RE-VISTA

Lendo online o exemplar da revista, percebo incontáveis razões para a que ela seja re-vista.

Os temas abordados fogem do contexto real, com os problemas e ameaças que sofremos no cotidiano. Discutir como agir diante deles faz parte do viver sem nos entregar, nem perder as esperanças de um mundo melhor.

A revista não mostra as nossas conquistas, nem o nosso lugar no mundo. Apenas revela a vida das celebridades, em versões assustadoras do Ser e o alto preço para viver. Como em Ferreira Gullar, “Não saiu notícia em jornal algum / Foi apenas a morte de um homem comum”.

Tão irreal que perco o fôlego ao pensar que as pessoas acreditam no que leem. Ferreira Gullar alerta, “E porque ninguém notificou o fato / fazemos aqui este breve relato”.

Vivemos tempos de turbulência, violência e desrespeito para com o próximo; como nos tranquilizar lendo que devemos confiar nas leis dos homens, que nem sempre são cumpridas pelas próprias autoridades? A vida é curta para não usufruirmos da verdade. Gullar revela, “Volto do trabalho, a noite em meio, / fatigado de mentiras”.

Quem se importa com as notícias que desrespeitam os nossos direitos? Quem conhece os mestres das artes e letras? Quais as histórias que contaremos aos netos? Quantas dores suportamos diariamente? Por que somos discriminados por esta sociedade? Quando aparecerá nas revistas o bom senso, a ética e a veracidade dos atos? Quando leremos sobre a tempestade que estamos vivendo?

A razão das questões é a linha editorial, que só defende interesses negociais, como a reportagem “comer juntos alimenta a felicidade”. Seria felicidade se o povo tivesse comida à mesa: como escreveram, “Não há questão cotidiana que resista a uma conversa aquecida por um prato caseiro”. É a campanha daquele refrigerante: “Os valores que a refeição em família pode trazer”. A que famílias exatamente se referem? Necessário proporcionar educação ao povo, para valorizar as suas vidas.

Só aprendemos vivenciando o cotidiano e a realidade mostra as dificuldades da população pela falta de educação, condições e informações corretas. Ainda em Gullar, “E a luta de resistência / se trava em todo lugar: / por cima dos edifícios / por sobre as águas do mar”.

Como discutir sobre a fome, a solidão, os sonhos e o futuro, se nos (d)escrevem apenas cenas irreais?