RAUL SEIXAS: UMA ANÁLISE DOS EFEITOS DE SENTIDO NA MÚSICA MEU AMIGO PEDRO

GOVERNO DO ESTADO DO PIAUÍ

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI

UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL – UAB

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – NEAD

ESPECIALIZAÇÃO EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS

RAUL SEIXAS: UMA ANÁLISE DOS EFEITOS DE SENTIDO NA MÚSICA MEU AMIGO PEDRO

Maria Gerusa Gomes Santos

RESUMO

A intertextualidade é conhecida como conceito bastante aplicado na atualidade, por ser um fenômeno no qual há uma correlação entre os textos estabelecendo um diálogo de forma explícita ou não. O presente artigo traz como objeto de estudo a música “ Meu Amigo Pedro” do roqueiro brasileiro Raul Santos Seixas, sobre a luz da intertextualidade. Objetivando investigar quais recursos intertextuais utilizado na música “Meu Amigo Pedro do cantor e compositor Raul Seixas” Como objetivo específico pretende-se verificar quais os tipos de intertextualidade presente na música de modo a verificar qual é o tipo de intertextualidade mais presente na música. Para o alcance dos objetivos propostos utilizou-se dos aportes teóricos de Koch (2007) (2008), Elias ( 2008) , Bakhtin,( 2208) Cavalcante e Bentes (2008). A metodologia utilizada foi a de cunho bibliográfico tendo como corpus de análises a letra música “Meu Amigo Pedro” feitas as análises constatou-se que o músico fez uso das relações intertextuais tendo como fator recorrente e único a intertextualidade implícita.

Palavras Chaves:; Intertextualidade ; Música; Texto, Autor/Ouvinte

INTRODUÇÃO

Diante de um texto, um determinado o leitor ou ouvinte proeminente, logo perceberá que não é um texto totalmente inédito, visto que há presença de elementos como frase, por exemplo, onde o leitor faz alusão a algo que já tenha lido ou escutado, mediante pensamento é possível entender que todo texto é construído por meio de outros textos, mesmo não havendo uma citação direta do texto sobre o outro.

No que concerne às produções textuais, as mesmas sofrem influencias por haver relação ao lugar, em que se vive a linguagem utilizada, o momento histórico, pela qual a sociedade passa. No pensamento de Bazerman (2006, p. 88) “nós criamos os nossos textos a partir do oceano de textos anteriores que estão à nossa volta e do oceano de linguagem em que vivemos e compreendemos os textos dos outros dentro desse mesmo oceano”.

Desse modo, é importante ao leitor identificar e reconhecer a presença de um texto no outro, para que haja uma interação textual, de um diálogo entre o que chamam de intertextos revelando assim a capacidade que os escritores possuem em estabelecer as relações de um texto com outro, fazendo com que seja entendidas as suas ideias e pensamentos. A não identificação direita da presença de um texto sobre outro, faz com o leitor faço uso das inferências com maior proeminência.

Zani (2003) assegura que a intertextualidade ou dialogismo trata-se de uma referência ou uma introdução de um elemento discursivo por meio do outro. Por outro lado Gouvêa (2007) assevera que o termo intertexto está ligado à presença de um texto em outro, sobre a influencia direta ou indireta do mesmo, assegurando assim que a intertextualidade acontece de fato quando há fatores que fazem a utilização de outros textos.

Segundo Bazerman (2006, p. 92), a intertextualidade se resume em, “as relações explícitas e implícitas que um texto ou um enunciado estabelecem com os textos que lhe são antecedentes, contemporâneos ou futuros (em potencial).” Já para

Koch (2007) são vários os tipos de intertextualidade: intertextualidade stricto sensu, intertextualidade temática, intertextualidade estilística, intertextualidade explícita, intertextualidade implícita, intertextualidade intergenérica, intertextualidade tipológica, intertextualidade lato sensu.

2.INTERTEXTUALIDADE

A intertextualidade começa a surgir com Kristeva (1974), esta por sua vez voltada para a crítica literária , segundo a autora “ todo texto era um mosaico”, ou seja, citações de outros textos, transformando assim em outro numa rearticulação textual, e determinado texto de repente ganha novas características.

Nesse pensamento, pode-se ver a intertextualidade como um fenômeno alocado na concepção de que em todo texto haverá sempre a presença de outros textos, fator esse corroborativo com que assegura a autora mencionada quando diz que um texto é um mosaico repleto de citações de outros textos.

