho do Bó, e Capitão Basílio Rodrigues Seixas, em São Gonçalo.

No Século XIX, parte das terras de São Gonçalo pertencia ao proprietário Luiz Ferreira Rocha, sendo que outra parte era propriedade da família Marques/Silva, na pessoa do Dr. Antonio Marques da Silva Mariz, onde o seu irmão, o advogado Manoel Maria M. Mariz, faleceu no dia 16 de março de 1888.

No ano de 1913, durante a República Velha , o Governo Federal, na gestão do Presidente Hermes da Fonseca, inicia a construção da grande rodovia, atual BR-230, que interligaria o sertão paraibano ao litoral, no sentido leste-oeste (João Pessoa-Cajazeiras). A rodovia foi concluída no ano de 1926, enquanto que o seu asfaltamento somente seria concretizado no início da década de 1970, na gestão do governador João Agripino Maia.

Somente a partir do ano de 1920, é que se pode considerar que São Gonçalo passa efetivamente a fazer parte da história do Brasil. Até aqueles idos, o sertão era, à noite, o reflexo das chamas tênues de lamparinas corajosas, que enfrentavam uma escuridão que só temia o sol (FORMIGA, 2011).

Tudo começou quando o paraibano Epitácio Pessoa assumiu a Presidência da República , período que coincidiu com a grande seca de 1919. De imediato, Epitácio implantou um ambicioso programa governamental de combate aos efeitos maléficos das secas, irradiando esperança pelo sertão nordestino. Assim, a IOCS passa a denominar-se IFOCS (Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas) e através da Lei nº 3.955, de 25.12.1919, conhecida como a Lei Epitácio Pessoa, foi autorizada a construção de obras de açudagens e de irrigação em todo o Nordeste.

Nóbrega (2004) define bem a repercussão desta nova era de prosperidade no sertão improlífico de então:

As águas todas fugiram.

Um dia se entendeu que o sertão seria feliz quando suas águas não chegassem ao mar.

Levantaram-se as grandes represas, ergueram-se barragens, a pequena e a grande açudagem.

Eram os diques de uma nova Holanda. Mas, agora tudo ao inverso: diques postos precisamente para a terra ficar debaixo das águas.

No alto Sertão da Paraíba, no município de Souza, o povo simples do campo viu chegar uma nova gente: uma raça de gente que se chamava “mister” e falava embrulhado, para ninguém entender.

Eram norte-americanos.

Vinham para fazer com os diques, a greve dos rios contra o mar. Trouxeram máquinas nunca vistas, desapropriaram terras e se colocaram nas gargantas das serras.

Esperando o rio para o prender quando passasse...

A ordem vinha de cima, do Presidente da República. Era Epitácio Pessoa, nordestino, paraibano. Para acabar com as secas criara a I.F.O.C.S., hoje transformada em D.N.O.C.S.

Puseram-se eles em S. Gonçalo, naquele tempo menos que um lugarejo, uma fazenda de Souza.

Iam deter o rio.

A partir do ano de 1920, ocorre a desapropriação e indenização de algumas propriedades rurais, que pertenciam aos senhores Dr. Silva Mariz (parte sul ou bacia hidráulica), João Ferreira Rocha (parte central ou vila), José Ferreira Rocha e Donana Rocha (parte leste) e Basílio Pordeus Silva (parte norte/oeste ou zootecnia/medidora), pelo Governo Federal, com vistas à construção do açude e do acampamento federal de São Gonçalo. A construção do açude local, em harmonia com o de Boqueirão de Piranhas (Engenheiros Ávidos), tornando perene o Rio Piranhas, tinha como objetivo principal solucionar o problema da escassez de água na região da grande Sousa. Assim, a perenização do Piranhas, que interliga os dois açudes, começa logo na represa de Boqueirão .

No mesmo ano de 1920, houve a aprovação da programação das obras, que foram contratadas e iniciadas em 1921, representadas, principalmente pela construção de grandes barragens, como a de São Gonçalo, cujo início se deu em 1º de outubro do mesmo ano.

O acampamento federal de São Gonçalo principiou com ares de modernidade que satisfazia as necessidades dos operários e habitantes, podendo ser considerado uma anomalia urbana positivo-moderna para as décadas de 1920 e 1930, pois já nasceu grandioso, ocasionando sentimentos antagônicos de ciúme e orgulho à cidade de Sousa.

Desta feita, foram construídos no acampamento: residências para os engenheiros, técnicos e demais funcionários; oficina mecânica; almoxarifado; laboratórios; hospital; a casa de pensão; república; campo de futebol; casa de hóspedes; cooperativa; hotel; entre outras obras importantes.

Segundo Nóbrega (2004), na época São Gonçalo era bem mais atrativo do que a própria cidade de Sousa:

Naqueles tempos ninguém queria trocar S. Gonçalo por Souza, a vila pela cidade. O lugarejo recém-nascido é que tinha transporte para toda parte, vantagens financeiras, piscina, arborização, novidades muitas outras que o sertão jamais conhecera.

São Gonçalo também já possuía linha telefônica , uma revolução para a época, água encanada, telégrafo, saneamento e luz elétrica. Máquinas possantes eram instaladas, casa de força, casa-de-gelo... No lugar, falavam-se inglês e alemão nas calçadas e esquinas, enquanto “doutores” e altas autoridades oficiais discutiam assuntos de extrema relevância para o destino dos sertanejos, nos escritórios e canteiros de obras da Inspetoria, espalhados por toda a extensão do acampamento. Sousa, de perto, assistia a tudo, boquiaberta, regozijada!

Mariz (1994) delineia um paralelo entre Sousa e São Gonçalo na década de 1920:

Souza olhava com os grandes olhos vermelhos dos seus lampeões de kerosene a aureola dourada da iluminação electrica do povoado. O acampamento projectava-a no céo a arrogancia petulante de um desafio.

Alli, a dezoito kilometros, palpita toda uma vida intensa de trabalho dynamico.

Os norte-americanos chegaram elaborando estratégias e semeando esperanças. Através da construtora Dwight P. Robinson & Cia., cuja instalação em São Gonçalo tem o seu início em setembro de 1921, homens, máquinas e equipamentos de engenharia escavavam e reviravam o solo do sertão. Agitações e barulhos devastaram a fleuma do pequeno lugarejo, recém-federalizado.

São Gonçalo passou a receber gente aos milhares, famílias inteiras fugindo da seca, advindas de todos os recantos do Nordeste. O açude seria um grande referencial para suprir as necessidades desta terra, aliado aos Rios Piranhas e Rio do Peixe que abraçam Sousa e a transformam numa terra promissora e cheia de perspectivas de investimento (ABRANTES, 2010). Era o desenvolvimento e o progresso da região.

Com o gigantismo das obras, as máquinas e aparelhamentos utilizados causavam tremendo espanto e admiração em toda a região: guindastes, compressores, britadores, motores-bomba, guinchos gigantescos, vibradores, locomotivas (cafuringas), tratores, caminhões, escavadeiras, trac-truc, marteletas, betoneiras, troley, caçambas, etc.

O ritmo da construção da barragem se inicia de maneira alucinante. A serra, sobre qual a estrada passa, começa a ser dinamitada. Todos teriam que se afastar do local. Moradores eram impelidos a sair de suas casas, para locais mais seguros. Enormes blocos de rocha se evaporavam pelo espaço distante, tamanho era o poderio e a amplitude dos explosivos.

