Orgulho da cor, ele é puro amor

Kleber Cavalcante Gomes, já ouviu falar?

Pois então, no dia cinco de setembro de 1975, nascia esse poeta musical.

Sim, Criolo Doido! “E pede licença pra poder cantar”.

Em 1989, Criolo começava a cantar rap, mas até o início de 2000 poucos tinham o prazer de saber quem ele era. E como sua mente fascinante brilhava.

Entre 1994 e 2000, trabalhou como educador, e em 2006 lançou seu primeiro álbum de estúdio intitulado “Ainda Há Tempo”.

“As pessoas não são más, elas só estão perdidas” – foi o que ele pregou.

Nesse mesmo período fundou a “Rinha de MC’s”, existente até hoje, a qual abriga batalhas de freestyle, shows semanais, exposições de graffitti e fotografias.

Indicado inúmeras vezes para diversas premiações, muitas delas não conquistadas, Criolo Doido não parou.

A caminhada continuava, participou dos filmes Profissão MC e Luz nas Trevas, ambos de 2009.

Já em 2011, lançou um novo álbum chamado “Nó na Orelha”, que diversificou o ritmo do rap com vários estilos: MPB, funk, soul e blues. Um grande avanço na sua carreira. Inclusive, foi aí que ele mudou seu nome artístico para “Criolo” apenas.

Este disco foi muito bem aceito pela crítica, inclusive a estrangeira, levando o astro a participar do programa Altas Horas na Rede Globo.

Passando pelos seus vinte anos de carreira, chegava então o reconhecimento. Com o disco, Criolo foi um dos campeões de indicações ao Video Music Brasil 2011 da MTV, sendo indicado nas categorias "Videoclipe do Ano", com "Subirusdoistiozin", "Artista do Ano", "Álbum do Ano", com "Nó na Orelha" – venceu; "Música do Ano" com "Não existe amor em SP" – venceu; e como "Banda ou Artista Revelação" - venceu. Ele também foi o primeiro confirmado a se apresentar ao vivo durante a premiação, onde cantou a canção "Não existe amor em SP" ao lado de Caetano Veloso.

Agora vamos falar do maior presente do Criolo à nós:

No dia 29 de Outubro de 2014, surge o primeiro single que dá nome ao seu último álbum: "Convoque seu Buda".

E então o clima ficou tenso!

Criolo nos mostra o melhor da sua arte com samba, forró, baião, MPB, candomblé, reggae, afro beats e a base de tudo: o rap.

De uma maneira séria, clara e totalmente poética, ele pinta um retrato da nossa realidade no Brasil, mostrando a impaciência do brasileiro, reintegrações de posse sem sentido, o exagero no consumo, o preconceito das classes, a banalidade das manifestações, e a piada que é nosso sistema governamental.

O álbum, que pode ser considerado o melhor dos últimos tempos, em questões de conteúdo e musicalidade, conta com participações de Tulipa Ruiz, Kiko Dinucci, Rodrigo Campos, Juçara Marçal, Neto (Síntese), Mário Caldato Jr. e Money Mark.

Criolo faz muito mais do que falar a verdade em suas letras, ele dá beleza as ruas da favela, ele dá brilho a pele negra, por tantos amaldiçoada em pleno século XXI. Ele nos mostra a tristeza da riqueza e a falta de conteúdo na nossa geração.

Trocadilhos filosóficos, contradições políticas, referências bíblicas e uma boa pitada de ironia, já que tudo hoje em dia está à mercê.

Convido à todos que ainda não tiveram a oportunidade de desfrutar a poesia musical desse gênio, para convocar seus respectivos Budas.

Realidade é algo que assusta, esteja preparado. Uma boa reflexão interna e a mudança de certos conceitos, faz parte do pacote.

“É o céu da boca do inferno esperando você!”

Se desprenda, e transcenda ao ouvir cada palavra em cada música.

Sinta a alma poética.

E se apesar de tudo, recusar-se, deixo a mensagem:

“A vida é ritual, parte no meio do mundo

A sós num laudo intenso

Denso contraste do firmamento ao asfalto

Plana alto até pousar na carne e flertar com o veneno

Que espanca uma mente fraca

E arranca essas mãos do remo

Mesmo buscando o pleno, tantos erros ao transcender

Há um jogo pra abdicar e um fogo pra acender

Aponto as sobras de amor pra extinguir o medo das cobras

E envio cedo as palavras pra não ser tarde pras obras

Ao justo a sábia sorte que não leva a alma ao norte

Quando fraco que és forte, tudo aponta o norte

Quando se pode enxergar além do que se vê, amplitude

Virtude vital já que o mal nessa paisagem ilude

Distante como um vizinho, te lembro do ninho

Onde o amor expresso é chaga viva

Gesto é mais que o pergaminho

Fome e que todo vento ardente soa ao descobrir

A natureza da centelha divina que existe em si

Desato o nó da cama, enterro a discórdia na brasa

Rebato os peito de bronze por trás das barra de aço

Se renda, entendo o que ataca, a cegueira amola a faca

Da má lida com a existência, faz a luz da essência opaca

E nas crianças o brilho tá, olho lá que é pra enxergar

Agregar o meu viver o que devemos preservar

Rumo ao amor! Não importa qual caminho trilhe

Não se ilhe, sonho que se sonha junto é o maior louvor”

Minha admiração pela carreira dele é intensa, é pura. Ser humano em essência, humilde, simples e com um pensamento à frente do seu tempo. Criolo merece respeito e muitos “play” em suas canções. Numa geração em que são “novas embalagens para antigos interesses” não subestimemos o talento de uma mente pensante.

Se não existe amor em São Paulo, talvez exista dentro de nós, não precisamos sofrer para saber o que é melhor. Reme rumo ao amor.

Amem. (e sem acento para amarmos mais).

* * *

(Meu primeiro artigo escrito no dia 03/05/15 para aceitação na criação do meu blog no site Obvious Magazine)

Taie
Enviado por Taie em 14/05/2015
Reeditado em 15/05/2015
Código do texto: T5241145
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