Na perspectiva de Koch, Bentes e Cavalcante (2008), a intertextualidade quando tomada em sentido amplo, ou seja, para estabelecer qualquer relação de diálogo entre um texto e outro, sem necessariamente haver a materialização do intertexto, classifica-se como sendo intertextualidade lato sensu, enquanto aquela em que o intertexto se materializa no outro texto, é chamada de intertextualidade stricto sensu. No pensamento de Bakhtin (1999, p. 11) um sujeito social e ideologicamente situado, que se constitui na interação com o outro. Eu sou na medida que interajo com o outro. É o outro que se dá a medida do que sou. A identidade se constrói nessa relação dinâmica com a alteridade. O texto encena, dramatiza essa relação.

Na perspectiva de Koch (2005, p. 30), “o sentido não está no texto, mas se a construção que o leitor faz a partir dele” desse modo, faz-se necessário que se utilize de estratégias cognitivas e interacionais, a fim de extrair do texto as significações bem como os recursos linguísticos, uma vez que corroboram para a existência do sentindo.

Para a pesquisa escolhida não será utilizada a intertextualidade abrangendo a Latu-Sensu e sim a Stricto- Sensu: a stricto sensu é a própria intertextualidade, por haver relações entre os textos, bem como a alusão a memoria social e discursiva. No que diz respeito a memoria social está os conhecimentos de mundo em que o indivíduo armazena na mente e as utilizam quando se depara com a memoria discursiva desse modo, o leitor pode adequá-las em determinado contexto. Segundo Koch ( 2006, p. 86)

A intertextualidade é elemento constituinte e constitutivo do processo de escrita/leitura e compreende as diversas maneiras pelas quais a produção/recepção de um dado texto depende de conhecimentos de outros por parte dos interlocutores, ou seja, dos diversos tipos de relações que um texto mantém com outros textos.

Quando se estuda a intertextualidade e válido lembramos de que ao longo dos anos o texto ganhou diferentes conceitos e abordagens, entretanto será centrada aqui uma concepção sócia interacionista, como bem elucida Koch e Elias (2008, p. 12).

O lugar mesmo de interação é o texto cujo sentido “não está lá”, mas é construído, considerando-se, para tanto, as “sinalizações” textuais dadas pelo autor e os conhecimentos do leitor, que, durante todo o processo de leitura, deve assumir uma atitude “responsiva ativa".

Desse modo, Koch, Bentes e Cavalcante (2008) a intertextualidade Stricto Sensu está classificada em quatro tipos: sendo elas: temática, estilística, explícita e implícita, para a temática, as autoras mencionadas dizem que é tida como a relação de diálogo que dois ou mais textos mantém entre si.

Já para a composição da estilística, as autoras, consideram que a mesma constitui-se essencialmente na forma, mas também veicula o conteúdo, corroborando assim com o pensamento de Bakhtin (2006), segundo o qual, toda forma emoldura preciosos valorativos, ou seja, a forma composicional de um gênero tem um aspecto funcional, e quando o autor recorre a um determinado intertexto, já encerra a intencionalidade, a estilística centra-se na composição e estilo.

No que diz respeito a intertextualidade explícita é caracterizada segundo Koch Bentes e Cavalcante (2008) como a possibilidade que se tem de fazer um resgate do intertexto pela menção feita a este em um segundo texto, ou seja, como bem exemplifica o nome da intertextualidade explícita, há menção direta da fonte utilizada.

No que concerne a intertextualidade implícita a mesma é caracterizada pela presença de um intertexto, mas sem mencioná-lo explicitamente, segundo Koch e Elias (2008, p. 92), esse tipo de intertextualidade ocorre sem citação expressa da fonte cabendo ao interlocutor recuperá-lo na memoria pra compor o sentido do texto.

2.1RAUL SEIXAS, O “MALUCO BELEZA”

Nascido em 28 de junho de 1945, em Salvador Bahia, Raul Santos Seixas, cantor e músico, considerado como pioneiro do Rock Brasileiro, conhecido como “ pai do rock” e “maluco beleza” sua obra é composta de 21 discos lançados durante os 25 anos de carreira musical, tradicionalmente seu estilo e classificado como rock e baião . Segundo seu parceiro musical Marcelo Nova, em entrevista o cantor gostava de Rock Roll e Bluees.

