Aposentadoria de um roqueiro

Em 1970, conheci a força do Rock n’ Roll através de um vizinho que ouvia músicas maravilhosas em um volume absurdamente alto.

Ele morava no 7º andar, e eu do 2º andar ouvia aquele som totalmente novo para mim com muito entusiasmo e admiração.

Eu estava acostumado a ouvir apenas Bealtes, Stones, Credence, Monkees, entre outras bandas que traziam apenas a essência do Rock, mas eram tranquilas demais para mim.

Na época não havia internet, então a maneira de saber os nomes das bandas era perguntando para aquele vizinho, ou decorando parte da letra das músicas e cantarolando para o vendedor da loja de discos para ele identificar a banda.

Foi essa última opção que preferi adotar, pois eu achava inatingível o meu vizinho “Índio” - assim o apelidei - por causa dos longos cabelos e postura de roqueiro.

Nas lojas de discos fui adquirindo tudo o que eu considerava material nobre, dentro das possibilidades financeiras de um adolescente de 14 anos.

Então conheci o que é Rock n’ Roll: comprei Black Sabbath, Jethro Tull, Led Zeppelin, Deep Purple, Uriah Heep, Grand Funk Railroad e principalmente Alice Cooper.

Hoje, mais de quarenta anos depois, sinto que é hora de parar de ouvir o som desses caras e me dedicar mais aos sons compatíveis com a minha idade. Mas não consigo. Música nacional, nem pensar! Estilos como dark, trash e pop-rock, definitivamente não são Rock.

Por isso decidi me aposentar sim, mas só do trabalho burocrático de servidor público, pois pretendo manter meus ouvidos atentos aos acordes que tanto fizeram bem à minha pequena cultura-rock e ouvir sempre War Pigs, Black Dog, Highway Star, e principalmente “Halo Of Flies” do Alice Cooper.

Viva a aposentadoria! - mais tempo para o Rock, mais perto do meu amor, tempo de recuperar o que ficou para trás.

Parafraseando Ian Anderson, em “Too Old To Rock n’ Roll: Too Young To Die”, posso dizer: Velho, mas com muito Rock para ouvir antes de morrer.

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