Inicialmente, entenda-se que hipnose é uma ação direta no subconsciente, de forma rápida e profunda, que ajuda as pessoas a resgatarem a autonomia. Um de seus mecanismos é fazer o paciente recordar e reviver as memórias escondidas (segredos emocionais) das desventuras vividas.

Este ensaio visa a divulgar episódios acontecidos nas vidas de três mestres precursores da hipnose. Primeiramente, descreve aspectos relativos à vida de Franz Mesmer, depois aborda as descobertas do marques de Puységur e, por fim, relata sobre as descobertas do abade Faria, que desmistificou as bases do mesmerismo e fundamentou a hipnose como se conhece atualmente, mas ainda com a denominação de magnetismo ou sono lúcido.

No segundo milênio desta era, tudo se iniciou em 1765, com a publicação do médico Franz Anton Mesmer: A INFLUÊNCIA DAS ESTRELAS E DOS PLANETAS NO PODER CURATIVO. Mesmer era teatral, forte em suas realizações. Muitas pessoas diziam terem sido curadas por ele e isso causou revolta nos médicos, associações e governos da época. Essa reação obrigou Mesmer a abandonar Viena e deslocar-se para Paris – que, mais tarde, proibiu intervenções por meio do magnetismo animal, uma vez que essas ações não eram científicas. Em 1785, Mesmer abandonou Paris e foi morar na Inglaterra, depois na Alemanha e terminou seus dias rico em uma vila do ducado de Suabo/Áustria, totalmente esquecido. Um de seus grandes seguidores foi o marquês de Puységur.

Amand Marie Jacques de Chastenet de Puységur, nasceu em Paris, em 1751, em berço nobre – família de militares, marqueses e condes. Foi discípulo direto de Mesmer e ficou conhecido por sua experiência transcrita sobre a prática do magnetismo animal (revisada) e do Sonambulismo Magnético.

Puységur entrou para o Corps Royal de l’Artillerie (Corpo Real de Artilharia) em 1768. Capitão em 1775, foi promovido a coronel em 1778. Em 1789, assumiu o comando da École d’Artillerie de La Fère (Escola de Artilharia de La Fere) já com o posto de marechal. De 1800 a 1805, foi prefeito de Soissons e, em 1814, foi condecorado com o título de tenente general.

Amand Puységur foi aluno de Franz Anton Mesmer, como membro da Société de l'Harmonie (Sociedade da Harmonia) em 1782. Mais tarde, Puységur discordou de Mesmer e declarou que os pacientes são seus próprios médicos, enquanto Mesmer afirmava que o tratamento ocorria a partir de uma ação puramente fisiológica em função de um fluido magnético. Ele também questionou o fato da necessidade de crise, que Mesmer defendia como condição final pelo tratamento por meio do magnetismo. A partir de 1784, em sua área de Buzancy, em Soissons, Puységur começou a praticar a mesmerização.

Puységur desenvolveu uma teoria baseada na ideia de dar mais importância à vontade do terapeuta sobre o paciente, isto é, ele deu ênfase ao "psíquico", ou a conexão entre o mesmerizador e o sujeito (paciente). Seu trabalho concentrou-se no sono, que ele chamou de "sonambulismo", seus trabalhos junto com os do naturalista Joseph Philippe François Deleuze (1753-1835), considerou que a utilização do magnetismo produz uma ligação entre magnetizador e magnetizado. Foi ele quem descobriu o que se chama de sugestão pós-hipnótica. Puységur é o líder da escola dos "psicofluidistas". Um de seus grandes seguidores foi o Abade Faria.

José Custódio de Faria (Abade Faria), nascido em Goa – 1746, viveu em Portugal (1771 – primeira vez, e 1781-1788 em segundo momento), Roma (1772 – 1780) e depois foi para a França (1788), onde aprendeu as primeiras lições de mesmerismo com o marquês Puységur.

Entre 1772 e 1780, Faria estudou em Roma. Tornou-se padre e conseguiu o grau de doutor em Teologia. Dedicou sua tese à Maria I, rainha de Portugal, e ofereceu também outro estudo (Espírito Santo) ao papa da época – Pio VI.

Após 1802, já nomeado professor de Filosofia da Academia de Marselha e tendo realizado diversas experiências sobre magnetismo e sonambulismo, Faria voltou a Paris em 1813, passando antes por Nilmes.