O primeiro álbum lançado em 1968 ganhou o nome de Raulzito e os panteras, no entanto, o cantor só ficou “ conhecido” mais tarde no ano de 1973 com as composições “ouro de tolo”, “ mosca na sopa” e “metamorfose ambulante”. Ambas escritas no contexto da Ditadura Militar ocorrida no Brasil nos anos 1964. Em 1974 Raul Seixas ganhou novo estilo musical, ganhando nome como “místico” evidenciado nas músicas como Sociedade Alternativa e Gita.

No ano de 2008, a Revista Rolling Stone Brasil elaborou uma lista dos cem (100) maiores artistas da música brasileira, o “Raulzito” encabeçou a 19ª posição demostrando assim quão importante é a sua música no cenário musical brasileiro, Raul com sua intelectualidade musical descreveu através da música a realidade que o povo não queria, ou não via. Numa entrevista concedia ao Jornal Pasquim : Raul afirmou sua misticidade quando disse o seguinte

É uma escada. Um estágio. Nós estamos no primeiro estágio. Estamos transando com a fase "Terra" da coisa. Esse primeiro estágio tem que ser assim. O segundo estágio é outra coisa, já é mais aberto. Não se pode começar uma coisa assim, você tem que manipular. Por exemplo, Raul Seixas. Eu tô segurando Raul Seixas ali embaixo, como uma marionete. Eu tô aqui em cima. Eu sei até que ponto ele deve subir um pouquinho mais, cada vez mais. Mas nunca ele pode chegar aonde eu estou.

Mediante ao relato do músico , percebe-se a misticidade, o transcendental pensamento do que ele viveu, a sua maneira, foi “santo”, foi “diabo”, foi “sacro” foi “profano” foi simplesmente Raul o “maluco beleza” o pai do Rock Brasileiro. Além de ser considerado o pai do Rock Brasileiro, Raul foi também um dos maiores críticos da ditadura militar, muitas de suas canções foram nesse contexto e por isso muitas de delas foram censuradas.

Raul morreu cedo, mas deixou um legado musical abrangente e expressivo, embora muitas de suas canções datem de mais ou menos meio século, é possível escutarmos até hoje pela “nova geração” e não apenas para aqueles que fizeram parte do tempo musical dele. Suas composições atravessaram gerações, consegui através das músicas anteceder muito do que hoje pode ser visto. Raul fez parte do contexto contracultura ele seguia a ideia de não querer mais o mundo como sistema antigo, onde o indivíduo era “mecânico” seguindo um sistema governamental ditatorial que perdurou até meados dos anos de 1945.

3. METODOLOGIA

Nossa pesquisa buscou analisar os efeitos de sentido ocorrido por meio da intertextualidade tendo como fim mostrar a importância do intertexto na produção textual. Nessa concepção a presente pesquisa tem como objetivo geral, investigar quais recursos intertextuais utilizado na música “Meu Amigo Pedro do cantor e compositor Raul Seixas” Como objetivo específico pretende-se verificar quais os tipos de intertextualidade presente na música de modo a verificar qual é o tipo de intertextualidade mais presente na música.

Para o alcance dos objetivos propostos fez-se necessário a escuta e a leitura da letra da canção “ Meu Amigo Pedro” mais especificamente o trechos analisados, fazendo a análises intertextuais mais recorrentes como forma de identificar quais os tipos de intertextualidade mais encontrado.

Dentro as mais de 400 músicas escrita pelo Raul Seixas e em parcerias com outros músicos optou-se por analisar apenas “Meu Amigo Pedro” , esta por sua vez mantem uma carga de intertextualidade implícita, fator esse contribuinte pela escolha em analisar a referida canção.

De acordo com OLIVEIRA, (2002, p. 62), “a pesquisa tem como objetivo estabelecer uma série de compreensões a fim de construir respostas para as indagações e questões levantadas nos diversos ramos do conhecimento humano”.

