QUANDO O LIXO VIRA CONSUMO

Como é de conhecimento de todos (pelo menos, daqueles que costumam absorver informações), a música é uma das sete artes, uma das maiores expressões da cultura universal e que jamais se tornará obsoleta. No entanto, a “música” hoje veiculada pela mídia já vem com data de prescrição, talvez por ser vista apenas como um produto comercial, um objeto qualquer que tem agora o seu potencial explorado e depois descartado. No Brasil, infelizmente, isso é pior do que se pode imaginar.

Em média, uma “música” hoje em dia não dura mais do que três meses em “circulação”. Isso é quase uma regra. Depois disso, ninguém mais vai querer ouvi-la, pois vão considerá-la uma "música velha". Bom, se depois de alguns meses uma música perde o seu valor, é porque algo deve estar errado, seja por parte de quem a produziu ou de quem a ouve. Como diria o grupo OS TITÃS, ninguém perde por esperar; A MELHOR BANDA DE TODOS OS TEMPOS DA ÚLTIMA SEMANA já se encontra no forno, completa, pronta para saciar a fome musical daqueles que não exigem muito no requisito qualidade.

Há coisa mais pobre do que uma letra que diz assim: “Enfinca, enfinca...” ou talvez, “Assim você me mata, delícia, ai se eu te pego...” ? Por essas e outras, não é muito difícil encontrar pessoas que, por exemplo, afirmam não gostar da música de Chico Buarque ou Tom Jobim, pois não entendem suas letras. Mas adoram ouvir funk e rap (as quais, diga-se de passagem, não podem ser compreendidas como músicas) porque conhecem a letra toda. Vendo por essa perspectiva, admite-se que é bem mais fácil para alguém gostar de algo fácil, onde a assimilação é quase instantânea.

São letras que falam da realidade brasileira, revelando uma enorme falta de compromisso com a educação e com os bons costumes. Por isso mesmo, mexem com grande parte do povo, pois expressam o pensamento de “gente comum”. Na maioria das vezes, eles acham que MPB é sinônimo de música chata ou que rock é um ritmo muito pesado (...) Mas, de fato, não conseguem mesmo é alcançar a mensagem transmitida em músicas de qualidade. Preferem a clareza, a facilidade e o ritmo dançante de músicas vulgares, com suas letras por vezes, até pornográficas. E o que mais assusta é que isso é maioria.

Partindo da premissa de que a música que ouvimos é o espelho, o reflexo de nossa cultura, deduz-se, portanto, que a compreensão anda meio em baixa, caindo a níveis assustadores.

Ao procurarmos observar algumas das composições próprias de bandas da atualidade, especificamente do norte e nordeste brasileiro, veremos que elas seguem praticamente um mesmo nível, geralmente fundamentadas em letras horríveis e de duplo sentido, acompanhadas ainda de melodias chinfrins ou “surrupiadas” de outras músicas. Na sua grande maioria, não passam de paródias bizarras de músicas americanas (nenhuma novidade aparente, principalmente dentro desse novo estilo FORRÓ DE PLÁSTICO), versões infelizes de sucessos internacionais outrora difundidos na novela das nove.

A poderosa Rede Globo, com o seu reconhecido oportunismo, já adotou em suas trilhas musicais de novelas alguns desses atuais “lixos sonoros” (a ignorância em ascensão), contribuindo ainda mais para transformar a música nossa de cada dia em um bem de consumo descartável. Que o diga o montante de CD’s pirateados e sem qualidade que são agora propagados no comércio, vendidos ao valor de R$ 1 em toda e qualquer esquina. Pois, como sabemos, a maioria dessas bandas e grupos não possuem sequer gravadora ou um selo que se responsabilize por suas “aberrações musicais”.

A descaracterização do forró vem sendo influenciada pela indústria cultural através dessas bandas “estilizadas”, as mesmas que em suas apresentações trazem um repertório de músicas com grande apelo sexual e de gosto duvidoso. Não há nada mais deprimente do que o nível e a categoria de “música” propagada por essa gente, uma verdadeira “fossa” a céu aberto. E o que é pior: tem público cativo. Um verdadeiro retrocesso cultural.

Uma canção romântica há muito é vista como uma música brega. Um artista renomado como ROBERTO CARLOS tem menos audiência agora do que aquela cantora de corpo escultural que grita mais do que propriamente canta. Sem contar que ela consegue a proeza de fazer até LUIZ GONZAGA, o eterno rei do baião, remexer-se em seu túmulo. Sim, mas de raiva, por ver mancharem a reputação de um ritmo tão tradicional e popular como o forró, o qual ele ajudara talentosamente a difundir Brasil afora e até no exterior.

Não podemos mais tolerar essas “músicas” horrendas que nos violentam os ouvidos, que nos expulsam do ambiente quando as escutamos. Sem falar dessa gentinha medíocre e sem semancol que mete essas porcarias no som de um carro e saem por aí, com o volume no máximo, achando que estão abafando. O barulho ensurdecedor propagado por esses chamados “paredões de som” é outro problema que precisa de uma solução imediata. A tolerância diante dessa questão deve ser ZERO.

Diante dessa inversão de valores, desse caos sonoro e musical no qual nos encontramos, definitivamente seria melhor revermos aquele velho conceito de que, gosto não se discute. Discute-se sim, ainda mais quando este se mostra duvidoso. Por enquanto, apenas lamentamos...

Paulo Seixas - algum conteúdo da Internet , maio/2012