Nóbrega (2004) bem expõe a cadência dos trabalhos na barragem:

Nas proximidades do paredão do açude era tanto movimento que dava vontade de parar para ficar olhando. Guindastes possantes vagarosamente levantavam no espaço centenas de quilos. Caminhões muitos chegavam e saíam, descarregando terra. Um homem alto dava ordens em inglês. Como um gigante, o paredão do açude ia-se encravando na rocha da serra, erguendo o dorso vermelho, devorando toda a cal do sertão.

Demoraram tanto que a casa-de-força apitou onze horas. Era uma fumaça preta saindo das duas chaminés, lá em cima e uma buzina aguda, estridente, que se ouvia em toda a redondeza. Era fim de expediente de trabalho. Centenas de operários encheram logo os caminhos, subindo ladeiras, buscando seus casebres.

Corria o ano de 1922. O comércio local foi se estabelecendo, no mesmo compasso das obras. O Coronel João Pereira de Nazarezinho abriu um barracão em São Gonçalo, para ser administrado pelos seus filhos Chico (futuro cangaceiro Chico Pereira), Aproniano e Abdias.

João Ferreira Rocha, que fora indenizado pelo Governo Federal pela desapropriação de suas terras, tornou-se o primeiro delegado da história de São Gonçalo. De maneira concomitante, também abriu um barracão no acampamento.

Segundo Guerra (1981):

“1921 foi o ano das importações e das instalações, assim como 1922 foi o ano do ataque às obras, em regime de “força total.” Os contratos com firmas estrangeiras especializadas foram firmados em 18.02.1921 e registrados no Tribunal de Contas. Eis as firmas e suas respectivas tarefas a executar: Northon Griffths & Co. Ltd (Inglesa) - conclusão do açude Acarape (CE) e construção dos açudes Quixeramobim e Patu (CE). C.H. Walker & Co. Ltd (Inglesa) - conclusão do açude Gargalheiras (RN), construção do açude Parelhas (RN). Dwight P. Robinson Inc (Norte-Americana) construção dos açudes Poço dos Paus e Orós (CE) e construção dos açudes São Gonçalo, Pilões e Piranhas (PB). As instalações surgiam como por encanto em ritmo febril: casas de força, escritórios, acampamentos, hospitais, guindastes, cabos aéreos, fabricas de gelo. Empregavam-se operários e escriturários. Quando a duríssima fase preliminar que se refere a contratos e instalações estava vencida, e partia-se para a execução de todas as obras programadas, o novo governo anunciou a redução drástica de verbas para o Nordeste. Como uma ducha a apagar a chama da esperança no coração de milhões de nordestinos.”

Com o término do mandato de Epitácio Pessoa e o governo do novo Presidente, o mineiro Arthur Bernardes, o sonho do sertanista se transforma em um imenso pesadelo, a partir do início do ano de 1923. Os programas do governo antecessor foram imediatamente interrompidos. Em 1924, Bernardes extingue a Caixa Especial das Obras de Irrigação e Terras Cultiváveis do Nordeste Brasileiro.

Neste ínterim, grande inverno atinge o sertão no ano de 1924, conforme Nóbrega (2004):

Invernada de 1924! Marcou-se da memória dos sertanejos. Nunca houve um ano tão bom de inverno.

Começou com os trovões ensurdecedores, terríveis mesmo. Parecia que todos os anjos sapateavam no tablado estridente do céu.

Lá veio a ventania forte de chuva. O vento passava acordando as árvores adormecidas no sono de morte de bem um ano. E elas se retorciam querendo arrancar-se da terra, fugir com ele.

Os céus, escondidos detrás das cortinas densas de nuvens, fechavam-se com jogos de luz de arco-íris, cruzando o espaço.

E dos céus convulsos descia fogo e descia água.

Fogo de raios caídos sobre a mata, as casas, estremecendo o solo.

Água abundante, demasiada, enchendo os leitos. Transformando as margens. Invadindo tudo.

Em 1925 ocorreu a paralisação de todas as obras do Nordeste, sendo que o orçamento disponível não comportava sequer a conservação, manutenção e a guarda de máquinas e materiais. Deste modo, as obras de construção do açude de São Gonçalo também foram paralisadas, para desgosto profundo de toda a região. Equipamentos e instalações ficaram abandonados, expostos à ação deletéria do tempo.

Mariz (1994) lamenta o abandono da grandiosa obra:

Os guindastes, quiétos e agora inuteis, se estiravam para cima, como braços vermelhos que implorassem nos céus.

A imagem da alma sertaneja, aquelles guindastes...

O material, exposto ao sol inclemente e à chuva caprichosa, se deteriorava a olhos vistos. Os tectos das casas iam abaixo, de abandono.

Contudo, a iniquidade do Governo Federal com o sofrido povo do Nordeste ainda não estava completa. Faltava-lhes subtrair o único bem que ainda restava: a esperança. Assim, o Presidente Bernardes resolveu vender todas as máquinas e instalações das construções, ora paralisadas, aumentando ainda mais o pesadelo da região, pois a consumação do ato decretaria o ponto final nas obras, sem possibilidades de um recomeço posterior.

Diante deste último fato, Sousa, porém, não se mostrou inerte ante a impassibilidade do Governo Federal. Desta feita, as autoridades locais contataram com o Ex-presidente Epitácio Pessoa, pai das obras e um infatigável defensor do sertão paraibano, que, utilizando-se dos resquícios de poder e influência que ainda detinha, conseguiu impedir a retirada do maquinário de São Gonçalo, ao menos temporariamente.

A partir deste momento, a população de Sousa passou a nutrir maiores zelo e importância pelos equipamentos do acampamento. De maneira improvisada e voluntária, construíram-se abrigos e telhados para o precioso maquinário, na expectativa de que um dia surgisse outro “Epitácio” e para a retomada das obras.

Pouco tempo depois, nova investida do Governo Federal e mais uma vez Sousa se ergue unida e organizada com um único objetivo: evitar o desmanche de São Gonçalo! Desta vez a cidade, sentindo-se mais confiante, resolveu agir por conta própria. Os enviados da IFOCS chegaram às escondidas com o intuito de levar o material a todo custo. Porém, logo a notícia se espalhou pela cidade, causando uma movimentação intensa. Os partidos políticos (Bacuraus e Urucubacas), o prefeito, e a população em geral, se uniram de maneira organizada, traçando estratégias de defesa, dentre as quais a convocação de banda de música, foguetórios, todos, sem qualquer distinção de partido, religião ou classe social.

A cidade inteira se deslocou à estação ferroviária, durante a madrugada, a fim de surpreender os enviados da Inspetoria, que vinham de São Gonçalo, aproveitando a escuridão da noite, para o embarque clandestino do material (MARIZ, 1994). Quando os caminhões Ford GMC chegam à cidade, vindo de São Gonçalo, começam os foguetórios de alerta, os fogos explodem e clareiam ainda mais os céus da cidade, que já se encontravam bastante estrelados. A banda de música toca, todos correm em direção aos veículos, arrancando à força o maquinário do poder dos forasteiros do governo, encaminhando-o de volta para São Gonçalo, a fim de que pudessem ser reaproveitados em um momento posterior.

