Cornos - o débito dos 'traditores'

Traição como conceito, é a violação da presunção do contrato social ("verdade" ou "confiança") que produz conflitos morais e psicológicos nos relacionamentos. Desse modo, genericamente a traição é uma ruptura unilateral da decisão anteriormente tomada ou das normas presumidas ajustadas com outrem.

A deslealdade é então contraponto ao contrato social vinculado a um relacionamento.

As palavras "traição" e "traidor" são derivadas do latim "tradere" (entregar, comprometer, submeter). "Tradere", por sua vez é derivado de "Traditores", que se refere a bispos e outros cristãos que traíram seus companheiros cristãos às autoridades romanas sob ameaça de perseguição durante as "Perseguições do Império Romano ao Cristianismo Primitivo".

Vergonha (latim verecundia), é uma condição psicológica que consiste de ideias, estados emocionais, estados fisiológicos e um conjunto de comportamentos, induzidos pelo conhecimento ou consciência de desonra, desgraça ou condenação.

"A vergonha é uma emoção que nos permite conhecer a nossa finitude".

(John Bradshaw, educador estadounidense).

Envergonhar é induzir a vergonha em outrem, atacando ou destruindo sua dignidade pessoal.

Isso ocorre no sentido de que a vergonha pode ser induzida verbalmente pelo ridículo, insultos ou pela exposição pública da vulnerabilidade ou fraqueza de uma pessoa ou grupo.

Ações que visam provocar vergonha atacam e diminuem a dignidade humana de uma pessoa ou grupo e subjaz um desejode os separarem do restante da humanidade.

A "vergonha de si mesmo" pode ser internalizada como identidade após um ultraje. Uma pessoa pode sentir que sua dignidade foi permanentemente perdida, seja por fazer parte de um grupo que é socialmente estigmatizado ou por vivenciar ultraje o u ridículo.

Como os "sentimentos de culpa" só podem emergir desde que uma autoavaliação pessoal detecte violações de valores internos (cf. Ruth Benedict, antropóloga estadounidense) constituídos na formação da consciência a "vergonha de limites transpassados ou intrínseca" somente pode ser aferida por pessoas que respeitem a "dignidade da pessoa humana" no outro, especialmente se colocando no "lugar do outro".

Entretanto, esse limiar que pode ser despertado pela consciência, somente surge quando a consciência se torna "corresponsável".

De acordo com o behaviorismo, a Inquietação associada ao "Código da Vergonha" (Shame Code) pode ser capturada conforme o desdobramento da comunicação social estressante no seguinte ritmo: 1) Tensão Corporal, 2) Tensão Facial, 3) Quietude, 4) Inquietação, 5) Afecção Nervosa-Positiva, 6) Dissimulação e Desvio, 7) Fluxo Verbal de Incerteza e 8) Silêncio.

(De France, K., Lanteigne, D., Glozman J. & Hollenstein T., in "The New Measure of the Expression of Shame: The Shame Code", 2016.

As avaliações negativas antecipadas de outras pessoas é acompanhada por uma forte necessidade de se esconder, retirar ou escapar da fonte dessas avaliações. Essas avaliações negativas surgem de transgressões de padrões, regras ou objetivos e buscam fazer com que o outro se sinta separado do grupo para o qual esses padrões, regras ou objetivos existem, resultando em uma das experiências mais poderosas, dolorosas e potencialmente destrutivas conhecidas por humanos.

A pecha "cornear", principalmente quando planejada em artefato de vingança, "justa" (de fato) ou "injusta" (de presunção enganosa), está intimamente ligada ao desejo de provocar "avaliações negativas verificáveis" em outrem como forma de "justificar" ações de envergonhamento próprias ou introjetadas.

Verificou-se que nessa forma de traição planejada subjaz a disposição (consciente e/ou inconsciente) de provocar a insegurança física e psíquica de outrem, numa desestabilização que provoque destruição do objeto (cf. dra. Sarah A. H. Atkins in "The Relationship between Shame and Attachment Styles", 2016).

Assim, o débito a ser cobrado, em verdade, é da pessoa que executa uma forma de traição ao invés do dito "chifrudo". Logo e portanto, a simbologia de chifres que engloba o capeta é apropriada à pessoa desleal, que numa instância mais complacente numa autoavaliação espontânea precisa e deve se tratar relatando aos especialistas suas condições sociais com... lealdade.