A partir daí, ele começou a fazer conferências e a proferir cursos na rua de Clichy, nº 49, cobrando 5 francos por cada entrada. Ao mesmo tempo, realizava experiências sobre o magnetismo e sonambulismo. É dessa época a sua descoberta sobre o sono lúcido (hipnose), que o fizeram abandonar os fluidos astrais e o próprio magnetismo. O abade descobriu que o sono lúcido não tinha fato gerador nos fluídos magnéticos nem nos magnetizadores, mas na susceptibilidade dos indivíduos hipnotizados. Ao perceber isso, afirmou: nada há neste fenómeno que ultrapasse os limites da razão humana e que tudo é concebível por pouco que o homem queira dar-se, de boa-fé, à investigação da verdade. Com propriedade, ainda relatou que nada se desenvolve no sono lúcido que saia fora da esfera natural. E foi além dizendo que só era possível contar com as qualidades do indivíduo, só podendo hipnotizar aquelas pessoas que realmente queriam ser submetidas ao procedimento. Isso afastou de vez o pseudo poder dos magnetizadores.

Desse momento em diante, Faria retirou do sono lúcido a antiga crença de magia e feitiçaria, afirmando que nas práticas sonanbúlicas tudo depende de causas naturais sem a intervenção de quaisquer forças misteriosas. O que levou o neuropsiquiatra francês J. M. Charcot afirmar que as doutrinas do abade Faria se cercaram da boa ciência médica, dando justa interpretação às práticas magnéticas, orientando-as no bom sentido, classificando factos e mostrando aspectos novos do problema.

Faria nunca fez questão de fazer fortuna com o fruto de suas descobertas. Homem reto e íntegro, continuou com a consciência tranquila, sem mentiras e sabedor que criara uma obra sincera – sempre na busca da verdade.

Como o fenômeno era pouco conhecido (ainda hoje o é) na época, a falta de compreensão da sociedade, em função de episódios anteriores, fez com que o abade vivesse com extrema dificuldade, muito pobre e sofrendo desprezo e deboches públicos. Vide a Peça La Magnétismomanie (1816, de Jules Vernet), tida como loucura comédia em dísticos corpo a corpo um ato, com o exclusivo propósito de difamar e debochar do magnetismo animal e a tudo que se relacionava com isso.

Intimidado, foi morar em uma casa de recolhimento. Faleceu aos 63 anos, em 1820, vítima de um fortíssimo acidente vascular cerebral (AVC) e não pode ver publicado o seu livro DE LA CAUSE DU SOMMEIL LUCIDE OU ÉTUDE DE LA NATURE DE L´HOMME (1819), que dedicou ao marquês de Puységur e que somente foi conhecido em 1854.

Em 1945, foi descerrado um monumento simbólico em homenagem ao professor Faria na praça (com o nome do abade) em frente ao palácio de Hidalcão, em Pangim, GOA. Durante a cerimônia, foram proferidas as seguintes palavras:
... a fim de se perpetuar a memória de quem pelos altos voos metafísicos das suas lucubrações filosóficas e em suas sessões experimentais de grande valor prático, foi o descobridor do método da sugestão no hipnotismo e o demolidor das doutrinas do magnetismo animal que Mesmer, doutor em Medicina pela Universidade de Viena, defendera nos centros científicos em Europa” (Moniz, 1977).

José Custódio de Faria foi o primeiro a proclamar a doutrina de sugestão na hipnose. Foi ele que apresentou ao mundo científico, pela primeira vez, os mecanismos da atual hipnose, mas seu nome não foi lembrado nem evidenciado nesse sentido por vários anos... No entanto, o general François Joseph Noizet, discípulo do Abade Faria, que testemunhou suas experiências e atividades, alardeou seus feitos, assim como James Braid (médico/cirurgião inglês que usou a palavra hipnotismo pela primeira vez) pode ter utilizado-se de seus estudos e pesquisas para formular sua teoria -Neurhypnologia: tratado do sonambulismo nervoso e hipnótico (1843). O bradismo somente aconteceu mais de 20 anos após o fariismo, o que legitima Faria como o verdadeiro pai da hipnose. Ilustres e afamados escritores belgas, franceses, portugueses e germânicos reconheceram o abade Faria como o Pai da Escola de Nancy.

Até hoje, poucos fazem menção ao abade. No mundo da Hipnose atual, muitos falam de diversos precursores e olvidam esse magnífico, simples e verdadeiro homem da ciência: José Custódio de Faria. Não era médico, mas ajudou, por meio da sugestão hipnótica, inúmeros humanos angustiados com seus problemas psíquicos. Muitos o desacreditavam, humilhavam e chegaram até a desmoralizá-lo durante uma sessão. No entanto, como de costume nesse mundo humano, outros se encarregaram de mostrar e divulgar as pesquisas, verdades e resultados alcançados por ele, ABADE FARIA.
AFFARI SOJUN
Enviado por AFFARI SOJUN em 09/01/2021
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