"DESCOBRIMENTO" DO BRASIL: PLANEJADO OU CASUAL? - PÓS-ESCRITO

PÓS-ESCRITO

Chegando ao final do artigo, nossa vontade é ter contribuído, de alguma maneira útil para o esclarecimento da questão crucial, isto é, o Brasil (com seus variados nomes até chegar aos dias atuais: primeiro Ilha de Vera Cruz – porque os navegantes e marinheiros portugueses pensaram tratar-se a terra de uma ilha; em seguida, Terra de Santa Cruz e, finalmente, Brasil em virtude da madeira vermelha – pau-brasil – em relação aos portugueses; e, para os índios, Pindorama, ou seja, terra de papagaios), foi “descoberto” de modo Planejado, ou pelo modo Casual.

Nossa opinião, origem deste pequeno livro, é de que os portugueses sabiam da existência de terras além-mar, ou seja, a Oeste de Cabo Verde no Oceano Atlântico (na época, em virtude de muitas lendas e histórias assombrosas ou contos de pescadores conhecido como Mar Tenebroso), e apresentamos dez, entre muitos outros, conhecidos argumentos para uma tentativa de transformação de nossos argumentos em tese, ou seja, afirmação, elencando e desenvolvendo estes fatores para provar que o “Descobrimento” foi um ato Planejado ao longo do séculos XV e XVI e não Casual.

São estes os dez argumentos formadores da nossa teoria:

1. NAVEGAR É PRECISO, VIVER NÃO É PRECISO

Apresentando influência psicológica e moral direta para os atos de navegação, isto é, devassar os Oceanos (Atlântico, Índico e Pacífico entre outros) e “descobrir” (encontrar) novas terras, lema atemporal e implícito no DNA daquela sociedade.

Ou seja, para aquela sociedade, acertadamente, o Mar, origem do lema, é benesse e como disse Fernando Pessoa: O Mar é de quem sabe amar..., e navegar. Para os portugueses, não somente era importante mas, era mais importante que o ato de viver (respirar, andar, namorar, trabalhar, pensar, estudar...) e assim, essa paixão pelos oceanos, essa vontade de navegar; vai determinar e construir todo o avanço marítimo-tecnológico português registrado na História e gerar uma série de importantes “descobrimentos”: Ceuta (1415), a travessia do Cabo Bojador – antigo Cabo das Tormentas, o Caminho Marítimo para as índias (1498), Brasil (1500) entre outros tantos.

O lema em Portugal funciona diretamente na raiz, isto é, traz, no seu interior, um conjunto de implicações que vão determinar e incidir, de forma direta sobre o estado psicológico daquela sociedade, praticamente instigando, impulsionando, “obrigando” a existência de uma “Ciência Náutica” (calcada na Geografia, Cartografia e Astronomia, isto é, acumulação de todos os conhecimentos marítimos pertinentes à época), e, logicamente, incidindo na prática da navegação, ou seja, navegar, navegar e navegar..., para descobrir..., é mais importante do que viver.

2. MITO DA ESCOLA DE SAGRES (1443)

“Fundada”, em tese, pelo Infante D. Henrique (1394-1460) em 1443, e exercendo firme influência na formação e no desenvolvimento (marítimo-mercantil) daquele povo de navegadores e marinheiros, e que, mesmo sem ter existência física, sem ter sido fundada, de fato e de direito, ou seja, o tão falado Instituto de Ensino, “localizado” na cidade de Sagres, não é mais do que uma lenda, uma ficção, uma fantasia, e mesmo assim influiu na história de Portugal e no avanço dos “Descobrimentos” e, por sua vez, imprimindo uma “vontade de navegar” para “descobrir” “novas terras”;

3. A “DESCOBERTA” DAS TERRAS AMERICANAS POR CRISTÓVÃO COLOMBO

1492: a façanha do navegador genovês que, com poucos recursos (três caravelas: Santa Maria, Pinta e Nina e uma pequena tripulação) surpreendeu Portugal e adicionou à Cartografia da época um novo continente (denominado América, em homenagem ao navegador florentino Américo Vespúcio, responsável pelo financiamento da viagem de Colombo e primeiro a observar que se tratava de um novo continente);

4. A BULA INTER COETERA (1493)

Decreto formulado pelo papa Alexandre VI, que determinava o seguinte: as terras encontradas a 100 léguas a Oeste de Cabo Verde pertenceriam à Espanha e as situadas a Leste seriam de Portugal;

5. O TRATADO DE TORDESILHAS (1494)

Assinado pelo rei de Portugal e pelos reis católicas da Espanha, aumentando a distância para 370 léguas;

6. 1498: A VIAGEM SECRETA: DUARTE PACHECO PEREIRA O herói esquecido e possível descobridor do Brasil em 1498. Podemos observar a cronologia de viagens de Duarte (estabelecida na biografia do inusitado português e exposta no site wikipédia) realmente está registrado uma viagem neste ano, assim o site mencionado registrou o fato:

1498: viagem ao Atlântico sul.

