O herói épico e as lições de vida em Beowulf*

O herói épico é o protagonista virtuoso, que tem honra, coragem, bravura. Suas lutas são por causas justas e nobres e sempre visando o bem geral da humanidade. Geralmente tem uma origem nobre, mas sua imponência não advém exclusivamente por sua origem nobre, e sim por suas virtudes, bravura, a luta destemida. Não chega a ser exatamente divino, mas possui características que o assemelham a seres sobrenaturais ou superiores ao simples mortais. Esse aspecto meio divino advém da capacidade de lutar contra seres sobrenaturais, onde a sua força precisar ser superior às forças do mal para derrotá-lo.

Essas características é o que podemos observar em Beowulf, poema épico escrito em língua anglo-saxã, por autor desconhecido, por volta do século VIII, na região onde hoje fica a Inglaterra e descreve a bravura de um típico herói épico de origem escandinava. Beowulf, o herói que, com sua excepcional força e coragem, livra os dinamarqueses da ameaça do monstro Grendel e de sua mãe, que tenta se vingar da morte do filho, e da posterior batalha contra o dragão.

O primeiro combate de Beowulf é contra o monstro Grendel, uma criatura monstruosa que devora homens inteiros e é descrita como descendente de Cain, representando o símbolo do mal dentro de um contexto religioso, uma mostra da chegada do Cristianismo em terras britânicas. O herói Beowulf luta com o monstro usando apenas as suas próprias mãos, isso mostra o tamanho de sua coragem ao enfrentar o mostro sem armas. O fato de lutar contra um monstro sem armas representa que o poder de superação está no próprio guerreiro em usar sua força e sua coragem como armas principais, ou únicas.

Em seguida, a mãe de Grendel tenta vingar a morte do filho. A mãe do monstro representa a origem do mal. Não adianta somente vencer o mal, é preciso destruir suas origens, suas raízes. Ela também é uma criatura monstruosa e apavora os guerreiros com uma nova carnificina. Beowulf segue o rastro do monstro até uma caverna submarina onde a destrói com uma espada criada para matar gigantes. Essa espada representa as forças sobrenaturais das quais o herói se utiliza para, juntamente com sua força e coragem, derrotar definitivamente as forças do mal.

Após essa série de batalhas vitoriosas, a glória do herói épico se dá ao assumir o reinado de seu povo. O tempo passa e tudo seguia bem por cinquenta anos até que um novo ser sobrenatural volta a atacar o seu povo e novamente o rei-herói tem que lutar contra as forças do mal, mesmo em avançada idade. Isso mostra que a coragem de um herói épico não diminui com o avançar da idade. A virtude de um herói o acompanha por toda a vida.

O rei procura ajuda de guerreiros do seu reino mas todos fogem do monstro. Apenas um guerreiro iniciante tem a audácia de enfrentar o monstro ao lado do herói. Beowulf, munido com sua espada e seu escudo, adentra na caverna do dragão e luta ferozmente contra o dragão, ferindo-o. Porém, ao cair, o dragão acaba atingindo Beowulf que morre mas deixa o seu legado para aquele destemido guerreiro, que mesmo sendo iniciante, não hesitou em lutar ao seu lado, mostrando o lado do companheirismo, da lealdade e mais uma vez, de que a idade não importa e sim o tamanho da coragem em não fugir da batalha. Essa atitude do jovem guerreiro faz por merecer que ele siga o legado do rei Beowulf e continue a defender o seu reinado.

Podemos perceber ao longo de toda a história a importância de lutar com coragem em prol dos seus ideais mesmo que os obstáculos pareçam intransponíveis. A coragem é a chave para vencer os temíveis adversários. Ao final, na última batalha, podemos perceber o significado da lealdade, onde o jovem guerreiro luta a lado de seu rei e fazendo por merecer, à título de sua lealdade, a herança de seu legado.

*Texto usado originalmente como atividade da disciplina de Literatura Inglesa I, do curso Letras Inglês, da Universidade Federal do Piauí. Proibida qualquer cópia sem a devida autorização expressa do autor tendo em vista que o texto faz parte de estudos acadêmicos.