Mariz (1994) narra o episódio:

E antes que fechem a bôcca do assombro, toma-se à unha, peça por peça, o material que por direito nos pertencia.

[...]

Souza, que durante quatorze anos fôra cognominada a Verdun da Opposição, e só se rendeu à política limpa de João Pessoa, mostrou mais uma vez ser Verdun, contra tudo que tresande a mandonismo. Nos jornaes de outro Estado, figurão qualquer fez publicar uma nota, declarando que “na cidade de Souza na Parahyba do Norte, um grupo de desordeiros, tendo à frente o prefeito da cidade, pretendera desrespeitar ordens do alto”...

Pretendera, uma conversa...

E, desordeiros ou não, o material ficou. ´

Segundo Gadelha (1986), as instalações valeriam na década de 1930 três vezes mais do que custaram na década de 1920 e todas seriam reaproveitadas, com apenas alguns simples reparos, devido à ação do tempo e a outros efeitos.

Getúlio Vargas assume o poder em 1930 e, sensível com a situação calamitosa em que se encontrava o Nordeste, nomeia para o cargo de Ministro da Viação e Obras Públicas o escritor paraibano José Américo de Almeida, que teria uma participação decisiva para a retomada das obras de combate aos efeitos das secas, dando condições a IFOCS de executar um grande programa de açudagem, em continuidade à construção de grandes reservatórios iniciados na gestão de Epitácio Pessoa.

Mariz (1994) se reporta à chegada ao poder da República de mais um paraibano:

Assim, o espírito sertanejo, ressequido pelo mais amargo pessimismo, se vestiu de esperança quando um filho da Parahyba galgou as culminâncias do Ministério da Viação.

E José Américo não mentiu também à confiança do seu povo.

Deu-nos Pilões, Riacho dos Cavallos, Condado, Boqueirão, SÃO GONÇALO...

Ao surgir a grave seca de 1932, a IFOCS tratou de apressar projetos e trabalhos de construção de açudes no Nordeste, relegando a segundo plano a construção de ferrovias e a ampliação dos portos.

No dia 22 de abril de 1932 (sexta-feira) o interventor da Paraíba Antenor Navarro e o Ministro José Américo de Almeida visitam Boqueirão de Piranhas e São Gonçalo, onde nos locais já se encontravam equipes técnicas da IFOCS e cujas obras se encontravam na iminência do recomeço efetivo. No dia 23 (sábado), a comitiva seguiu para Condado, em seguida para a cidade de Patos, onde ocorreu o pernoite na residência do Prefeito Adelgício Olintho, seguindo para João Pessoa no dia 24 (domingo), logo cedo.

No dia 25 (segunda-feira), em João Pessoa, José Américo enviou um telegrama ao Presidente Getúlio Vargas relatando sobre as obras de açudagem pelos sertões nordestinos, destacando na Paraíba os açudes de Cajazeiras, Sousa e Campina Grande, bem como a colossal importância socioeconômica das obras para a sofrida população sertaneja.

No dia 26 (terça-feira), José Américo embarcou em um hidroavião com destino ao Rio de Janeiro, na companhia de Antenor Navarro e do Engenheiro Lima Campos, Inspetor da IFOCS. Na noite do mesmo dia, numa escala em Salvador, o avião capotou ao aterrissar, causando a morte imediata de Antenor Navarro, aos 34 anos de idade, e de Lima Campos. O Ministro José Américo sobreviveu à tragédia com algumas fraturas. O piloto da aeronave também escapou ao acidente. A notícia, que chocou a Paraíba, causou grande repercussão em todo o país.

As obras de construção do açude de São Gonçalo foram retomadas efetivamente no dia 22 de junho de 1932. Os serviços de Boqueirão também foram reiniciados neste ano. Os operários trabalhavam de maneira ininterrupta, sem direitos e garantias trabalhistas mínimas. Em sua imensa maioria, eram cassacos, nome dado a mais simples categoria de trabalhadores do governo.

O nome “cassaco” foi concebido em razão destes trabalhadores residirem distantes dos locais dos serviços, deslocando-se, muitas vezes, com os filhos pequenos numa bolsa presa ao corpo, de modo semelhante ao animal cassaco, que vive nas matas nordestinas e que possui uma bolsa no ventre para condução dos filhotes, de maneira análoga ao canguru. No mês de novembro, se encontravam em trabalho 220.000 operários no semiárido nordestino.

Ainda em 1932, ocorreu um grave acidente, em que um operário foi esmagado por uma caçamba que retirava terra para a fundação da barragem, erguida por um guincho. Neste caso, o cassaco foi fazer exibição e acabou sofrendo o acidente fatal.

No mesmo ano, o Ministro José Américo de Almeida criou a Comissão de Reflorestamento e Postos Agrícolas do Nordeste, sob o comando do Agrônomo José Augusto Trindade. Este, em seguida, convida o Agrônomo José Guimarães Duque para trabalhar com ele na IFOCS, formando uma dupla de estudiosos de alto nível em matéria de semiárido.

Segundo GUERRA (1981):

Ao instalar a Comissão, Trindade trouxe vários colaboradores de Viçosa, entre os quais o professor José Guimarães Duque, que aqui criou raízes e estudou a fundo o Nordeste, tornando-se um dos maiores expoentes na área da agricultura e da sócioeconomia nordestinas.

No início do ano de 1933, começaram a ser instalados os postos agrícolas da IFOCS, junto às grandes barragens. Nessas condições, a partir de março, foram iniciados os trabalhos do Posto Agrícola São Gonçalo.

Durante as escavações para a construção da barragem foi retirada uma grande ossada de um animal pré-histórico, de cor azulada, dividida em duas partes, pesando aproximadamente 40 quilos, próximo à gruta católica. Houve grande alvoroço quando da descoberta, em que todos os operários, chefes e engenheiros se locomoveram até o local para ver o achado misterioso.

São Gonçalo faz parte da região identificada e polarizada cientificamente como o Vale dos Dinossauros. No sertão da Paraíba, notadamente em Sousa, existem inúmeras pegadas de dinossauros do cretáceo inferior. Todavia, para que os fósseis encontrados em São Gonçalo pudessem ser atestados como de dinossauros , seria necessário que estivessem dentro das rochas com a mesma idade, ou seja, entre 60 e 145 milhões de anos. Desta maneira, todas as ocorrências de fósseis encontrados na região, mesmo que há alguns metros de profundidade, são atribuídos a mamíferos da megafauna . Posteriormente, descobriu-se que o animal fossilizado encontrado era um megatério, ou seja, uma preguiça gigante. Este tipo de animal, que viveu há 20 mil anos na América do Sul, era do tamanho de um elefante e passava o dia todo comendo folhas de árvores e arbustos, utilizando sua língua comprida e manejando os galhos com suas enormes garras. A causa principal da sua extinção se deve a sua lentidão para a locomoção, tornando-se presa fácil para os predadores.

Diferentemente do ano anterior (1932), o Rio Piranhas se encontra cheio, atrapalhando o serviço da barragem. O curso normal do rio passava entre onde hoje se localiza a gruta Nossa Senhora de Lourdes e o campo de futebol, no local onde existe um dreno e o bueiro das tamarineiras. Ou seja, a barragem interditou o curso normal do rio, que ficou represado, pois ainda não havia curso do Rio Piranhas entre o sangradouro e o dreno.

