Zé Ramalho - A lenda viva

José Alves Ramalho Neto (1949 - ), o artista, o poeta e o compositor Zé Ramalho, natural do interior Brejo do Cruz, estado da Paraíba, Brasil, foi inúmeras vezes elogiado por críticos e intelectuais do Brasil e do Mundo. Considero Zé Ramalho um condensador de culturas do nordeste brasileiro, o que significa abranger e reunir em suas obras a cultura dos nossos ancestrais coloniais franceses, holandeses, portugueses, judeus e indígenas do ex- Mundo Novo. Ao mesmo passo que aproxima os melhores ecos contemporâneos e futuristas.

Suas influências musicais são uma mistura de elementos da cultura nordestina (cantadores, repentistas e rabequeiros), da Jovem Guarda (Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Golden Boys e Renato e seus blue caps), a sonoridade dos Beatles e a rebeldia de The Rolling Stones, Pink Floyd, Raul Seixas e, principalmente, Bob Dylan. Abraça ainda elementos da mitologia grega, misticismo aquariano, ufologia e história da humanidade.

Zé Ramalho é, na minha humilde opinião, o maior artista brasileiro em vida. Ele foi atrevido, inteligente, polêmico e, sobretudo, verdadeiro e não ordinariamente apelativo em seu estilo artístico. Tanto que superou as adversidades de ser pobre, nordestino, não agraciado de beleza física (digo sexista, como é quase que a regra nos cantores de hoje), a Ditadura Militar de turbulentas décadas atrás e o preconceito das sociedades puritanas que não viam com bons olhos as vestimentas hippies que ele usava em tempos de manifestações místicas da nova Era de Aquários. Também experimentou como Cristo, a dor da fome, da miséria e do desprezo quando morou na capital do Rio de Janeiro, onde vive até hoje. Quando conseguiu o sucesso estampado na mídia, resultado de muito trabalho, dor e talento, viu-se cercado de pessoas interesseiras que queriam até ofuscar seu caráter para mais “agradar” aos fãs de momento. Zé, um ser de uma personalidade fortíssima como eu pude perceber ao conhecê-lo pessoalmente, nunca quis seguir o lugar comum, a tendência em estiliza só para agradar aos fãs-clientes. Ele sempre buscou ser ele. Original na medida do possível. Inclusive, estranho e solitário nas mensagens de suas músicas, conforme o próprio público julga. Ramalho também amargou o poder negro dos jornalistas brasileiros – que buscam muitas vezes o cheiro podre de uma má notícia tais quais urubus a procura de carniça. Minha opinião tão-somente. Ele foi acusado de plágio por várias vezes. Por conterrâneos que, na verdade, estavam mais despeitados pelo sucesso do paraibano do que preocupados com direitos autorais. Aliás, reflexão a parte, obra artística nenhuma é criação total e exclusiva de ninguém, sempre há um pedaço, um trecho de idéia de alguém que já copiou de outro alguém que logo imitou de seguinte alguém e assim sucessivamente. Naturalmente, “as idéias ao mundo pertencem” (filósofo Hume). Felizes os que souberam bem reproduzir uma arte com certo ar de pioneirismo atrasado. Ademais, como dizia o saudoso intelectual Raul Seixas: nada se cria, tudo se copia. Evidentemente, Ramalho nunca copiou na íntegra obra musical de ninguém, o que caracterizaria plágio, crime contra a propriedade imaterial no Direito; por isso, a Justiça brasileira considerou todas as acusações inidôneas ou improcedentes.

Por fim, assim bem disse em sua obra mais densa, especular, coletânea de raridades, o cantor de Avohai no Disco Zé Ramalho da Paraíba: “tornei e tornaram-me sobrevivente de um grupo antigo...”. Atualmente, 2010, Zé Ramalho comemora seus mais de 40 anos como artística e 61 anos de sobrevivência em nosso Admirável Mundo Novo.