Mediante o exposto explica-se que a presente pesquisa é efetivada pela metodologia da revisão de literatura de caráter integrativo onde é possível construir um apanhado reflexivo e ao mesmo tempo crítico sobre o assunto que se investiga. Nesse sentido, segundo Mendes, Silveira e Galvão (2010) para erguer um trabalho com base na referida metodologia primeiramente deve-se: identificar o tema, selecionar a literatura a ser utilizado, definir quais serão as informações extraídas, categorizar o estudo, avaliar a qualidade da informação teórica, interpretar os dados e apresentar uma resposta a síntese do conhecimento

4. ANALISE DA MÚSICA “ MEU AMIGO PEDRO”

A música Meu Amigo Pedro foi escrita em 1975, em parceria com seu amigo Paulo Coelho. Depois da morte do músico começaram a surgir controversas e questionamentos sobre para quem ele tinha escrito a canção, alguns dizem que foi para seu “pinto” outro afirmam que foi composta para o pai de Paulo Coelho, mas em entrevista seu irmão caçula Plínio Seixas afiram: “ eu sou o Pedro da música foi para mim que ele escreveu a música e ainda me ligou perguntando se eu estava chateado” .

Muitas das canções de Raul estão associadas ao contexto sócio político, músicas como: “Ouro de Tolo”, “ Sociedade Alternativa” “Cowboy Fora da Lei” “Óculos Escuros” “Rock das Aranhas” entre outras estão relacionada ao contexto da Ditadura Militar, entretanto suas canções não estão relacionadas apenas ao contexto político, musicas como “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás” foi considerada “profana” , transcende ao que pregado por muitas religiões para alguns faz associação com o “diabo” assim como em “Gita”, ambas são músicas que transcende ao pensamento. Como já mencionado as músicas do Raul estão cheias de plurissignificação.

A análise feita tem como objetivo demostrar a pluralidade de conceitos presentes na música, para tanto considerou-se necessário o uso da intertextualidade ponto de grande relevância, levando em consideração que apresentam ao ouvinte a não compreensão em apenas ouvi-la, sem que faça uma associação a algum contexto, a canção escolhida o momento de sua composição está bem presente na atualidade assim como pode-se fazer alusão ao que foi escrito desde o começo do mundo.

Letra Da Música Meu Amigo Pedro

Muitas vezes, Pedro, você fala

Sempre a se queixar da solidão

Quem te fez com ferro, fez com fogo, Pedro

É pena que você não sabe não

Vai pro seu trabalho todo dia

Sem saber se é bom ou se é ruim

Quando quer chorar vai ao banheiro

Pedro, as coisas não são bem assim

Toda vez que eu sinto o paraíso

Ou me queimo torto no inferno

Eu penso em você, meu pobre amigo

Que só usa sempre o mesmo terno

Pedro, aonde você vai eu também vou

Pedro, aonde você vai eu também vou

Mas tudo acaba onde começou

Tente me ensinar das tuas coisas

Que a vida é séria e a guerra é dura

Mas se não puder, cale essa boca, Pedro

E deixa eu viver minha loucura

Lembro, Pedro, aqueles velhos dias

Quando os dois pensavam sobre o mundo

Hoje eu te chamo de careta, Pedro

E você me chama vagabundo

Pedro, aonde você vai eu também vou

Pedro, aonde você vai eu também vou

Mas tudo acaba onde começou

Todos os caminhos são iguais

O que leva à glória ou à perdição

Há tantos caminhos, tantas portas

Mas somente um tem coração

E eu não tenho nada a te dizer

Mas não me critique como eu sou

Cada um de nós é um universo, Pedro

Aonde você vai eu também vou

Pedro, aonde você vai eu também vou

Pedro, aonde você vai eu também vou

Mas tudo acaba onde começou

É que tudo acaba onde começou

O nome dado à canção, inicialmente nos remetemos ao um amigo, condiz bem com o título, entretanto, é possível compreendermos que não se trata de amigo qualquer, mas de um amigo em especial, e considerando a relação profissional e particular entre Raul e Paulo Coelho é compreensível que o ouvinte associe a ambos, no entanto “Pedro” da música é seu irmão caçula Plínio Seixas, e considerando o contexto de vivência de cada um a letra nos traz um entendimento de um conflito de gerações de opiniões, isso porque segundo o Plínio ele era o “certinho” e Raul o “maluco beleza” .