Mariz (1994) define a represa do Rio Piranhas pela barragem: “O Piranhas velho vem todo sujo, rosnando, irado com aquele empeço que lhe querem opor”.

No mesmo ano de 1933, ocorreu o maior acidente da obra, em que, durante as escavações da barragem, aconteceu um soterramento, ceifando a vida de uma equipe inteira de cassacos. No momento, alguns responsáveis pela obra ainda tentaram negar a existência de operários no local do desastre. Contudo, a obra continuou sem o resgate dos corpos dos trabalhadores, sob a alegação da dificuldade de escavação e identificação, haja vista que os cassacos não possuíam documentos pessoais.

Após o fatídico acidente, as barreiras passaram a ser escoradas com gigantescas chapas de aço, encaixadas umas nas outras, para uma maior segurança aos trabalhadores. Estas chapas, ao final das obras da barragem, foram utilizadas para a construção da histórica ponte de ferro nas proximidades do sangradouro.

Após a conclusão das barragens dos açudes de Estreito, Feiticeiro, e Choró no Estado do Ceará, milhares de trabalhadores se deslocam para os acampamentos da Paraíba, inclusive São Gonçalo.

No dia 5 de novembro de 1934, sob o comando de José Augusto Trindade, ocorre a inauguração do Posto Agrícola do Açude São Gonçalo, que era o mais bem aparelhado dos Postos Agrícolas da IFOCS no Nordeste, possuindo instalações, equipamentos e pessoal técnico qualificado.

O Jornal a União do Governo do Estado da Paraíba destaca o certame promovido pela Comissão de Serviços Complementares da IFOCS, que apresenta uma exposição agropastoril regional, a primeira do sertão da Paraíba, e a oferta de cursos para fazendeiros e agricultores da região.

No grande dia, o avião militar sobrevoa o acampamento, trazendo as autoridades para o evento: o engenheiro Luiz Augusto Vieira, Diretor da IFOCS; Ernesto Geisel, Secretário de Fazenda e Obras Públicas da Paraíba; e Gratuliano da Costa Brito , Interventor da Paraíba. As pessoas se amontoam nas ruas do acampamento, correm para ver o avião, que voa sobre a vila em direção ao campo de reflorestamento, fazendo a curva por cima da barragem e do sangradouro. Depois, segue para pousar no aeródromo de Sousa.

De acordo com Mariz (1994), São Gonçalo vive o seu primeiro momento glamouroso. Automóveis em todas as direções cortam o acampamento, como se o pequeno lugarejo fosse uma metrópole. Naquela ocasião, tornava-se a capital da Paraíba. Tudo era novidade. Mais uma vez as pessoas se aglomeravam para assistir aos inflamados discursos, a inauguração oficial e, acima de tudo, observarem as celebridades oficiais. A população era contagiada pela irradiação de otimismo que abalizava o ato. Nem mesmo o intenso sol de verão sertanejo era capaz de ofuscar o brilho do espetáculo.

O certame, que mobilizou os estados da Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, lotou as casas particulares e hotéis de Sousa e São Gonçalo, com a estada de autoridades, agrônomos, proprietários, técnicos, fazendeiros, agricultores, profissionais da imprensa e participantes diversos.

Em São Gonçalo, nas décadas de 1920 a 1940, o comércio local girava em torno do sistema de barracão, que fornecia os produtos alimentícios aos cassacos das obras.

Segundo Trindade (2005), no primeiro ano de funcionamento do Posto agrícola de São Gonçalo, encontrava-se em construção: a garagem dos tratores; dois ripados; silo aéreo de alvenaria para 100 toneladas; abrigo misto de animais; depósito de feno; galpão e casa de beneficiamento; e residências dos agrônomos. O posto contava com produção de 28.748 mudas, sendo 24 variedades de árvores florestais e frutíferas.

Nos anos de 1934 e 1935, quando a construção da barragem se encontrava no estágio final, ocorreu um grande inverno, ocasionando a inundação do acampamento, visto que a barragem interrompera o curso natural do rio. Por outro lado, o sangradouro, ainda em construção, contava com apenas um metro de altura.

Desta feita, no dia 21 de fevereiro de 1935, a água passou por sobre o sangradouro invadindo e inundando todas as ruas centrais, como a Rua Dezesseis, Avenida Rio Piranhas, Praça da Cooperativa, Rua Mecânica e Rua da Baixa.

A população já se encontrava de sobreaviso na expectativa de uma possível inundação, mesmo assim, quando a sirene da casa de força apitou, de forma bastante incisiva, por volta de meia-noite, foi um tumulto generalizado. As pessoas corriam desesperadas abandonando suas casas. O Dr. Estevam Marinho preparou equipes de operários com barreiras de sacos de areia no intuito de impedir a inundação das ruas, mas todo o esforço foi em vão. A inundação fez-se realidade, ocasionado desabamento de várias casas. A maior resistência adveio da Rua Dezesseis, uma vez que suas casas foram construídas de maneira bem mais estruturadas que as demais.

Ehrich (2009) também esclarece a ação humana frente à natureza e vice-versa:

Nessa passagem o rio tem um sentimento de fúria em relação à ação humana. A natureza indo de encontro à vontade humana de modificar o curso natural das coisas, ou seja, o rio se opõe, nesse caso, à barragem que é erguida para barrar o seu fluxo natural, represando a água que, antes escoaria normalmente.

O açude de São Gonçalo foi oficialmente inaugurado em 6 de fevereiro de 1936, dois dias após a inauguração do açude de Condado. O evento contou com a presença de várias autoridades oficiais, militares e religiosas. O Bispo de Cajazeiras, Dom João da Mata Andrade, foi responsável pelo corte da fita simbólica de inauguração. Logo após a inauguração, um grande contingente de operários transferiu-se para as obras do açude de Coremas, que a partir deste momento se tornou uma prioridade do Governo Federal.

No mesmo ano, a sede da 1ª Inspetoria Regional do IFOCS foi transferida para o Posto Agrícola São Gonçalo.

Concomitantemente, a construção do açude de Boqueirão de Piranhas acarretou a inundação da antiga cidade de São José de Piranhas, com isso teve que ser reconstruída em uma área mais elevada, para abrigar a população desabrigada, com uma nova denominação de Jatobá. Posteriormente, no ano de 1952, a cidade adotaria o nome atual de São José de Piranhas.

De acordo com Formiga (2011), no mesmo período, o açude de São Gonçalo destruiu o atalho primitivo que ligava alguns distritos de Sousa a Cajazeiras. Contudo, a estrada que agora contornava toda a extensão do açude, passando sobre a barragem, apresentava perspectivas de crescimento econômico para a região.

Com a construção do açude de São Gonçalo em 1936, inicia-se a irrigação propriamente dita na região, através dos sistemas de cooperação interna, entre a IFOCS e rendeiros, em terras federais, e de cooperação externa, entre a IFOCS e particulares, nas terras privadas.

