SONHOS COLORIDOS

SONHOS COLORIDOS

O sonho é um fenômeno pouco explicado até hoje. Mesmo assim, como é bom sonhar! Os gregos diziam, na poesia de Homero, que onirón (o sonho) “... vêm de Deus”. A verdade é que os nossos sonhos são uma boa parte de nossa vida. Nesses instantes é que somos nós mesmos, desde, é claro, que seja um sonho bom. O sonho é caracterizado por um enfraquecimento do tônus muscular e do nível mental ao mesmo tempo que pela produção de fenômenos psíquicos a consciência ainda recorda ao despertar. A atividade onírica, dizem os psiquiatras, como sinal de boa saúde mental, deve ocupar vinte a trinta por cento do período de sono. Diz o poeta Ruben Dario que “Quando há uma doce tristeza, dorme-se e os sonhos são rosados. Quando se desperta, sorri-se à lembrança das delícias vistas em repouso. Imediatamente franze-se o sobrolho, e anuvia-se o rosto” está-se ao lado da realidade; os sonhos foram sonhos, nada mais”. Pois foi isso, mais ou menos que aconteceu comigo. Ontem à tarde eu fazia algo que não costumo fazer: tirava uma sesta. Lá pelas três da tarde tocou o telefone. Era alguém me convidando para uma reunião que eu não tinha vontade de ir. Cortou o sonho. Passei a tarde mal-humorado pela ruptura. Não recordo o quê, mas sei que o sonho era bom e a interrupção um contratempo. E lembrei-me de Anatole France: “Se tivéssemos que destruir todos os sonhos e visões dos homens, a terra perderia suas formas e cores, e nós adormeceríamos num triste embrutecimento”. O fato é que depois de um bom sonho a gente desperta um pouco frustrado, porque sonhou. Rabindranath Tagore afirma que o Impossível vive nos sonhos dos homens. O sonho é, deste modo, algo simbólico mas tendente à realidade, pelo menos à realidade desejada. Ao afirmar que “o sonho é o guardião do sono” S. Freud ressalta a necessidade de distinguir, no sonho, o conteúdo manifesto e o conteúdo latente. O primeiro corresponde à narrativa que o sonhador fará ao despertar. O segundo, ao sentido que os elementos oníricos têm para o inconsciente, aquém do disfarce. Sonhar é tomar emprestado resíduos da vida, desejos e expectativas, deslocando-os para o inconsciente, numa representação semelhante ao real, divertida ou insólita. Os sonhos são uma pintura muda, em que a imaginação, a portas fechadas, retrata a vida e a alma de cada um. O caso é que sonhava, fui despertado e acordei triste por não lembrar o sonho que tive. Nessa frustração, recordo as palavras do rabino Amiel: “O sonho é o domingo do pensamento” 

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