A ocorrência maior de intertextualidade presente na canção “ Meu Amigo Pedro” é a implícita, também chamada de alusão: Por ter sua utilização implícita, a alusão, diferentemente de outros tipos de intertextualidade, torna-se mais difícil o seu reconhecimento. Para que haja o reconhecimento da alusão, o leitor precisa fazer uso de uma inferência maior, ou seja, fazer dos seus conhecimentos prévios ou de antigos fazendo uma relação com as informações novas. Embora a presença da intertextualidade implícita não seja percebida por determinado leitor, o texto não perde seu valor, uma vez que certamente, outro leitor mais proeminente conseguirá fazer a inferência e reconhecer o texto antigo através da alusão.

Na música “o trecho “quem te fez com ferro, te fez com fogo” o leitor ouvinte proeminente ao se deparar com esse pequeno trecho pode associá-lo a passagem Bíblica “ Deus dará a provação, mas dará o escape” e mesmo que o autor da canção tenha feito uso de implícita o leitor com maior carga de conhecimentos poderá fazer uma “ponte” entre esses dois contextos. Mesmo o músico não citando a mitologia grega considerando o conhecimento enciclopédico e de mundo do indivíduo e associando a própria mitologia grega onde os grandes ferreiro forjava as espadas no fogo para que elas tornasse cada vez mais forte, para que pudesse defender que a segurasse

Voltando para os primeiros versos da música onde há a presença do trecho “muitas vezes,Pedro, você fala sempre a se queixar da solidão, “solidão” a presença dessa palavra deixa- no um conceito variável, uma vez que essa palavra é um termo marcado, ou seja, ela terá sempre a mesma significação, embora ocorro com indivíduo em contextos diferentes e por consequência a torna variável, uma vez que o indivíduo pode sentir-se sozinho por querer e outro o próprio indivíduo pode ter “tudo” e mesmo assim sentir-se sozinho, tal palavra pode ser concebida como ícone apresentando variação uma vez que faz com que o indivíduo faça uso dos sentidos mais profundos como salienta Santaella:

E isto porque esse conjunto de qualidades inseparáveis, que lá se apresenta in totum, não representa, de fato, nenhuma outra coisa. O objeto do ícone, portanto, é sempre uma simples possibilidade, isto é, possibilidade do efeito de impressão que ele está apto a produzir ao excitar nosso sentido. Daí que, quanto mais alguma coisa a nós se apresenta na proeminência de seu caráter qualitativo, mais ela tenderá a esgarçar e roçar nossos sentidos.

Na música de análise há um trecho que embora tenha sido escrito num contexto em que doença conhecida atualmente como “mal do século” a depressão era tão vigente como na atualidade, concerne bem com o contexto as realidade atual quando diz que: “ vai para seu trabalho todo dia, mas não sabe se é bom ou se é ruim quando quer chorar vai ao banheiro Pedro as coisas não são bem assim”. É possível entender a relação que o trecho tem com a atualidade. Mesmo não fazendo referência direta o ouvinte proeminente consegue fazer a associação com o contexto.

“ Pedro aonde você vai eu também, mas tudo acaba onde começou” .

No trecho analisado há também a presença da alusão, ou seja, da intertextualidade implícita relacionado, nesse exemplo, Raul não faz menção ao contexto bíblico, deixando-o para o ouvinte fazer a relação seus conhecimentos prévio, entretanto, como já mencionado a alusão no texto faz com que o leitor utilize-se de inferências mais profunda, para assim conseguir fazer uma relação com o que o autor quis diz ao proferir tal pensamento.

No caso do exemplo, acima, uma pessoa que não possui conhecimento sobre a passagem a bíblica, dificilmente conseguirá associar, uma vez que o músico não cita fonte, nem tampouco algo que possa fazer com que o leitor/ouvinte entenda facilmente, tornando assim um fator implícito.

Para o leitor/ouvinte que possui um conhecimento de mundo mais expressivo, facilmente associará a frase ao trecho bíblico, presente em Gêneses e Eclesiastes “ “tudo vem do pó e tudo volta ao pó” nada está explícito, não há nenhum fragmento que o correlacione, ou seja, houve a inserção do intertexto alheio, sem fazer menção direta a fonte.

. São trechos que melhor corrobora com o discurso de Raul na canção escrita para seu irmão caçula Plínio que seria o “certinho” e ele o “bagunceiro” e ao discursar sobre isso entende-se que embora ele o “ovelha negra” e o seu irmão o “bonzinho” eles iriam ao mesmo lugar, pois tudo acaba onde começou, fato que os cristão associa a criação de Adão que foi feito do pó e quando morre retorna ao pó.

