MÚSICA, HUMANIDADE E HUMANIZAÇÃO

Há relatos de que desde a remota era pré- histórica o Homem já se encantava com o som, um fenômeno físico repleto de qualidades intrínsecas, que quando harmonicamente ecoados compõem o que chamamos de música.

A musicalidade , portanto, é inata à natureza humana e no decorrer das civilizações tomou forma de intenso e característico instrumento de expressão cultural.

Assim, de acordo com as características de determinadas civilizações, foram surgindo seus definidos rítmos e instrumentalizações que hoje tão bem definem a musicalidade de cada povo, e o quão belo é o vasto sincretismo musical, com as marcantes nuances culturais de sons e rítmos típicos que qualificam a diversidade da evolução musical através das eras da humanidade.

Não fosse a mágica propriedade artística da música, sons poderiam expressar apenas as cacofonias.

O fato é que a música é muito mais do que uma mera expressão da arte pessoal ou cultural, muito mais do que um conjunto de sons harmonicamente colocados para nos encantar com um belo produto sonoro.

A música, um dos maiores instrumentos de humanização e socialização, é uma linguagem universal.

É através dela que "todos" os seres se identificam, entre si e entre o todo dos diversos habitats, não apenas os da espécie Homem, como também os demais seres vivos da natureza, que através da sua própria musicalidade traçam rotas de comunicação e expressão.

Quem já não ouviu a sinfonia da matas? Composta de sons que dispensam as palavras...

Aliás, o próprio Homem pré-histórico já se valia da sua musicalidade para se comunicar, muito mesmo antes do surgimento da palavras "elaboradas" de cada povo.

Hoje, a música muito mais que substantivo artístico, é usada com instrumento de contenção e aproximação social.

Dentro da medicina já são conhecidas as propriedades da musicoterapia.

Grandes déficits cognitivos da infância e da terceira idade já são amenizados sob a influência dos sons musicais.

Há relatos de que pessoas com processos demenciais iniciais e moderados, como por exemplo na doença de Alzheimer, podem retardar em anos a progressão mais acelerada da doença mediante o exercício musical.

Ademais, mesmo pessoas com demências avançadas, parecem que possuem uma proteção das regiões cerebrais responsáveis pelo armazenamento da memoria musical, fato que a ciência parece descobrir, o de que tais áreas de "neurotransmissão musical" são poupadas pela doença.

Certo é que muitos pacientes com doença de Alzheimer, já deflagrada há tempos, conseguem lembrar fluentemente de musicas que marcaram determinadas épocas marcantes da sua vida pregressa, assim como também conseguem executar certos instrumentos musicais com os quais tiveram aprendizado, e assim, a musicoterapia os traz, ainda que minimamente, de volta ao seu mundo, melhorando suas relações afetivas e sociais.

Aos pacientes institucionalizados em casas de repouso, o contato com grupos de música e instrumentações várias recuperam a dignidade humanitária à medida que revivem suas histórias recontadas através da sua bagagem musical.

Às crianças e jovens, a música desenvolve precocemente um sentido de vida e de humanização social , mantendo-os distantes das drogas e demais mazelas sociais.

Portanto a música, um grande instrumento de concepção da "humana Humanidade", hoje já é remédio.

Trata doenças físicas, emocionais, espirituais e sociais, recupera e agrega socialmente todos os seres tão holisticamente "doentes" deste planeta não menos adoentado, bem como, profilaticamente, centra o Homem no seu "meio" trilhando-o ao seu objetivo maior: a tão urgente e esquecida Humanização.

"Ainda que eu fosse Homem, sem a música eu nada seria..."

MAVI.