(In: da Mota, A. T. 1990. Duarte Pacheco Pereira, capitão e governador de S. Jorge da Mina. Mare Liberum, I: 1 – 27.)

7. A CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA (1500) – CERTIDÃO DE NASCIMENTO DO BRASIL

Escrita em 1º de maio de 1500 por Pero Vaz de Caminha (1451-1500).

8. A CARTA DE MESTRE JOÃO – JOÃO FARAS

Escrita em 1º de maio de 1500 por João Faras (Mestre João).

9. O PLANISFÉRIO DE CANTINHO (1502) É o mais impressionante dos argumentos, pois é uma carta náutica onde aparecem as terras americanas, até então, “desconhecidas”.

10. A RELAÇÃO DO PILOTO ANÔNIMO (1500)

Texto contemporâneo aos textos de Pero Vaz de Caminha e João Faras (Mestre João), também não demonstrações de surpresas com a terra recém-descoberta, sendo um forte indício, juntamente com os demais, na comprovação de nossas ideias aqui expostas.

Todos estes argumentos, em um total de dez – existem outros, mas os que estão aqui selecionados atingem o cerne e estão implícitos no teor, no desenvolvimento deste trabalho, e justificam nossas convicções respondendo à seguinte pergunta:

- O “Descobrimento” do Brasil foi Planejado ou Casual?

Com base nos argumentos podemos entender que o fato não se deu ao acaso, nem ocorreu em virtude de fenômenos naturais ou destemperos de marinheiros e tripulantes e também não ocorreu em um momento único – existindo o desenrolar de uma história marítimo-mercantil envolvendo, principalmente, dois séculos, repletos de aventuras nos Mares dantes nunca navegados, isto é, os séculos XV e o XVI.

Podemos contar essa História portuguesa a partir da formação, iniciada em 1139, com o estabelecimento das fronteiras em 1297, o nascimento do mito da Escola de Sagres em 1443, a crise proporcionada por Colombo em 1492, A Bula (Inter Coetera) do papa Alexandre VI em 1493, o Tratado de Tordesilhas (elaborado por D. João II, rei de Portugal) em 1494, a travessia Cabo Bojador – antigo Cabo das Tormentas, o Caminho Marítimo de Vasco da Gama em 1498, a viagem secreta do “herói esquecido” Duarte Pacheco Pereira, possível “descobridor” do Brasil em 1498 (realizada no mês de dezembro); todas essas aventuras culminarão no “Descobrimento “do Brasil pelo Almirante português Pedro Álvares Cabral.

Havia também as ordens secretas entregues ao comandante da esquadra pelo rei D. Manuel I que autorizavam o desvio de rota (no caso do Brasil) a Oeste de Cabo Verde para tomar “posse das’ novas terras” e somente depois deveria o Almirante português continuar a vigem para as Índias (Calecute).

Mediante aos dez fatores citados (Sagres, Cristóvão Colombo, a Bula papal Inter Coetera, o Tratado de Tordesilhas, o lema: Navegar é preciso, viver não é preciso; a viagem secreta de Duarte Pacheco Pereira, o herói esquecido e possível “descobridor” do Brasil em 1498; A Carta de Pero Vaz de Caminha escrita em 1500 e enviada ao rei de Portugal D. Manuel I – o Venturoso, a Carta de Mestre João – João Faras – datada de 1º de maio de 1500; o planisfério de Cantino – obtido por Alberto Cantino em 1502 em Lisboa, Portugal mas, há muito conhecido e a Relação do piloto anônimo – provavelmente, João de Sá, escrivão da nau capitânia da esquadra cabralina) podemos “afirmar” que havia entre os portugueses o conhecimento da existência de terras a Oeste de Cabo Verde (no Atlântico) e que, sendo assim, uma possível resposta para a questão em estudo seria:

O “Descobrimento” do Brasil ocorreu em virtude de um Planejamento que levou séculos para sua consolidação, sendo assim, não pode ter sido obra Casual.

O Estado português sabia da existência de terras além-mar e para isso ordenou que a esquadra, na altura do arquipélago de Cabo Verde, desviasse a rota, e com isso, Pedro Álvares Cabral (1467/1468-1520) chegou às as terras brasileiras em 22 de abril de 1500, domingo de Páscoa.

Rio, 11 de junho de 2019.

In.: SÊNIOR, Augusto de. "DESCOBRIMENTO" DO BRASIL: PLANEJADO OU CASUAL? SP: Clube de Autores/Agbook, 2019. p. 62.