Sabendo que a interpretação está presente em toda e qualquer manifestação da linguagem, e que é possível interpretar e cada interpretação feita pelo indivíduo pode está relacionada ao contexto. No trecho em que Raul diz: “ todos os caminhos são iguais, o que leva a glória ou a perdição, há tantos caminhos, tantas portas, mas somente um tem coração”. Logo que o ouvinte escuta a música associa-se as questões filosóficas e também do cotidiano em que é comum escutarmos as pessoas dizendo que há dois caminhos o do “mal” e o do “bem” e que ao escolher o do bem estará no paraíso e ao escolher o do mal irá para o inferno. Aqui também não há uma referência ou citação direta a algum livro, escritor, textos etc, ou seja, o leitor/ouvinte, mais uma vez terá que fazer uso das inferências de forma bem expressiva.

Embora Raul não tenha mencionado a fonte direita para escrever o exemplo acima, um leitor com carga expressiva de varias leituras, bem como um ouvinte assíduo do músico importando para não apenas a música, mas também conhecer sobre quem a escreveu, facilmente irá fazer uma relação ao filósofo místico oriental Osho este por sua vez estudado por pelo músico.

O próprio filósofo oriental também utilizou-se de intertextualidade implícita para fazer seu discurso: “ sempre que houver alternativas, tenha cuidado. Não opte pelo conveniente pelo confortável, pelo respeitável, pelo socialmente aceitável, pelo honroso. Opte pelo que gostaria de fazer, apesar de todas as consequências. Considerando o pensamento do filosofo ao que discursou Raul é compreensível associar ao fato de que seu irmão Plínio vivia sempre sua vida parada enquanto ele viva sua “loucura”. Ainda corroborando com o pensamento, o mítico oriental Osho dá-nos sua contribuição para interpretação do seguinte verso: “Toda vez que eu sinto o paraíso Ou me queimo torto no inferno Eu penso em você, meu pobre amigo Que só usa sempre o mesmo terno”

“Você tem que decidir ser você mesmo. Você tem que tomar sua vida em suas próprias mãos. De outra maneira a vida vai seguir batendo em sua porta e você nunca estará lá; você estará sempre em algum outro lugar”.

Toda vez que eu sinto o paraíso Ou me queimo torto no inferno Eu penso em você, meu pobre amigo Que só usa sempre o mesmo terno

Raul também ainda acrescentou “eu não tenho nada a te dizer, não me critique como eu sou cada um de nós é um universo aonde você vai eu também vou”. No decorrer da música é visível a frase “aonde você vai eu também vou” oportunizando ao ouvinte e leitor a compreensão de que não importa o que faça todos tem o mesmo destino, fato esse que acaba dando o entendimento de que o fim para todos é igual, ou seja, não há como escapar da morte.

“Tente me ensinar das tuas coisas Que a vida é séria e a guerra é dura Mas se não puder, cale essa boca, Pedro E deixa eu viver minha loucura Lembro, Pedro, aqueles velhos dias Quando os dois pensavam sobre o mundo Hoje eu te chamo de careta, Pedro E você me chama vagabundo“

Nota-se que Raul não toma nota sobre qualquer relação direta com a fonte. No caso desse exemplo, o indivíduo só entenderá o porquê se tiver conhecimento sobre como foi a relação entre Raul e seu irmão Plínio quando crianças, quando os dois brincavam imaginando outro mundo e os caminhos que cada um percorreu quando adultos, desse modo torna-se imprescindível que o sujeito tenha conhecimento sobre a relação dos dois, visto que mais uma vez o músico deixa seu discurso implícito.

O ouvinte e conhecedor, pesquisador, fã do músico poderá compreender que ele poderá ter feito uso do hipertexto no místico oriental A vida só é possível através dos desafios. A vida só é possível quando você tem tanto o bom tempo quanto o mau tempo, quando tem prazer e dor; quando tem inverno e verão, dia e noite; quando tem tristeza tanto quanto a felicidade, desconforto tanto quanto conforto. A vida passa entre essas duas polaridades. Movendo se entre essas duas polaridades, você aprende a se equilibrar.

