A Crítica: Tom Zé, gênio ou insano?

Há algum tempo, ouvi falar de um tal Tom Zé. Ouvi algumas faixas e minha primeira impressão foi hilariante. Achei cômica a forma do artista em fazer música. De certa forma, foi um choque. Para tentar compreende-lo é necessário estar aberto ao novo, ao inusitado. Demorei alguns tempos para digerir. Porém, na madrugada de uma noite qualquer, assistindo o clássico Jô Soares, me deparei com uma entrevista do cujo dito, falando sobre o novo álbum de trabalho e suas perspectivas de mundo. A partir deste dia, passei a admirá-lo, a degustar a arte que o mesmo exala através de sua musicalidade única. A originalidade aliada com o lúdico retrata de forma excepcional o mundo acerca das questões sociais e comportamentais. No novo disco “Vira Lata na Via Láctea”, ele transparece a visão periférica de uma realidade escancarada, a dependência da tecnologia pela geração y (nascidos a partir da década de 80, ou 90, segundo concepções distintas), guiada pelos avanços tecnológicos desenfreados. Ele satiriza o uso dos principais meios de comunicação a fim de despertar no ouvinte a visão crítica sob a banalização da tecnologia. Em certa passagem, ele indaga: “(...) Daqui a alguns anos vamos ter que governar. Infelizmente governar.” Ele incita o receptor à necessidade de se impor à tecnologia a fim de não deixar que a mesma avance e tome controle do ser humano, que já se vê fragilizado e dependente.

De fato, o ser humano se tornou dependente. Não consegue mais conviver socialmente como há 20 anos. Acha mais cômodo se comunicar virtualmente, mesmo que a distância entre eles seja mínima.

A tecnologia está moldando o homem a novas concepções e estilos de vida, modificando até mesmo a sinceridade e a capacidade de se expressar fisicamente, ou seja, no âmbito virtual, o internauta se vê mais encorajado, a fim de se expressar, mesmo que isso cause reflexos negativos noutro. Os dedos agem mais rápido que a mente. Parece infundado, já que o cérebro manda os comandos responsáveis pelo movimento, circulação, uma heterogênea interação entre corpo e mente. Mas na prática, isso de fato que acontece? Daí que se dá início aos desvios de conduta virtual, uma vez que o emissor age inconsequentemente, desprovido dos efeitos das palavras, de teor ofensivo, que acabam gerando complicações judiciais, de acordo com a nova lei de Internet, criada para suprir a grande demanda de crimes virtuais.

O fato é, já fomos mais inteligentes.

Ao decorrer da faixa, intitulada "Geração Y", Tom Zé indaga: "[...] Porque já somos o pós-humano E o novo antropomórfico bando, ô". Ele transparece o sentido de disfunção, uma distorção na evolução humana que de tanto evoluir, se encontra em um patamar frenético, porém um tanto estulto.

Vale a pena conferir o novo álbum de trabalho deste artista, tão irreverente, enigmático, quanto astucioso, não se prendendo a paradigmas, mantendo-se impenetrável às velhas e distorcidas concepções, antiquadas desse novo mundo.

Para adquirir o CD: https://itunes.apple.com/br/album/vira-lata-na-via-lactea/id931180279

Por: Italo Heric

Bacharel em Direito