O AMOR CORTÊS NA LITERATURA MEDIEVAL

O AMOR CORTÊS NA LITERATURA MEDIEVAL

Justas, belos vestidos, amores impossíveis, donzelas, Damas e Cavaleiros. Nossa imagem da Idade Média europeia é recheada de imagens e estereótipos. Em tempos de Novelas e Romances de Cavalaria, Amor Cortês que retratam o mundo medieval é interessante saber a origem desses estereótipos. Quais subsistem e quais caem a partir de um olhar um pouco mais atento para a História?

Um dos elementos fundamentais para caracterizar esta época são os Contos e Romances de cavalaria e pela poesia trovadoresca – uma característica literária onde todas as Damas e Senhoras são belas e os cavalheiros são honrados e destemidos. Trata-se do Amor Cortês, onde se tolera uma espécie de adultério platônico sempre que os amantes adotam regras rígidas e rituais muito precisos de sedução. Relatos desta natureza caracterizaram não apenas a arte do período medieval como o próprio período acabou sendo caracterizado sob essas lentes. Será que existiu isso mesmo na chamada Europa Medieval? Mesmo nas cortes, é difícil crer que essas coisas aconteceram conforme cantaram os trovadores.

Na mesma época, na Baixa Idade Média, surgiram relatos bem diferentes desses como o Decameron, ou Os Contos da Cantuária: histórias picantes, narradas sem pudor, contando sobre esposas desinibidas e maridos traídos.Quais histórias refletem melhor os costumes amorosos de homens e mulheres medievais? Os versos dos trovadores ou as piadas maldosas de Boccaccio ou Geoffrey Chaucer? O panorama se complica se levarmos em conta que todos os textos são posteriores ao século XII.

Sobre os séculos anteriores, na Alta Idade Média, não sabemos muita coisa. E em todo o período não se encontra nenhuma narrativa sob o ponto de vista feminino. Incluindo as chamadas cantigas de amigo, poemas amorosos colocados na boca de mulheres, que, no entanto, eram escritos por homens. Pouquíssimas mulheres tiveram a oportunidade de pegar a pena e expressar suas opiniões e vivências sobre o matrimônio, a paixão ou a infidelidade.

Amor e sexualidade segundo a Igreja Católica Medieval

Aqueles que mais se debruçaram sobre o assunto do sexo e da paixão foram os que, em tese, menos deveriam saber sobre isso: os clérigos. Todavia, não é uma contradição, afinal de contas, eram quase os únicos que sabiam ler e escrever em uma época em que a maioria da população era analfabeta. Durante a Idade Média a Igreja se esforçou em regular todos os aspectos da vida cotidiana de seus fiéis, entre eles, o matrimônio, que a princípio era uma cerimônia civil que podia ser celebrada em casa, sem a presença de um padre ou outro sacerdote. Para esses padres, que escreviam basicamente tudo em latim, havia dois tipos de amor: eros, a paixão, que devia ser evitado a todo custo, e caritas, o amor cristão, que devia reger todas as relações humanas, inclusive a dos casais.

Durante séculos o sexo foi um grande problema para os padres católicos, eles o consideravam uma fonte de pecado, no entanto, admitiam que era imprescindível para perpetuar a espécie. Seguindo a linha dos ensinamentos do apóstolo Paulo, muitos consideravam o casamento como um mal menor, recomendável só àqueles que não suportavam o celibato.

O Cântico dos cânticos, ou Cantares de Salomão, texto erótico por excelência do Antigo Testamento, foi interpretado de estranhas maneiras na Idade Média. Não o consideravam como um poema de amor entre recém-casados, e sim, uma alegoria do relacionamento entre Cristo e a Igreja ou entre a Igreja e a humanidade. Mesmo diante de versos tão explícitos como: Eu já tirei minha roupa…; se interpretava como um código simbólico.

A intimidade dos casais

Segundo Cesário de Arles, o bispo de Arles entre os séculos V e VI, o bom cristão não conhece a sua mulher a não ser com a intenção de ter filhos. Qualquer contato íntimo com o objetivo de sentir prazer era proibido, mesmo nos limites do casamento. O cardeal Robert de Couçon foi mais longe, ele assegurava que o homem devoto não gosta de sentir prazer, porém o suporta, para ter filhos. Como as relações sexuais eram consideradas impuras, não era adequado que ocorressem em qualquer local e em qualquer momento. Os livros de penitência da época demonstravam uma série de épocas (datas) do ano em que eram proibidas, sob ameaças de gerarem filhos leprosos ou epiléticos.

A abstinência era obrigatória durante os quarenta dias que antecediam o Natal, Páscoa ou Pentecostes. Os domingos deveriam ser respeitados. Em alguns casos estavam proibidos também as quartas e sextas-feiras, além de certas festas de santos e vigílias. No total, os cristãos que levavam a religião à sério dispunham de um total de aproximadamente noventa dias ao ano para procriarem. Se subtrair os dias de menstruação, que também eram proibidos, reduzia-se para menos de sessenta dias… ao ANO.

A intimidade de São Luís

Será que todos os casais cumpriam este peculiar e rígido calendário litúrgico? A elevada taxa de natalidade medieval parece desmentir isso. Não obstante, no século XIII, Luís IX da França, católico fervoroso, chegou a ter onze filhos. Segundo sua esposa, a rainha Margarita, o monarca fazia todo o possível para resistir a tentação nos dias proibidos, até rezar para poder caminhar pelo quarto.

Por outro lado, quando o dia era liberado, o casal aproveitava qualquer momento do dia, para o desgosto da rainha-mãe, que preferia que o casal tivesse seus momentos apenas à noite. Chegaram ao “extremo” de se amarem em uma escada tipo caracol que comunicava o quarto do casal com os da rainha-mãe. Quando a rainha-mão andava pelos corredores, os criados alertavam o rei e sua esposa batendo nas portas e cada um voltava ao seu quarto apressadamente. Após a sua morte, Luís IX foi canonizado, um caso realmente excepcional.

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Enviado por ALMA GRANDE em 02/05/2021
Reeditado em 02/05/2021
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