O que torna a letra da música mais “intrigante” é que o autor em momento algum cita fontes, faz uso de palavras explícita dando ao leitor/ouvinte a oportunidade de fazer uma pequena inferência, ao contrario, a música está toda pautada na intertextualidade implícita, ou seja, precisa-se estuda-la bem, com ouvinte de não penas do conhecimento de mundo, mas também o enciclopédico. como pode ser visto no exemplo a seguir.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A música Meu Amigo Pedro pode-se considerar como conflito de gerações entre o “certo e o errado” , mas também pode ser considerada transcendental, tendo em vista que a mesma faz com que o leitor ouvinte aguce seus sentidos para interpretá-las a presença da intertextualidade implícita é recorrente em todo o corpus da música, ou seja, embora o autor não mencione fator, fontes, nomes etc, o leitor proeminente consegue compreender, mesmo que sendo preciso uma carga expressiva de conhecimento de mundo e da própria história do músico.

É possível compreender a pluralidade de significações presente nas canções, é possível relaciona-la ao contexto atual, e até mesmo com o que se sabe da criação do mundo. Raul com sua genialidade e estudos filosóficos coloca-os em evidência na música escrita para seu irmão caçula Plínio que embora tenha crescido junto a Raul, tornou-se um indivíduo metódico enquanto Raul era o “maluco beleza”.

Na musica é também comum o ouvinte leitor associar trechos as situações do cotidiano e também do conhecimento do senso comum. A intertextualidade implícita ganha seu lugar na música, ao ponto que o autor foi cuidadoso ao não fazer citação ou referência a fontes.

O estudou procurou não só mostrar que há a intertextualidade presente na fala do Raul na música analisada, e mostrar aos tipos de intertextualidades e qual o mais recorrente , nesse prisma o objetivo desse trabalho é investigar quais recursos intertextuais utilizados na música, feito a analisa contatou-se o uso da intertextualidade implícita.

ABSTRACT

The intertextuality is known as a concept rather applied nowadays, being a phenomenon in which there is a correlation between the texts establishing a dialogue explicitly or not. This article has as object of study the song "My Friend Peter" the Brazilian rock star Raul Seixas Santos, on the light of intertextuality. Aiming to investigate what intertextual resources used in the song "My Friend Peter Singer and songwriter Raul Seixas" As a specific goal you want to check what types of this intertextuality in music in order to find what is the most this kind of intertextuality in music. To achieve the proposed objectives we used the theoretical contributions of Koch (2007) (2008), Elias (2008), Bakhtin (2208) Cavalcante and Bentes (2008). The methodology used was the bibliographical nature having as corpus analysis the letter song "My Friend Peter" made the analysis it was found that the musician has used the intertextual relations having as a recurring factor and only the implicit intertextuality.

Keywords:; Intertextuality ; Music; Text, Author / Listener.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. Ed São Paulo: Martins Fontes, 2006

BAZERMAN, Charles. et al. Gênero, agência e escrita. São Paulo: Cortez, 2006.

CAVALCANTE, M.M. Intertextualidade: Um diálogo entre texto e discurso. 2007.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Ler e compreender: os sentidos do texto. São

Paulo: Contexto, 2006.

KOCH, Ingedore G. V. et al. Intertextualidade: diálogos possíveis. São Paulo:

Cortez, 2007

KOCH, I, V; BENTES, A, C; CAVALCANTE, M, M. Intertextualidade: diálogos possíveis. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2008.

KOCH, I, V; ELIAS, V, M. Ler e compreender os sentidos do texto. 2. ed. São Paulo:

SEIXAS, Raul Santos. Entrevista Concedida ao Jornal Pasquin. Rio de Janeiro, novembro 1973.

KRISTEVA, Julia. Introdução a semanálise. Trad. Lúcia Helena França Ferraz. São

______________“Sentidos em fuga: efeitos da polissemia e do silêncio” in Sujeito, Sociedade, Sentidos. Guilherme Carroza. Mirian dos Santos e Telma Domingues da Silva (orgs), Campinas: RG, 2012

pensador.uol.com.br/autor/osho/ data de acesso 14 de agosto de 2016

ZANI, Ricardo. Intertextualidade: considerações em torno do dialogismo. In: Em Questão. Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 121-132, jan./jun. 2003.

Geusahenrico
Enviado por Geusahenrico em 20/09/2016
Código do texto: T5766512
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.