O mapa do tesouro
 
      A capacidade de pensar e sentir – que nos qualifica como seres humanos – implica em outra capacidade, que é a de escolher. Assim, tudo que fazemos na vida são escolhas ditadas por critérios desenvolvidos pelo nosso sistema neurológico. Esses critérios funcionam como “programas” que são instalados no nosso cérebro, da mesma forma que programas de trabalho são implantados na CPU de um computador, para que a máquina execute este ou aquele serviço. Por isso é que o nosso cérebro pode ser comparado à CPU de um computador e o nosso sistema nervoso a uma espécie de rede que transmite ao organismo os comandos que ele gera.
  Os cinco sentidos, que recolhem no mundo externo as informações, são como os terminais de um sistema de computação. Nossos olhos escaneiam o mundo, nossos ouvidos captam os seus sons, e pelos sentidos do paladar, do aroma e do tato, trazemos para dentro de nós o gosto, o cheiro e a conformação física que ele tem. É através desses sofisticados terminais nervosos que nós nos comunicamos com a realidade.  Se fossemos privados de todos os sentidos, o nosso cérebro simplesmente desligaria e nós nos tornaríamos menos que vegetais, pois estes, seja qual for a condição em que existam, serão sempre úteis para o sistema. Nós não, porque a natureza nos construiu para uma função específica, e essa função implica na capacidade de pensar e sentir. Se não formos capazes de exercer essa capacidade, desaparecerá a nossa utilidade para o mundo.
      A nossa condição como ser humano, sem a possibilidade de escolha, fica consideravelmente diminuída em sua potencialidade. Por isso, a mais execrável instituição inventada pelos homens, até hoje, foi a escravidão humana, pois ela privou uma grande parte das pessoas dessa faculdade, atrasando por milhares de anos o desenvolvimento social e psíquico de uma parcela considerável da humanidade.
      A nossa felicidade, como indivíduos, e o progresso da espécie humana, como um todo, depende fundamentalmente da quantidade e da qualidade das opções de comportamento que conseguirmos desenvolver como resposta aos desafios que o ambiente nos apresenta. Se só aprendermos a nos defender das agressões que sofremos com outra agressão, a nossa vida será uma eterna luta, porque a cada momento somos atingidos por alguma coisa ou por alguém. Essa é a opção do animal, cujo sistema neurológico, incapaz de produzir respostas alternativas, denota a sua inferioridade na escala evolutiva das espécies. A sua extinção será devida mais à sua inflexibilidade comportamental do que as mudanças ambientais.
      Da mesma forma, a nível profissional, se aprendermos somente uma única forma de ganhar a vida, no dia em que essa habilidade não tiver mais utilidade para o sistema em que vivemos, ficaremos com a nossa subsistência ameaçada. É assim que muitos profissionais são expulsos do mercado e nunca mais voltam. É assim que os mais velhos, os saudosistas, ainda perguntam para onde foram os sapateiros, os alfaiates, os ferreiros, seleiros, tropeiros e outros profissionais, que em tempos anteriores eram tão importantes. 
     Em termos psicológicos, se tivermos somente uma resposta – a prostração física e moral – para situações que nos provocam sentimentos de tristeza, abandono, mágoa, aborrecimento, frustração, etc., nos transformaremos em verdadeiros poços de melancolia, pois todo dia estamos sujeitos a viver experiências que nos trazem esse tipo de sentimento; da mesma forma, se não tivermos mais que uma opção de comportamento para enfrentar situações de risco, acabaremos nos tornando criaturas extremamente frágeis, sempre necessitando da ajuda de alguém para sobreviver. 

     Bom ditado é aquele que diz:  “ quem vive à espera de um salvador, não merece ser salvo”. E é verdade, pois quem coloca o leme do seu destino em mãos alheias não tem direito de escolher para onde quer ir. É isso que acontece com muitas pessoas que instalam, inconscientemente, ou permitem, por livre vontade, que outras pessoas instalem em seus sistemas neurológicos “programas” que não lhes oferecem possibilidade de gerar respostas eficientes aos desafios da vida. São as pessoas extremamente conformadas, preguiçosas, sem vontade própria, que estão sempre esperando que alguém tome decisões por elas. Suas opções de comportamento são pobres e limitadas, invariáveis quase sempre, e se você lhes pergunta por que não procuram outros caminhos quando as coisas não estão dando certo, eles dão de ombros como se tudo que lhes acontece fosse uma coisa inevitável, decidida por alguma divindade inflexível e inclemente, que se diverte criando dificuldades para os seres humanos. 
      É verdade que nós só podemos viver no presente e que o futuro é uma mera  abstração. Mas, se a cada dia, procurarmos fazer alguma coisa para aperfeiçoar as nossas habilidades, as vicissitudes da vida jamais nos pegarão desprevenidas. Por isso, o melhor investimento que uma pessoa pode fazer é o recurso que ela aplica em si mesma. E quando dessa aplicação o seu leque de escolhas se amplia, então ela está no rumo certo para encontrar sempre a melhor resposta para os desafios que a vida lhe coloca.
     Carpe Dien.