POR QUE SONHAMOS- O ORÁCULO DA NOITE

POR QUE SONHAMOS – Capítulo 1 do livro O ORÁCULO DA NOITE – a história e a ciência do sonho. Sidarta Ribeiro, Companhia das letras, 2019.

Falaremos hoje sobre o primeiro capítulo deste livro, porém com o desejo de presenteá-lo por completo a vocês até o seu final, capítulo 18, muito embora nenhum de meus comentários se comparem à riqueza das descobertas que os leitores podem fazer ao ler esta obra magnífica. Faço-o, antes de qualquer propósito, com o fim de despertar-lhes o desejo de conhecer este fantástico livro, o qual representou umas das melhores leituras que realizei no ano de 2019.

Estava eu assistindo ao programa Conversa com Bial, da Rede Globo em 04/11/2019 e fui positivamente impactada pela entrevista com o professor, pós-doutor em neurofisiologia, vice-diretor do Instituto do cérebro da UFRN e autor, Sidarta Ribeiro. Fui tomada pela síndrome de Armando Volta, personagem do programa A Escolinha do Professor Raimundo. Então falei, por que não comprá-lo? Por que comprá-lo? Não resisti, “comprei- o - o “ e estou aqui para lhes presentear do meu jeito.

Farei o comentário dos capítulos, com o cuidado de não cometer a tirania de privar-lhes das descobertas feitas com suas próprias leituras, caso queiram conhecê-lo melhor. O capítulo 1, compreende 25 páginas, nas quais o autor utiliza dados da ciência , da medicina, da história , cita antigos sábios filósofos, estudiosos e povos da antiguidade e estudiosos modernos para fundamentar as suas teorias sobre o sonho, uma experiência pela qual passam todos os seres humanos. Através dele, conhecemos a importância onírica para a humanidade desde seus primórdios, pois segundo o autor, o sonho sempre fez e faz parte do nosso cotidiano. Sonhar é viver para dentro , embora pouco nos lembremos dos nossos sonhos ao acordarmos.

O sonho pode ter uma gama de significado, entre eles, pode ser um simulacro da realidade feito de fragmentos e memórias de experiências que reverberam em nossos neurônios enquanto dormimos. ( Sidarta, 2020).Mas não controlamos o que sonhamos e nem a sequência em que essas memórias aparecem, nem por isso, somos seus meros espectadores , visto que eles falam muito de nós , mesmo que às vezes, com roupagens, ambientes e pessoas substituídos por outros diferentes .

Em cenas às vezes descontínuas , cortadas ,díspares, mas ligadas a contextos reais ,as memórias cognitivas permanecem e se apresentam no sono em forma de sonho, onde os elementos se misturam em enredos os quais nós não administramos. Satisfações de desejos impossíveis, prazer, dor, preocupações, emoções vividas em vigília etc, podem aparecer em contextos diferentes. Eles são a reverberação das coisas mais importantes da vida, mesmo que essas memórias apareçam em forma de pesadelos.

Mas a palavra sonho pode assumir outros sentidos, para a nossa contemporaneidade, como o desejo de ter ou de realizar algo. Para Artemídoro , um grego e famoso intérprete dos sonhos do ano 138 , os sonhos eram plausíveis, desde que se conhecesse e se estudasse a vida do sonhador. Afirmava que os sonhos podem se referir a situações atuais ou futuras e que podem ser teoremáticos, iguais à realidade, ou alegóricos, ou seja, representativos. Já Teodósio Macróbio, um outro teórico do sonho, filosofo e gramático do período romano, afirmava, entre outras teorias sobre o sonho, que o pesadelo era reflexo de problemas emocionais ou físicos. Para Ovídio, poeta e escritor romano, ano 18 A.C., os sonhos podem ser proféticos e se tornam realidade,mas os angustiantes exigem intérpretes.

Em seus relatos históricos, Sidarta nos fala de perdas e ganhos realizados por povos antigos e indígenas , motivados pelo sonho, cita Freud com suas descobertas sobre a fisiologia do neurônio e as memórias que nele ficam armazenadas e são acessadas durante o sonho. Este autor pesquisador e neurocientista dos nossos dias, faz ainda uma retrospectiva da vida profissional do psicanalista que nos permite conhecer o legado por ele deixado para a psicanálise. Segundo Freud, ao relatar os sonhos , falamos de desejos reprimidos e verdades ocultas soterradas na amplidão do inconsciente, as quais se agrupam para formar imagens simbólicas.

Durante os relatos oníricos dos pacientes, contrapondo-os ao contexto de vigília, Freud lhes oportunizava a compreensão de suas motivações mais íntimas , pesquisando dessa forma , a psiquê humana através dos sonhos, ´visto que eles são isentos de censuras , pois não os dominamos, ao passo que revelam os conflitos presentes na mente, sem ser necessário que estes aconteçam na realidade. Segundo o autor, diferentemente de outras épocas remotas, hoje, estão corretas as concepções de que os sonhos se ligam ao futuro e ao passado.

Dentre muitas informações importantes, o livro nos esclarece que nas primeiras horas de sono, os nossos sonhos não têm muita nitidez, somente durante o sono REM, sonhamos com maior intensidade. Para o biólogo inglês, Francis Crick, os sonhos são fragmentos montados ao acaso, são bizarros , desprovidos de sentido e se derivam de ativações aleatórias dos neurônios . Suas conclusões são a favor de que sonhamos para apagar memórias irrelevantes, liberando espaços para outras memórias , mas se é assim, pergunta Sidarta: por que algumas pessoas têm o mesmo pesadelo repetidamente? Com base nesse confronto, o autor , em questão, afirma que memórias são cicatrizes.

Para Jung, os sonhos são esboços ou planos antecipados , mas não são proféticos, e podem ser comparados a uma previsão do tempo ou a um diagnóstico médico. São combinações antecipadas de probabilidades que podem coincidir com a realidade vivenciada durante a vigília, mas não necessariamente em todos os detalhes, e ainda nos prepara para o dia seguinte. Sidarta Ribeiro nos encoraja a ficarmos por minutos na cama, depois de acordarmos pela manhã, a fim de lembrarmos e registrarmos nossa viagens ao interior profundo da mente para anotar narrá-las posteriormente , como uma forma de introspecção e de autoconhecimento.

Maria Edneuda Oliveira Pinto. Fortaleza 2020.

CLARALIZ ALMADOVA

Claraliz Almodova
Enviado por Claraliz Almodova em 21/10/2020
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