A filosofia de Belchior

E Belchior se foi para mais distante de nós. Sem eufemismos, ele gostava de uma fuga. Saiu de Sobral para estudar na capital. Durante o ginásio, sumiu, depois apareceu na rua para um amigo vestindo um hábito Franciscano. No seminário estudou latim, foi um contumaz leitor dos clássicos universais. Começou o curso de medicina, mas também resolveu abandoná-lo quase no fim. Foi para a Cidade Maravilhosa que, ele numa canção disse não ser nada disso, morou até nos cabarés Lapa. Por lá, ganhou Festival de Música, foi gravado por Elis Regina, a maior cantora do nosso país e, finalmente, o homem depois de famoso e reconhecido como grande poeta e filósofo da canção, resolveu se exilar no Uruguai.

Belchior foi um observador das inquietações próprias da juventude de sua época. E as inquietações continuam hoje em dia de forma mais acentuada ainda. Relembremos algumas frases do mestre:

“Viver é melhor que sonhar... deixemos de coisa cuidemos da vida pois, senão chega a morte ou coisa parecida e nos arrasta moço sem ter visto a vida”. E eu digo, se estamos vivos, uma coisa é certa, um dia não estaremos mais, pois a morte, jamais adiará sua sentença, então deixemo-la bem para lá. É, como disse Confúcio: Quem não sabe o que é a vida, como poderá saber o que é a morte? Penso, logo existo! Disse Descartes, e isso basta para se cogitar um pouco sobre esse lado de cá da vida.

Belchior, foi um poeta ávido pela vida, ainda jovem cantou: “Eu quero corpo, tenho pressa de viver”! Como provinciano e cidadão do mundo, falou que era “como os seus pais”, só que estes, venceram, e o sinal estava fechado para os jovens como ele. Afirmou que quem “lhe deu uma ideia de uma nova consciência e juventude, estava em casa guardado por Deus contando os seus metais”.

“O rapaz latino americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importante e vindo do interior, não estava interessado em nenhuma teoria, em nenhuma fantasia nem no algo mais, sua alucinação era suportar o dia-a-dia e seu delírio era a experiência com coisas reais”

Foi alguém angustiado como um “goleiro na hora do gol”, e disse querer “viver a divina comédia humana onde nada é eterno”. Reconheceu ser um “sujeito de sorte, porque, apesar de muito moço, sentia-se são e salvo e forte: “Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro. Ano passado eu morri, mas este ano eu não morro!”

É, um artista não morre, ele se encanta, “enquanto houver espaço corpo tempo e algum modo de dizer não, Belchior canta!”

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 23/03/2018
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