GENE KRUPA - UM NOTÁVEL BATERISTA

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Na minha juventude fui um aprendiz de baterista. Na década de 1960, no auge da bossa nova, alguns amigos e eu criamos um conjunto musical que contava com piano, violão e baixo, além da bateria. Nosso “forte” era a MPB, mas por vezes nos aventurávamos pelo jazz e pelo blues. Minha bateria era uma Caramuru, de madeira, bem ruinzinha e naquela época o objeto do desejo dos bateristas era a Pinguim prateada, que nunca cheguei a ter. Lá fora a mais famosa era a Ludwig, tendo sido a marca escolhida por Ringo Starr, baterista dos Beatles.
 
Devo ressaltar que nunca estudei música e não sei diferenciar uma nota musical da outra. Mas o meu gosto e a minha paixão pela música levaram-me a tocar bateria que era o instrumento que menos exigia um estudo específico (pelo menos naquela época). E com tudo isso fui conhecendo musicalmente os grandes mestres do instrumento que havia escolhido para exercer minha vontade musical. No Brasil sempre tivemos grandes bateristas, tais como Toninho Pinheiro (Jongo Trio), Turquinho (tocou com Sylvio Mazzuca), Rubens Barsotti (Zimbo Trio), Paulinho Braga, Wilson das Neves (até hoje tocando com Chico Buarque) e muitos outros. O jazz, por sua vez, sempre foi um prato cheio de excelentes bateristas e citar aqui o nome de todos eles seria quase que impossível. Tivemos Sonny Payne, Buddy Rich, Jack Sperling e ele, Gene Krupa, considerado por muitos como o maior baterista de todos os tempos.
 
“Gene Krupa foi mais do que um baterista de jazz. Ele é o símbolo de uma era frenética e a viveu intensamente. Foi a personificação do espírito americano. A década extremamente ruidosa dos anos vinte... os turbulentos anos trinta... a vertiginosa década dos quarenta... Krupa abarcou-as todas e abriu caminho no sentido de penetrar na atmosfera atômica e espacial dos anos sessenta, com o ímpeto de quem faz seu derradeiro arremesso”. Com essas palavras, um publicitário de Hollywood exaltou o filme “Gene Krupa Story”, o qual, sob outros aspectos, considerou um tanto cansativo.
 
Extraindo os elogios costumeiros, o que nos resta da história é o seguinte: desde a estreia de Krupa, a 8 de dezembro de 1927, em sua primeira gravação com McKenzie and Condon’s Chicagoans, ele percorreu uma faixa de 46 anos na história do jazz. As gravações onde se pode ouvir ou detectar o seu característico estilo de baterista são mais do que suficientes para se encher um arquivo.
 
Nascido a 15 de janeiro de 1909, em Chicago, teve aulas particulares de bateria no St. Joseph’s College, em Indiana. Seu trabalho inicial com Thelma Terry, Joe Kayser, Leo Shukin e a Benson Orchestra trilhou-lhe o caminho de Nova York, onde ele se tornou famoso nos circuitos jazzísticos. A grande aparição e o sucesso vieram em 1935 quando o King of Swinging Benny Goodman contratou o hábil baterista. Relembrando o fato em sua autobiografia, Goodman escreveu: “O que nós precisávamos naquela época era de um baterista realmente notável. Lidávamos com os instrumentistas que aparecessem, mas para a música de dança o mais importante era o compasso do baterista, e este, acelerando o ritmo, poria a perder tudo o que uma orquestra tentasse realizar. Fora isto, um bom baterista, mais do que qualquer outro membro da orquestra, contribui para o balanço de todo o conjunto – pela execução do fundo rítmico, manejo exato dos pratos, etc. E, naquela época, só havia um baterista que pudesse suprir tais exigências: Gene Krupa”.
               
Em 1938 Krupa deu outro passo decisivo: fundou sua primeira grande orquestra, sob o seu próprio comando, o que, naquele momento, considerando o número disponível de excelentes swing bands, era um empreendimento arriscado.
 