No ano de 1937, José Augusto Trindade, Chefe da Comissão de Serviços Complementares, e o Engenheiro Luiz Vieira, Inspetor da IFOCS, transformam o Posto Agrícola de São Gonçalo em Instituto Experimental da Região Seca. Ao passo que montam toda a infraestrutura necessária para o funcionamento da instituição de produção e pesquisa do semiárido.

Em Sousa, no mesmo ano de 1937, a IFOCS constrói o aeródromo oficial em um imenso terreno cedido pelo Governo do Estado da Paraíba e pela Prefeitura Municipal de Sousa, na época sob a direção do Prefeito Eládio Pedrosa de Melo.

Os canais grandes foram construídos logo depois do açude, na mesma década de 1930. O canal P1 sul se inicia na caixa d’água da gruta e vai até a capelinha do Sítio Matumbo, enquanto o P2 ou canal norte se inicia na medidora e vai se estreitando até próximo ao campo de aviação.

No ano de 1938, José Augusto Trindade, em uma de suas constantes visitas a São Gonçalo, ao lado dos agrônomos Paulo Miranda, Luiz Vieira, Guimarães Duque, além de outros técnicos, posa para uma fotografia ao lado de uma plantação de tamarindos.

Em outubro de 1939, orgulhoso de seu brilhante trabalho junto a IFOCS, José Augusto levou a mãe e a tia, para conhecerem as atividades agrícolas em São Gonçalo. A comitiva mineira aproveitou a ocasião para saborear um delicioso almoço no Hotel Catete.

No ano de 1940, ocorre a primeira sangria do açude de São Gonçalo, um espetáculo grandioso e inédito marcado pela exuberância da natureza em harmonia com a engenharia arquitetada pelos homens. O acontecimento atraiu um enorme contingente de pessoas ao acampamento, notadamente para o início da Rua do Túnel, de onde se avistava o mar d’água surgindo entre os horizontes das serras e escorrendo pelas gargantas do sangradouro. Neste ano choveu em São Gonçalo 1.350 mm.

O Instituto Experimental da Região Seca foi inaugurado em 16 de outubro de 1940, quando da segunda visita do Presidente da República Getúlio Vargas a São Gonçalo, onde percorreu as áreas urbana e rural do acampamento de São Gonçalo, presenciando, in loco, o funcionamento da mais nova instituição de pesquisa do Brasil, que laborava, efetivamente, há mais de três anos.

O Engenheiro Agrônomo José Guimarães Duque, novo chefe da Comissão de Serviços Complementares, no uso de sua competência técnica e administrativa, deu continuidade aos trabalhos desenvolvidos pelo seu antecessor, José Augusto Trindade (13.08.1896 - 09.03.1941), nos diversos Postos Agrícolas do Nordeste, notadamente no IAJAT de São Gonçalo, onde até hoje é bastante lembrado e reconhecido por todos os funcionários e moradores mais antigos do acampamento.

No ano de 1941, ocorre a instalação da Usina, que compreende vários setores de infraestrutura do DNOCS, inclusive a nova casa de força, que passa a gerar energia elétrica para repartições e residências do acampamento, mediante uso de caldeira a vapor movida a lenha. O seu funcionamento era no período das 18:00 às 21:00 h. A partir do ano de 1949 a energia do acampamento passa a ser gerada a partir da pequena hidrelétrica de Boqueirão, através de uma linha de transmissão. Às 21:00 h, o gerador era desligado para poupar a única turbina da casa de força de Boqueirão. O que tivesse de ser feito depois desta hora teria de ser a luz de candeeiros ou lamparinas. As luzes incandescentes, que eram acesas durante poucas horas da noite, possuíam um brilho fraco e trêmulo e ficavam variando a intensidade da luz. Somente a partir do ano de 1959, ocorre a construção da subestação de energia local, que passa a receber energia diretamente da nova hidrelétrica de Coremas, inaugurada em 15 de janeiro de 1957, pelo Presidente JK.

O ano de 1942 é afetado por uma grande seca, que atingiu, notadamente, os vizinhos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, tendo a IFOCS estabelecido um programa de emergência, de modo a atender aos estados mencionados. Em São Gonçalo, a pluviometria registra ínfimos 468 mm. O ano seguinte (1943) registraria um índice ainda menor, de apenas 430 mm, ou seja, o segundo menor nível no período de 1939 a 2012. No que diz respeito ao seu potencial de irrigação, o PISG possui 1.000 hectares de terras irrigadas, sendo a maioria com plantação de arroz (cultura não adequada à região semiárida).

Neste ano, um grande número de flagelados, acompanhados de mulheres e filhos, fugindo da seca, desembarca em São Gonçalo, na expectativa de arranjar serviço. A multidão se aglomera em frente ao edifício do IAJAT. Todos famintos, num sofrimento imensurável, para desespero de Dr. Paulo de Brito Guerra, Chefe de São Gonçalo, que dentro das possibilidades procura acomodar as pessoas, além de distribuir alimentos. A penitência dos flagelados é registrada pelas lentes sempre atentas dos fotógrafos oficiais da Inspetoria, dentre os quais, Gabriel Florêncio.

Ainda em 1942, o ex-ministro José Américo de Almeida foi designado para uma embaixada na Europa, porém, antes de viajar, visitou o sertão paraibano. Em São Gonçalo, percorreu toda a extensão irrigada do acampamento, na companhia de Dr. Paulo Guerra e de Dr. Guimarães Duque. José Américo presenciou o contraste chocante das áreas molhadas e verdejantes com a secura que contornava toda a bacia de irrigação. Grandes culturas de arroz cobriam parte de terras outrora improdutivas. No período, foram plantados mil hectares desta planta hidrófila (se desenvolve plenamente quando imersa em água). Visivelmente enternecido com a paisagem verde de São Gonçalo, confessa que se sentia bastante recompensado, por ter sido um dos responsáveis diretos por aquele ato de prosperidade para o padecido povo do sertão, a partir das duas comissões criadas por ele na gestão do MVOP, há exatos 10 anos.

Em 1945, a IFOCS se transforma em DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) e a Comissão de Serviços Complementares passa a se denominar Serviço Agroindustrial, com sede em Fortaleza, permanecendo sob o comando do Dr. Guimarães Duque.

O sertão nordestino passou uma longa temporada sem secas, sendo que o período de 1943 até 1952 apresentou invernos regulares em São Gonçalo, para a imensa satisfação da população sertaneja. Durante este período, o açude de São Gonçalo registrou sangria nos anos de 1945, 1947, 1948, 1949, 1950, 1951 e 1952.

No dia 2 de dezembro de 1945, ocorre a primeira eleição em São Gonçalo, com destaque para a disputa presidencial envolvendo o General Eurico Gaspar Dutra e o Brigadeiro Eduardo Gomes. Desde o início da manhã do domingo as pessoas transitam ansiosas pela Rua Dezesseis. Após a votação, os cabos eleitorais dos candidatos patrocinam um saboroso banquete para os eleitores são-gonçalenses.

Em 1947, ocorre uma grande sangria do açude, desta feita com uma forte intensidade de chuvas, que registraram 1.425 mm, com uma lâmina de sangria de 96 cm, elevando o nível do reservatório para 52,3 milhões de m3. Esta sangria, considerada a maior da história até o ano de 1974, foi marcada pela grande produção de pirarucu, sendo que muitos deles desceram pela sangria abaixo nas correntezas do Rio Piranhas, proporcionando mais uma exuberância da natureza, para delírio dos curiosos e pescadores. O peixe é originário da bacia amazônica, mas foi introduzido em São Gonçalo e Coremas quando da visita do Presidente Getúlio Vargas no ano de 1940.

