ANÁLISE LITERÁRIA DO POEMA MAR PORTUGUÊS DE FERNANDO PESSOA

Mar português

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo, e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu. (Fernando Pessoa)

ANÁLISE LITERÁRIA DO POEMA

Diz Fernando Pessoa em seu poema Mar português nos segundo e terceiro versos (cada linha gráfica do poema) da primeira estrofe (conjunto de versos):

- “Ó mar salgado, quanto do teu sal/ São lágrimas de Portugal!”

Em outras palavras, quantas lágrimas foram derramadas para que fosse conquistado o Mar português, também chamado de Tenebroso, em virtude de muitas lendas e histórias contadas pelos marinheiros; e assim, tornar-se o “quintal” da nação portuguesa.

No desenvolvimento do poema o Autor desfia um rosário de sentimentos e dores provocados pelos cruzados (no caso navegadores, marinheiros e tripulações); cita as mães que ficaram a chorar por seus filhos engolidos pelo Mar Tenebroso, os filhos que rezaram em vão por seus pais perdidos, as que na ausência dos noivos, ficaram sem casar.

Mesmo assim, os portugueses tornaram-se senhores do mar e do além-mar também, construindo um império de primeira grandeza (África, Ásia, Oceania e América) e tudo isso, previsto no “refrão” do sétimo verso:

- “Para que fosse nosso, ó mar!”.

O questionamento do Poeta, depois de tanto sofrimento:

- Valeu a pena?

A resposta afirmativa e edificante:

- “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

A lembrança da vitória ao desafio histórico, vencido por Eanes, sobre o Bojador (1454):

- “Quem quer passar além do Bojador/ Tem que passar além da dor!”

Ou seja, para vencer os desafios impostos pela vida devemos vencer grandes sofrimentos, no caso, a nação portuguesa para vencer o Oceano (Atlântico) foi necessário superar muitas dores.

No majestoso final...

Com a lembrança dos perigos do Mar...

A contradição do perigoso abismo...

Espelhar a beleza do Céu.

In.: SÊNIOR, Augusto de. "DESCOBRIMENTO" DO BRASIL: PLANEJADO OU CASUAL? SP: Clube de Autores/Agbook, 2019.