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PEREZ PRADO - O REI DO MAMBO

Perez Prado foi sempre anunciado como o “rei do mambo”, pois foi ele quem inventou esse ritmo latino em 1943. Também era considerado o “band-leader” nº. 1 da América Latina. O fato é simplesmente que Prado foi sempre Prado com seu “Uhhh!” (marca registrada) impulsionando os músicos de sua orquestra, além de sua música abrigar um ritmo maravilhoso e certa profundeza emocional.
 
O escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez, escreveu no jornal mexicano La Jornada: “Quando um compositor sério e bem vestido, Damaso Perez Prado – seu nome de batismo – descobriu a maneira de enxertar todos os ruídos urbanos em um solo de saxofone, foi dado um golpe de Estado contra a soberania de todos os ritmos conhecidos”.

Prado foi o “pai da criança”. Nascido em Matanzas – Cuba (11/12/1916), estudou piano vários anos e, para surpresa de seus colegas “almofadinhas”, resolveu criar um ritmo novo. Deixando bem claro a que vinha, batizou a nova onda de “mambo”, inspirado na palavra “malo” e tudo que há de má procedência. Em 1949 deixou a ilha e foi com seu grupo para o México, onde se deu bem, chamando a atenção do grande irmão do norte.
 
Foi um sucesso atrás do outro: Rico Mambo, Mambo Numero Ocho, Cerezo Rosa, Caballo Negro, I Only Have Eyes for You, Para Mi, entre tantos outros. O arranjo que ele fez para a canção Caravan, de Duke Ellington, Mills e Tizol, é uma obra-prima musical. Consta do disco LP da RCA Victor chamado “3 Great Bands”, onde sua orquestra toca quatro faixas. As outras oito ficaram para Henry Mancini (quatro) e Al Hirt (quatro). Desconheço o lançamento deste álbum em CD. Quando lançou Cherry Pink and Apple Blossom White estabeleceu um novo estilo do trumpete, usando um fundo musical proporcionado por substancial orquestra latina. Quem assistiu “La Dolce Vita”, de Federico Fellini, ouviu o selvagem e frenético temperamento do filme expresso por sua poderosa e arrebatadora Patrícia, talvez o seu maior sucesso, tanto que fez várias gravações com diferentes arranjos, inclusive um em twist – ritmo de sucesso nos anos 60. Sem dúvida, o homem fez todo mundo rebolar.
 
Rosemary Clooney (grande cantora norte-americana e tia do ator George Clooney) gravou com a orquestra de Perez Prado um disco LP chamado “A Touch of Tabasco” e que consta ter sido um estrondoso sucesso na época (a gravação foi feita em 1959). Consegui baixar o disco inteiro da internet e é realmente fantástico, com um som de primeiríssima linha. Os ritmistas dão um show à parte, principalmente o toque da bateria e seus pratos. As canções são curtas – You Do Something To Me – tem apenas 1’36” e o tempo total do disco é de 26’56”. Difícil dizer quais as minhas prediletas, pois todas são ótimas. Ei-las, na ordem de apresentação: Corazon de Melon, Like a Woman, I Only Have Eyes For You, Magic is the Moonlight, In a Little Spanish Town, Sway (Quien Sera), Mack the Knife, Bali Hai, You Do Something to Me, Cu-Cu-Rru-Cu-Cu-Paloma, I Got Plenty O’ Nuttin’ e Adios.
 
Em 1963, Prado lançou pela RCA Victor o LP Our Man in Latin America que ele fez questão de dedicar como uma homenagem a seus admiradores. Entre as 12 canções estão, Tico-Tico no Fubá, Alma Llanera, The Peanut Vendor e Siboney.
 
Em termos financeiros, Prado não tinha do que reclamar. Mesmo após a ascensão de Fidel Castro – que chamava de Fidelito – continuou com livre acesso a seu país. O sindicato mexicano, porém, o boicotou por vinte anos, principalmente na questão dos direitos autorais. Sua resposta: “A única coisa que me interessa é o povo, o apoio que me transmite. Não preciso de dinheiro, ainda que viva modestamente (o que era verdade), mas esse apoio me vale mais do que todos os milhões”. As inúmeras gravações que deixou confirmam isso.
 
Até que chegou o dia 14 de setembro de 1989, quando o mundo do mambo encurtou um compasso com a morte de seu criador, aos 73 anos, na Cidade do México, após ter passado quase um ano em coma. Sua saúde começou a se deteriorar em 1987, quando sofreu dois derrames que o deixaram praticamente paralisado.

E o mambo ficou órfão.
 
 
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