Embora o ano de 1951 tenha sido virtuoso para São Gonçalo, parte do sertão fora atingido por uma grave seca. Para o seu enfrentamento, que atingiu grande parte do polígono das secas, o DNOCS empregou 53.000 pessoas nas construções de obras públicas e cerca de 100.000 operários nordestinos nos Postos Agrícolas e Açudes Públicos, tendo os trabalhos de emergência continuados até o ano de 1953, face aos invernos irregulares.

Grande seca atinge o Nordeste no ano de 1953, com pluviometria de 563 mm em São Gonçalo. Todavia, o acampamento já possui 4.000 hectares de terras irrigáveis, com forte predominância da cultura do arroz.

São Gonçalo continuava prosperando, tornando-se um modelo de administração para o Nordeste. Carneiro (2002), ao se referir à localidade das décadas de 1940 a 1960, informa que:

Naquela época, trabalhar na IFOCS, atual DNOCS, como técnico de nível superior e morar em São Gonçalo, ou em Coremas, onde se achava em construção o grande Açude de Coremas, atualmente denominado Açude Estevam Marinho, era um privilégio, pois nos Acampamentos Federais da então IFOCS, a qualidade de vida dos seus servidores, particularmente dos técnicos, era muito boa, já que existia energia elétrica e água encanada, hospitais, grupos escolares, quadras de esporte, enfim, comodidades não existentes nas localidades do sertão nordestino.

Numa tarde animada, em meados de fevereiro de 1956, em plena folia carnavalesca, uma tragédia estremece o acampamento. O médico da Inspetoria local, Dr. Joaquim Mendes Filho, comete suicídio, depois de um plantão matutino normal de trabalho no hospital. O fatídico episódio, presenciado pelo jovem Zé Bento, que fez o possível para impedir a tragédia, aconteceu no “Tripa Hotel”. Desta feita, em decorrência da cumplicidade do álcool com transtornos súbitos, o Dr. Joaquim padecia, sem motivos aparentes, vítima de suas próprias mãos e de sua vontade. Ao mesmo tempo, São Gonçalo retirava a máscara colorida da alegria para vestir a fantasia negra da tristeza. Terminava, assim, abruptamente, um dos carnavais mais tristes da história da localidade.

Em virtude da grande seca de 1958, o Presidente da Juscelino Kubitschek instituiu a Comissão de Assistência às Vítimas da Seca, presidida pelo Ministro da Viação e Obras Públicas, Almirante Lúcio Meira. No dia 28 de novembro de 1958, o Ministro Lúcio Meira visitou São Gonçalo, onde havia diversas frentes de emergência trabalhando. Na companhia do ministro destaca-se a presença do Agrônomo Inácio Ellery Barreira, Chefe Adjunto do Serviço Agroindustrial do DNOCS em Fortaleza.

No final da década de 1950, o açude registra pequenas sangrias nos anos de 1957 e 1959, enquanto que a década de 1960 foi marcada por sangrias nos anos de 1960, 1961, 1962, 1963, 1964, 1965 e 1968.

No ano de 1964, ocorre o ingresso de vários técnicos nos quadros do DNOCS em São Gonçalo, sendo a maioria deles jovens recém-formados e solteiros. Os técnicos solteiros passam a residir nos apartamentos do DNOCS, enquanto que os casados são alojados em residências do acampamento.

Uma grande sangria e enchente atingem o acampamento e sítios vizinhos no ano de 1963, em que o Rio Piranhas ainda era bastante raso e estreito, ocasionando prejuízos às comunidades. Chove no ano 1.320 mm. O açude alcançou uma lâmina de sangria de 85 cm. A cheia acarretou a morte de uma pessoa sitiante, haja vista o pânico de uma inundação maior ou até mesmo do arrombamento do açude de Boqueirão. A cidade de Sousa também foi atingida pela forte cheia, ocasionada pela forte elevação do nível das águas do Rio do Peixe.

No ano seguinte, novo inverno alcança São Gonçalo, com índice pluviométrico de 1.065 mm. Neste ano de 1964, São Gonçalo foi vitimado por um crime bárbaro, que abalou a sua estrutura funcional e emocional. O Dr. Hugo Romero, agrônomo recém-formado e recém-contratado pelo DNOCS de São Gonçalo, foi brutalmente assassinado no Hotel Catete, ao acordar na manhã do dia 29 de junho, pelo comerciante local conhecido como Galego Estrela. O assassinato se deu face à pequena discussão ocorrida no dia anterior entre os dois nas dependências do Ceres Clube. O crime foi praticado com um revólver calibre 38, no salão do Catete, sendo que um dos três tiros foi disparado à queima roupa. Na época do crime, o Hotel era administrado por Libério Pereira.

A comoção em São Gonçalo foi intensa, haja vista que o jovem Hugo Romero era muito querido por todos, pois além de trabalhar no DNOCS era professor de História do Colégio Guimarães Duque e membro da diretoria do Ceres clube.

Depois deste acontecimento, a chefia do DNOCS agiu de forma enérgica, determinando a retirada de todos os pontos comerciais, que se localizavam na Rua Estevam Marinho, haja vista o assassino exercer o comércio no local.

Após o fechamento do comércio em São Gonçalo, começam várias construções, como: as casas da Rua Estevam Marinho e da Rua Hugo Romero; o açougue; o matadouro; e a nova cadeia.

No ano de 1967, notadamente no trimestre de abril/maio/junho, mais um temível inverno assola a região, causando medo e apreensão nos habitantes do acampamento e nas comunidades ribeirinhas do Piranhas-Açu, devido à forte sangria do açude. Em São Gonçalo a estação meteorológica registra um índice pluviométrico no ano de 1.360 mm.

Em 1968 o açude sangra com uma lâmina de 90 cm, a maior da década, com o reservatório atingindo 51,8 milhões de m3. No dia 30 de dezembro, o DNOCS firmou contrato de prestação de serviços técnicos especializados com a empresa de Engenharia Hidroservice, para a realização de estudos de planejamento e a elaboração de projetos, assistência e consultoria técnica necessários ao desenvolvimento da bacia do Rio Piranhas, na Paraíba e no Rio Grande do Norte, como a recuperação hidroagrícola da bacia de irrigação do açude de São Gonçalo, inclusive com levantamento de reconhecimento dos solos das áreas irrigadas.

Os serviços técnicos objetivaram propiciar as condições necessárias para a implantação do Perímetro Irrigado de São Gonçalo na década de 1970, com vistas à modernização e desenvolvimento do setor agrícola.

No ano de 1970, o 1º Batalhão de Engenharia de Construção (1º BEC), Organização Militar da Arma de Engenharia de Construção do Exército Brasileiro, sediado na cidade de Caicó-RN, que realizava serviços de asfaltamento da BR-230, no trecho que interliga Sousa a Cajazeiras, prestou auxílio às vítimas da seca do ano em São Gonçalo, mediante assistência alimentar, com o fornecimento de leite e pão, através de um caminhão do batalhão que ficava estacionado em frente ao Ceres Clube.

