Jethro Tull | Thick as a Brick 2

Em 1972 a banda inglesa de rock progressivo Jethro Tull lançou um álbum que causou furor na comunidade musical. A obra, criada deliberadamente em torno de um conceito, um poema escrito por um precoce garoto inglês que falava sobre os desafios de envelhecer, se tornou um daqueles álbuns eternizados que anos depois serviria de referência para muitos músicos e bandas após o seu lançamento. O álbum, que foi criado e muito bem produzido para ser uma crítica a outros pretensos álbuns conceituais, rótulo que Ian Anderson, líder vocalista e flautista da banda, rejeitava firmemente na época, foi tão bem sucedido que alcançou o primeiro lugar de vendas nos Estados Unidos. A capa do álbum era uma paródia dos tablóides ingleses locais, que trazia notícias, contos, propagandas, classificados, sendo que um falso jornal de 12 páginas acompanhava o álbum, trazendo até mesmo uma entrevista com os membros da banda e com o garoto, Gerald Bostock, que havia escrito o poema musicalizado pelo líder da banda. A fórmula foi tão bem sucedida que muita gente pensou que o garoto fictício havia sido o verdadeiro compositor das músicas, tendo sido considerado um gênio precoce. Tudo não passava, é claro, de uma invenção de Ian Anderson, líder da banda. Todo o álbum, na verdade, não passava de uma única canção de 43 minutos de duração.

Quarenta anos depois, e ainda na ativa, Ian Anderson voltou a causar agitação na crítica e nos fãs quando publicou no site oficial da banda um artigo em que ele se perguntava "o que teria acontecido com Gerald Bostock", o garoto que o influenciou a compor a música. Também, no mesmo artigo, se isso dava um novo álbum em que ele se perguntava como foi para o jovem poeta envelhecer. Agora, Bostock não é mais uma criança, tem mais de cinquenta anos, mas continua a ser um prodígio? Como estaria encarando a difícil arte da vida, a arte de envelhecer? Esse era o argumento de Anderson para o seu novo álbum. Seria ele velho demais para ser um pródigo filho do rock n' roll, jovem demais para ser um sábio? Os sábios ainda, depois de tanto tempo ainda não saberiam o que é ser "burro feito uma porta"? E os poetas, tão desacreditados e debilitados nos dias que correm, ainda ergueriam suas canetas feito espadas? Ora, quem conhece a banda sabe que em suas letras Anderson sempre falava de si mesmo.

Agora tanto o rock quanto o flautista estão um tanto mais maduros, passaram dos cinquenta um, e sessenta o outro. Há quarenta anos, Little Milton, ou Gerald Bostock ou Ian Anderson ou o Jethro Tull, falavam sobre a odisséia do ser humano, crescendo, envelhecendo, sobre o que seria a visão de uma criança sobre a velhice, a maturidade falando sobre a sabedoria. Em 1972, Ian Anderson ainda tinha cabelos longos, uma barba desgrenhada, pouco dinheiro e uma usina criativa dentro da cabeça. Quarenta anos depois, sua conta bancária engordou (e muito), tanto pelos milhões de álbuns vendidos quanto por ser o maior exportador de salmão da Europa. Mas e quanto à usina criativa que infla tanto o ego de Anderson que ele não guarda nenhuma modéstia para si?

Anderson manteve o bom conceito que sempre guiou suas obras. Há quarenta anos, o falso jornal que acompanhava o álbum, St. Cleve Chronicles, se tornou o St. Cleve.com. A odisseia do garoto fictício era manchete de um jornal que estampava a capa do álbum da banda em 1972, agora é o layout de um portal de notícias online. Anderson mostra que está a par da constante evolução e mudança do mundo. Em conceito e teoria, mas e quanto à música? Muitos se perguntaram, o que estaria tramando o velho gnomo protestante escocês tocador de flauta?

Em vez de uma única e enorme música divida em duas faixas, encontra-se dezessete canções. From a Pebble Thrown começa com um riff antigo que se encontra no primeiro Thick as a Brick. Uma continuação, tal como assim foi a própria vida de Anderson e Bostock. Mas logo essa primeira faixa revela o que restou da usina na cabeça do flautista. Uma usina que já deu tudo o que tinha que dar. Se torna uma canção que lembra bastante as composições da banda no álbum The Secret Language of Birds, que nada mais foi do que uma compilação de tudo o que Anderson compôs nesses quase cinquenta anos de carreira dedica à música. Está tudo lá. Anderson sempre se considerou um sujeito unplugged em relação aos seus amigos músicos. Os arranjos acústicos estão todos lá. Os violões tocados de forma que só o próprio Anderson sabe tocar, os temas folclóricos. Mas falta algo. Falta o sal que temperou a primeira edição do álbum.

Thick as a Brick 2 é um álbum pobre em margem dinâmica, sendo todas as músicas tocadas quase no mesmo andamento. A pouca interpretação por parte dos instrumentistas foi substituída por um Ian Anderson que cita poemas e se indaga o tempo todo, ora entre a melodia, ora sem música, o que teria acontecido com Gerald Bostock. Banker Bets, Banker Wins tem uma boa melodia e um bom riff de guitarra que lembra as boas composições do flautista da década de 70. Wooton Bassett Town é a mesma coisa. Boa melodia. Ora nos lembramos de Songs From the Woods, ora de Heavy Horses, mas o álbum não revela nada de novo. É como se o "menestrel estivesse na galeria", mas sem interagir com seu público, sem olhar "nos rostos sorridentes". Nas palavras do próprio Anderson, ele está apenas "fingindo um orgasmo".

É um disco que não causa comoção. Bem produzido, sim. Mas sem a força do carisma contagiante do flautista, sem a criatividade genial do primeiro álbum. Ian Anderson foi tão sagaz na criação de seu primeiro Thick as a Brick que ele mesmo colocou uma armadilha embutida para si mesmo que ele não percebeu.

A criatividade acaba. O que não é uma coisa ruim. Ian Anderson inventou a flauta no rock e contribuiu imensamente para o cenário fonográfico, mas Thick as a Brick 2 só serviu para reforçar aquela velha história de que Ian Anderson acabou se tornando cover de si mesmo.