Sua fórmula sempre foi a seguinte: “O que nós fazemos é fornecer divertimento. Lançamos mão de artifícios de show, e, assim, procuramos envolver a plateia num ambiente de liberdade e descontração. Tentamos também ter um repertório variado e uma boa ambiência sonora. Podemos tocar forte e tocar coisas suaves. O fato central é que nós queremos nos comunicar e agradar”.
 
Krupa era mesmo um showman perfeito e alcançou um sucesso incrível – foi o ídolo dos bobbysoxers, os “teenagers”, daquela época em que o swing se desenvolveu como a mais popular forma de jazz.
 
Este é um lado da história de Krupa, que terminou com um escândalo envolvendo marijuana, quando foi preso e condenado por posse de drogas.
 
Por outro lado, seus solos – tais como aquele registrado no “Sing, Sing, Sing” do concerto de Goodman, no Carnegie Hall – fizeram a história do jazz. Por falar em “Sing, Sing, Sing”, na minha opinião, o melhor arranjo desta canção e o mais perfeito solo de Krupa de todos os tempos foi na gravação feita em estúdio, em Nova York, em 1953, com duração de 10 minutos. Além de Krupa na bateria, ainda teve Eddie Shu (trompete, clarinete e sax tenor) e Teddy Napoleon (piano). Curiosamente não contou com contrabaixo. O autor da canção é Louis Prima, também um grande showman americano.
 
Mesmo tendo sido o primeiro baterista a tocar um solo no Carnegie Hall, sabia de seus limites: “Eu sempre olhei bem para a plateia ao fazer um solo, e quando notava uma certa agitação nas pessoas, sabia que era a hora de parar com o show e devolver o espaço para o grupo voltar a tocar”, dizia o lendário baterista.
 
Ele esteve à frente das paradas do Metronome de 1937 a 1945, e teve uma boa acolhida entre os leitores do Downbeat, de 1936 a 1939, em 1943 e em 1952 e 1953. A sua participação nos acontecimentos jazzísticos e sua influência sobre outros bateristas foi maior e mais duradoura do que parece. Buddy Rich – ele próprio outro notável baterista – disse o seguinte: “Gene Krupa é o início e o fim de todos os bateristas de jazz. É um grande talento – um verdadeiro gênio da bateria; Gene descobriu coisas que poderiam ser realizadas com a percussão que jamais tinham sido feitas antes... Vou contar-lhes sobre Gene. Antes dele, a bateria estava ao fundo e era apenas uma parte da orquestra... Depois veio Gene e lhe deu um novo significado, tirando-a do segundo plano. O baterista passou a ser alguém, sabe? Gene merece crédito por ter feito com que as pessoas percebessem a existência do baterista e observassem o que ele está fazendo, e porque o faz. Vocês poderiam imaginar o jazz sem Gene?” Vindo de um concorrente, elogio assim vale o dobro.
 
Vale mencionar ainda as atividades de Krupa como estudante, em 1951, quando teve aulas com o timpanista da Filarmônica de Nova York, Saul Goodman. E também como professor, quando em 1954, junto com Cozy Cole fundou uma escola de bateria em Nova York. Lançou um livro chamado The Gene Krupa Drum Method.
 
Nos anos 1960 a saúde obrigou-o a reduzir suas atividades. Sentia fortes dores nas costas (assim como sofre hoje Phil Collins), teve leucemia e um enfarte. Em 1972 e 1973 ainda chegou a se apresentar algumas vezes com a Benny Goodman Reunion Band, vindo a falecer em 16 de outubro de 1973, em Nova York. Segundo os críticos sua arte nunca foi superada.
 
 
BIBLIOGRAFIA
  • Wikipedia
  • Artigo de Hans Herder
  • Contracapas de discos LPs de Gene Krupa
  • Acervo do autor do texto
 
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