No mesmo ano (1970), ocorre a instalação da televisão na praça central, cujo canal disponível era a extinta TV Tupi de São Paulo, mediante sinal de transmissão instalado no topo da serra, conhecido como repetidora. A novidade atraía um grande contingente de pessoas todas as noites para a praça.

A década de 1970 registra sangrias no açude nos anos de 1971, 1973, 1974, 1975, 1976, 1977 e 1978.

Após a grande seca de 1970, o DNOCS implanta em 1971 o Programa de Irrigação do Nordeste (PIN), em que passa a concentrar esforços na elaboração de estudos voltados para a exploração e aproveitamento dos recursos hídricos e pedagógicos (CARNEIRO, 1999). A partir daí, inicia-se o processo de implantação do Perímetro Irrigado de São Gonçalo, com a construção dos Núcleos Habitacionais I, II e III, cujas obras ficam a cargo da Construtora Moveterras, sob a supervisão direta do DNOCS.

São Gonçalo passa novamente por um ritmo intenso de desapropriação e de obras, com assentamento de pessoas da própria região e advindas de vários lugares, de maneira semelhante ao que ocorrera nas décadas de 1920 e 1930.

De forma concomitante, ocorreu o alargamento e o aprofundamento do curso do Rio Piranhas em São Gonçalo, a partir da localização da caixa d’água, próximo à ponte de tábua. Na lateral em que o rio era margeado por pedreiras houve a utilização de explosivos para conseguir a escavação.

Foram construídas as pontes do Posto de Agronomia e a ponte do Núcleo II, bem como as duas estradas à margem do rio, no sentido oeste-leste, a partir da ponte de tábua. A estrada antiga que existia interligava a atual casa de Zé Gomes à estrada que liga o Posto de Agronomia ao Núcleo I.

A partir do ano de 1972, na gestão do Chefe do PISG Dr. Zenon Alencar Oliveira, o DNOCS determinou a expulsão dos moradores particulares residente nas áreas do acampamento federal. Após a desocupação, as casas, em sua maioria de taipas, eram destruídas pelas potentes máquinas do DNOCS, como o trator de esteira D8. A rígida norma administrativa também se aplicava aos funcionários que se aposentavam, bem como aqueles que se encontravam em disponibilidade, sendo estes obrigados a desocupar as casas para que servidores em atividade pudessem ocupá-las. O DNOCS enviava cartas determinando a desocupação imediata do imóvel, porém algumas pessoas recebiam a notificação, mas não saiam das casas. Em alguns casos o DNOCS ameaçava com o corte de água e energia elétrica da residência, bem como com ameaças de demolição da mesma. A determinação era extensiva às viúvas (pensionistas) de funcionários falecidos do DNOCS.

No ano de 1973, ocorre a instalação do Perímetro Irrigado de São Gonçalo (PISG), que passa a ser constituído pelo centro urbano e mais três agrovilas produtivas, localizadas nas várzeas do acampamento. É criada a Cooperativa Mista dos Irrigantes da Paraíba, com o objetivo de apoiar os irrigantes em todas as etapas do processo produtivo.

No ano de 1974, mais uma grande enchente atinge São Gonçalo, porém, desta vez como o Rio Piranhas já havia sido alargado e aprofundado, os efeitos à população foram bastante amenizados. Houve uma grande produção de peixes no açude e no rio, inclusive do pirarucu, um dos maiores peixes de água doce fluviais do país. Em São Gonçalo choveu 1.598 mm. Este nível pluviométrico acarretou a sangria do açude com uma lâmina de 1,15 m e a elevação do reservatório para 53,9 milhões de m3.

Durante esta sangria de 1974, no dia 3 de março, mais um acontecimento trágico enluta o acampamento. O jovem Chico Clementino, de 26 anos de idade, filho de Seu Manoel Clementino e Dona Toinha Elóia, casado com Neide de Seu Zé Arsênio, sofre um acidente fatal durante um banho nas proximidades do sangradouro. Chico, que se encontrava tomando banho alegremente nas águas do açude junto a seus amigos, deitado e boiando muito à vontade por sobre uma enorme câmara de ar, por instantes, perde completamente a noção do perigo. Por um descuido, é conduzido rapidamente pela correnteza em direção ao sangradouro. Ao presenciarem a cena, as pessoas gritam desesperadas, ao passo que Chico tenta retornar ao leito ou à margem açude, mas acaba sendo vencido pela força descomunal da natureza. Ele e a câmara de ar, agora separados, são rapidamente engolidos pelo sangradouro. O seu corpo é arrastado ferozmente pela sangria, sendo resgatado apenas nas proximidades da ponte de tábua, inerte, sem vida. O episódio acarreta uma grande consternação tanto nos familiares quanto no acampamento. Anos antes, Chico havia cursado o ginásio no Colégio Guimarães Duque, tendo como colega de classe Zé Tarzan, além de outros, que ficaram chocados com a fatalidade.

Por volta do ano de 1975, a SUDENE, o DNOCS e a EMBRAPA-CPATSA firmam convênio com objetivo de execução, pela EMBRAPA, de um programa de pesquisa e experimentação agropecuária e de solo e água, em perímetros irrigados do DNOCS. Desta feita, nos anos de 1976 e 1977 o CPATSA/EMBRAPA realizou um estudo/diagnóstico da situação de salinidade e sodicidade da área em operação do Projeto de Irrigação de São Gonçalo. Em 1980, a execução dos trabalhos experimentais de levantamento das condições de salinidade do PISG foram transferidos para a EMEPA.

Em 1977, ocorreu nova sangria do açude, devido às fortes chuvas que registraram no ano 1.394 mm. Neste ano o Governo Federal instituiu o Projeto Sertanejo, sob a execução do DNOCS e supervisão da SUDENE, cuja finalidade era fortalecer a economia do semiárido através da intensificação da agricultura irrigada, incremento no potencial hídrico, conservação e recuperação do solo, da capacitação dos agricultores na utilização mais racional dos recursos naturais disponíveis em suas propriedades agrícolas, com vistas a tornar a região menos vulnerável às secas, além de outras medidas.

O programa foi extinto na década de 1980 pelo Governo Federal, sem que o mesmo tenha tomado qualquer medida eficaz, capaz de ocupar a lacuna criada com o ato de sua extinção. Neste sentido, as ações resultantes da assistência técnica, do crédito rural e da difusão dos resultados, existente no Projeto Sertanejo, foram desarticuladas.

O período de 1979 a 1983 foi marcado por uma seca que castigou todo o sertão nordestino. Mesmo assim, o reservatório de São Gonçalo, apesar de alcançar níveis baixíssimos ao longo destes anos, registrou pequenas sangrias nos anos de 1980 e 1981. Somente a partir do ano de 1984, volta a ocorrer a normalidade pluviométrica na região, que em São Gonçalo alcançou 922 mm.

No ano de 1985, ocorreu uma das maiores enchentes de São Gonçalo, em que a água atingiu o nível do patamar da ponte de tábua. Mais uma vez ocorreu a abundância na produção de peixes de várias espécies, a exemplo do piau, corró, piaba, tucunaré, traíra, além de um pirarucu pesando mais de 100 quilos e de mais de um metro de comprimento, que foi pescado nas proximidades do Núcleo II. A cheia acarretou a desocupação de várias residências de São Gonçalo, onde os moradores, temendo as piores consequências, deslocaram-se para outras localidades mais altas como a Rua do Túnel e Rua do Alto, além de Marizópolis.

