AS PENEIRAS DE SÓCRATES

AS PENEIRAS DE SÓCRATES

Mal comparando, o filósofo Sócrates (+399 a.C.) foi como Jesus Cristo; nunca escreveu nada. Suas máximas morais, parábolas e apologias foram todas elas relatadas por seus discípulos, entre eles, o mais célebre, Platão. Como as narrativas evangélicas, muitas das gnomas socráticas se explicam por si. Contam que certa vez, um jovem chegou-se ao filósofo, com a intenção de contar-lhe uma “novidade” sobre determinada pessoa. Seria, na linguagem atual, uma fofoca. O sábio olhou para o jovem e perguntou-lhe: “Passaste o assunto pelas três peneiras?”. Como o rapaz não soubesse do que se tratava, disse-lhe Sócrates: “A primeira peneira é a verdade. Sempre que fores dar seqüência a um assunto, questiona sempre: ‘é verdadeiro?’”. O aluno se atrapalhou, gaguejando: “não sei... ouvi dizer...”. “A segunda peneira - disse o filósofo - chama-se bondade. Mesmo que não seja verdade, deves submeter-lhe o assunto: ‘é uma coisa boa?’”. De novo o rapaz titubeou: “Acho que não... pelo contrário...”. O mestre prosseguiu: “À terceira peneira chamamos utilidade. O que queres me contar é útil para alguém?”. O discípulo baixou a cabeço e respondeu envergonhado: “Não, mestre, não é...”. Então o sábio grego concluiu: “Ora, se não é verdadeiro , não é bom nem tampouco útil, por que vamos perder tempo com essa conversa tola? Prefiro não saber, e aconselho-te que esqueças...”.

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Um sábio, desses tantos racionalistas que se encontra por aí, queria provar, a um homem do campo, que Deus não existia, pois nem era mais necessário para a vida humana, afinal - disse - a tecnologia tem inventos para tudo. O campesino pensou nas palavras do mestre e disse: “De fato, vi uma máquina admirável. De um lado se colocava capim, e do outro já dava um balde de leite”. O intelectual exultou, triunfante: “Viu só!”. O colono completou: “Só que essa máquina não foi criada pela sua ciência. Ela se chama vaca”.

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Por falar em vaca, a última, embora um excerto da filosofia popular, é cruel. Encontrei-a num pára-choque de caminhão paulista, semana passada, indo para a serra. Ri tanto que quase saí da estrada: “O brabo não é levar chifre, mas sustentar a vaca”