Brasil: a música popular entre 1900 e 1920.

Nos anos vinte a música popular brasileira começa oficialmente a passar por uma transformação. Era a era do rádio despontando e pesquisas nos indicam que, em meio a esse processo de legitimação a atividade dos músicos populares assumiu um caráter ambíguo, pois ocupava uma posição inferior em relação à música erudita europeia, mas ao mesmo tempo era largamente difundida pela sociedade e reconhecida como uma importante expressão cultural por alguns agentes da cultura legítima. Além disso, vale destacar que “a identidade de músico oferecia uma compensação a outros signos sociais bem mais negativos, como ser ‘negro’, ser ‘pobre’, ‘não ter escolaridade’ ou ser ‘uma mulher separada do marido. É essa ambiguidade da condição do músico popular que oferece uma base para compreender a vaidade e ressentimento dos músicos testemunhada pelos escritores da época. Catullo da Paixão Cearense, autor controverso de Luar do Sertão irritava-se e recusava-se a continuar sua execução, quando alguns mal-educados não o ouviam declamar sua poesia em silêncio. Ernesto Nazareth era descrito como fechado em uma “torre de marfim” por algumas pessoas que o conheceram e, Chiquinha Gonzaga reclama amargamente, nas raras cartas encontradas por sua biógrafa, Edinha Diniz, sobre a injustiça que sofreu ao ter suas composições boas e lindas preteridas por “tudo que há de indecente, porco e nojento dos novos compositores.

Com isso se vê que os produtores da época já estavam começando a impor o seu interesse em ganhar mais com as medíocres composições que caíssem no gosto popular e fossem mais comerciais.

A partir de 1902 já se gravava na casa Edison no Rio de Janeiro: canções, dobrados, valsas, polcas, lundus. Os sucessos populares dos primeiros vinte anos do século XX não eram só de música genuinamente brasileira. Havia valsas, tangos brasileiros, dobrados, jongo, e até ritmos importados. Os maiores sucesso dessa época eram as canções: “Ô Abre Alas” da Chiquinha Gonzaga, o dobrado American Patrol, Ontem ao Luar, A Conquista do Ar, Stars And Stripes Forever, Caboca de Caxangá, O Forrobodó, O meu Boi Morreu, Flor do mal, Já te Digo, Apanhei-te Cavaquinho, Atraente, Canção do Marinheiro, Pelo telefone, why Dont You do Right? cantada pela cantora Peggy Lee, Samba de nego, Urubu e Tristezas do jeca.

Em 1923 começam as transmissões da rádio Sociedade por Roquette Pinto, mas foi a rádio Mayrink Veiga a mais importante emissora do Rio de Janeiro nos anos 30 e 40. A partir da década de 1930 é completamente novo o panorama na divulgação da nossa música, sendo o rádio seu maior veículo.

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