A magnitude desta sangria, que alcançou a marca recorde de 1,85 m, destruiu a histórica ponte de ferro, que fora construída na década de 1930 e servia de atalho da Rua do Túnel para o restante do acampamento. A força da sangria causou uma imensa cratera nas pedreiras que se localizam no início do sangradouro, demonstrando, assim, a ferocidade e a força incivil da natureza. O ano registrou 1.675 mm de chuvas em São Gonçalo, que mantiveram a sangria no período de 18 de fevereiro a 26 de junho.

Durante a década de 1980, o açude ainda registrou pequenas sangrias nos anos de 1986, 1988 e 1989.

Depois de sete anos, o açude volta a transbordar novamente no ano de 1996, para alegria e encanto de uma geração de pré-adolescentes que ainda não conhecia este espetáculo. A elevação do nível do açude teve também forte contribuição das chuvas do ano anterior, que somaram em torno de 1.000 mm, enquanto que as boas chuvas do ano de 1996 alcançaram o patamar de 1.164 mm.

O ano de 1998 foi marcado por uma grande seca (associada ao fenômeno El Niño de maior intensidade no século XX) no sertão do Nordeste. Na região de São Gonçalo, as escassas chuvas registraram apenas 411 mm, menor índice apontado no período de 1939 a 2012.

Os anos de 2000 e 2002 foram marcados por elevados níveis pluviométricos, 1.100 mm e 1.053 mm, respectivamente, que contribuíram para a elevação do nível dos reservatórios na região, todavia, não foram suficientes para ocasionar a sangria do açude de São Gonçalo.

No ano de 2004, o açude veio a sangrar na manhã do dia 4 de março (quinta-feira), depois de oito anos, visto que a última sangria ocorrera em 1996, porém de forma amena, como naquele ano, não chegando a ocasionar maiores preocupações à população. Contudo, ainda houve o registro de uma morte de um estudante de Sousa, no dia 6 de março, que nadava próximo ao sangradouro e fora arrastado pela forte correnteza. O corpo do rapaz somente foi encontrado no dia seguinte pela manhã.

De acordo com dados da Rede do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), o ano registrou um índice pluviométrico de 1.045 mm.

No dia 9 de dezembro de 2005, no período da tarde, o governador da Paraíba Cássio Cunha Lima, acompanhado do Senador Efraim Morais e outras autoridades, efetuou uma visita ao perímetro de São Gonçalo, onde inaugurou uma unidade de irrigação através do “Programa Tarifa Verde”, que proporciona a redução de preços nas contas da energia elétrica utilizada em planos de irrigação. No final da tarde, o governador compareceu ao Campus da Escola Agrotécnica Federal de Sousa, onde foi homenageado pelo Diretor-Geral, Professor Francisco Tomaz, servidores e alunos pelo empenho do governo do estado na construção da pavimentação asfáltica da via de acesso à instituição de ensino.

No dia 23 de abril de 2006, o açude começou a sangrar, devido às boas chuvas dos meses anteriores. A sangria atraiu inúmeros curiosos e banhistas para São Gonçalo, como também aqueceu o comércio local, embora existisse determinação por parte do DNOCS e da Polícia Militar no sentido da proibição do banho no açude, haja vista o histórico de acidentes com banhistas no local.

Naquele dia à noite, um enorme alarme falso de que o açude de Boqueirão havia arrombado causou tormentos à população. Houve uma correria generalizada em São Gonçalo, uma grande comoção, tumulto, desespero, muitas pessoas pegando malas, carros, motos e outros objetos de valor que pudessem salvar da inundação. Mais uma vez o destino eram as ruas mais altas bem como a cidade de Marizópolis. O boato parecia tão verdadeiro que chegou a causar um grande alvoroço também em Sousa. Todavia, alguns moradores não acreditaram na notícia e optaram por não abandonar as suas casas, visto que não havia uma confirmação oficial do fato. Houve ainda o registro da morte de uma pessoa no Núcleo II, face à grande apreensão de que foi acometida. As notícias de cheias envolvendo Boqueirão sempre têm causado transtornos à população de São Gonçalo e de Sousa. Contudo, depois de algumas horas de pânico, chega o desmentido de Boqueirão, de que o açude se apresentava na mais tranquila normalidade e que tudo não passava de uma notícia falsa. No ano, o INMET registrou 1.200 mm de chuvas no perímetro.

No dia 13 de março de 2008, o Ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, e o Diretor-Geral do DNOCS, Elias Fernandes, inauguraram a Estação de Piscicultura Joaquim Firmino Filho , localizada na medidora. O evento contou também, com as presenças do governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima, parlamentares, demais autoridades, técnicos e a população da região. Após a inauguração oficial, o ministro e sua comitiva participaram de uma palestra e um almoço no Hotel Catete.

Fortíssima cheia marca o ano de 2008, em que o açude começa a sangrar logo no dia 22 de março. Mais uma vez a história se repete, com a retirada do pessoal de suas casas e a água invadindo diversas ruas. O Túnel das Tamarineiras ficou alagado e interditado por alguns dias, impedindo a passagens de veículos para a Rua do Posto e Núcleos Habitacionais. As aulas da Escola Agrotécnica foram suspensas. A força da água chegou a interditar provisoriamente a ponte nova, e quase acarreta a derrubada da ponte de tábua. Houve uma grande mobilização da Prefeitura de Sousa, do DNOCS e da população para conter os avanços das águas.

A enchente também causou grandes transtornos à cidade de Sousa, em que o próprio Rio Piranhas adentrou no Bairro Mutirão, enquanto que o Rio do Peixe invadiu os bairros Guanabara e Várzea da Cruz, causando grande calamidade às populações ribeirinhas. Neste ano, o INMET registra o maior índice pluviométrico da história, com impressionantes 1.877 mm de chuva.

No ano de 2009, ocorre mais uma sangria do açude, desta feita de proporções bem inferiores à sangria anterior. O espetáculo majestoso da natureza começou a encantar os sertanejos na manhã do dia 22 de abril, com uma lâmina inicial de 2 centímetros. O açude de Coremas também começou a sangrar apenas dois dias depois. Neste ano, choveu 1.411 mm na região de São Gonçalo.

Neste mesmo ano, a Escola Agrotécnica Federal de Sousa, em parceria com o CEFET-PB, transforma-se em Instituto Federal da Paraíba e instala o primeiro curso superior de São Gonçalo (Tecnologia em Agroecologia).

No ano de 2011, o açude atingiu a sua capacidade máxima, vindo a sangrar logo no dia 17 de fevereiro. Como de costume, o espetáculo das águas atraiu milhares de pessoas para observar a maravilha da natureza. Agentes do corpo de bombeiros e da polícia militar fizeram plantão no local, orientando para que banhistas não se arriscassem na sangria do açude. Durante todo o ano choveu 1.347 mm no acampamento.

Na madrugada do dia 17 de março de 2020, após nove anos, o açude de São Gonçalo volta a sangrar.