MEU PAI TENTOU ME ENCHER DE FANTASIAS...NA VOZ DE ROBERTO...

Meu pai tentou

Me encher de fantasias

E enfeitar as coisas que eu via

Aqueles anjos agora já se foram

Depois que eu cresci.

Da minha infância agora tão

distante,

Aqueles anjos no tempo eu perdi

Meu pai sentia o que eu sinto agora

Depois que eu cresci...

Esta música, Traumas, composta por Roberto , pode nos dar uma dimensão de quanto um evento traumático pode influenciar o desenvolvimento de uma criança e como os pais, muitas vezes, tentam "abafar" e conter as dores vividas por elas.

Tanto os traumas que a criança pode vir a carregar por ser vítima de acidentes graves, de negligência, por luto, doenças graves, separação dos pais, privação, abusos, etc...

A criança que passa por algum evento traumático precisa dar voz ao seu sofrimento, mas o que ocorre é que elas não conseguem falar e os adultos também preferem poupar seus filhos, pois para eles também é muito sofrido e evitam falar sobre o problema.

Pais super protetores tentam esconder esses assuntos por achar que os filhos vão sofrer, mas é necessário falar sobre as dores, sempre que os pais perceberem que a criança quer falar sobre isso.

É preciso dar vazão, criar espaços e falar da forma que a criança possa entender , entrar no seu universo lúdico e imaginário, transmitir essa mensagem de uma forma simples, porém objetiva.

No dia a dia, pode-se conversar com a criança , através de pequenos exemplos vividos e falar com elas sobre as pequenas perdas e as "pequenas mortes" que vão acontecendo, assim elas vão conseguindo entender que nada é para sempre e que tudo é perecível.

A verdade sempre deve ser dita, não se pode alimentar na criança que o mundo é perfeito e não dar o direito do filho "se frustrar", pois frustrar é necessário, para ela entender que os momentos de dor devem ser vividos, assim como os momentos de alegrias.

Entendendo que devemos ter tato, sensibilidade e sempre respeitar o tempo, a idade, o estágio de desenvolvimento em que se encontra a criança, para as informações serem passadas, de forma que ela possa compreender e assimilar naturalmente esses conceitos.

Os pais também precisam, muitas vezes, de apoio psicológico, pois eles podem estar reproduzindo o mesmo modelo recebido dos próprios pais , e apesar do amor que sentem pelos filhos, podem pecar pelas omissões, pelas inverdades e pelo excesso de proteção.

Parece que a música traz um retrato do pai que tentou poupar o filho do sofrimento , da dor por ele vivido, cultuando a inocência da criança , "enchendo de fantasias" , "enfeitando" as coisas que a criança via.

Fantasiar a vida é uma maneira de manter-se criança e não mostrar ao filho a realidade do mundo vivido.

Lembrando que estimular o lúdico, a imaginação ativa , as ilusões, como "os amigos imaginários", por ex, é muito saudável e deve ser incentivada sempre, pois estimula a criança a desenvolver o seu potencial criativo .

Já nas fantasias existe uma "névoa" que acoberta a realidade dos fatos vividos, como se a criança vivesse em um mundo ilusório, onde tudo é perfeito e ela nunca irá se defrontar com "a falta". E essa falta é inerente a nossa própria condição humana.

A "criança interior" sempre volta pedindo socorro e para ser olhada , para dizer que está sofrendo e que precisa de ajuda.

Se os traumas não forem elaborados, amenizados, a criança pode vir a adoecer, como querendo dizer que algo precisa ser olhado e pode desenvolver quadros de ansiedade intensa, medos, desconfianças, rejeição, pânico, frustração, fobias de diferentes ordens, agressividade, etc...

Podem também apresentar dificuldades nos seus relacionamentos, no seu convívio social e a baixa auto estima como uma característica marcante.

"Agora eu sei o que meu pai

Queria me dizer

Que às vezes as mentiras

Também ajudam a viver

Meu pai tentou

Tentou me encher de fantasias

E enfeitar as coisas que eu via"...

"Segundo Freud, as fantasias representam uma forma de leitura subjetiva, organizadas a partir dos desejos e dos mecanismos de defesa da realidade dos fatos.

Trata-se do que Freud denomina realidade psíquica, a qual têm suas bases na infância e nas fantasias filogenéticas".

Conceitos Psicanalíticos.

( Fantasia).