DESTINO LUNAR

Pior que não saber aonde anda com a cabeça é descobrir que vive no mundo da lua. Numa lua quatrifásica de brilho alheio que me leva a caminhar sozinho, descalço entre pedras afiadas e espinhos cortantes, em busca de um mundo de luz para eu me livrar do escuro hospedado em meu olhar sombrio. Assim, meu caminhar é um eterno andar errado pelo lado oposto da estrada perdida num infinito deserto lunar.

Preferia estar viajando, sem direção, num asteroide vindo do nada, sem tempo para chegar a lugar nenhuma ter sido condenado a viver fluentemente solitário num satélite sem luz, dependente da luz solar. Preferia viver numa estrela iluminando o desejo ou plantar meus pés e pensamentos num planeta de terra firme, mas é uma condenação justa, pois, acho que não fiz nada, e se pouco fiz tudo o que fiz nada valeu. É uma ilusão achar que um dia eu posso me encontrar, tenho mesmo é que ficar aqui afogado em minha solidão, feito um lunático destinado a olhar as cicatrizes do que não aconteceu...

Minha lua movimenta em rotação, enquanto meus pensamentos também pairam em torno do meu próprio eu. Queria causar uma revolução lunar ao redor de um planeta terrestre, mas o que me resta é jazer o satélite de fases, enquanto ele gira ao redor da grande esfera luminosa, junto a um planeta.

Minha lua sempre, sempre assume diferentes posições em busca de luz e eu continuo monofásico, feito um lunático desencontrado, num espaço perdido. Se a lua se renova, na lua nova eu vivo escondido; se a lua se mostra crescente, eu me sinto diminuído; se a lua se enche de brilho, nessa lua cheia eu me escondo no escuro; se a lua se reduz para que eu apareça, nessa lua minguante eu me reduzo às cinzas; e se lua, estrela solar e planeta terrestre se alinham para uma relação fenomenal, eu me transformo em eclipse, porque não me permitem viver em rotatividade. Sei que se eu tiver que ser feliz será em outra dimensão.

Queria mesmo era evaporar-me desse lado obscuro da lua à procura de um lugar seguro, ainda que fosse levado ao nada, por um raio que viesse apagando tudo o que já não se acende mais, como se fosse uma neblina no vento, deixando todo o mundo em embaraços, mas meu destino é perpétuo, meu lugar é aqui no mundo da lua.

Gilson Vasco
Enviado por Gilson Vasco em 12/12/2018
Código do texto: T6525320
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