A PSICOLOGIA DA CABALA

  1. O LIVRE ARBÍTRIO

 

A energia que está na origem e sustentação das nossas vidas precisa de dois polos para se manifestar e garantir a nossa existência. São esses polos que conduzem e geram a atração que nos mantém vinculados á coisas e pessoas. Elas determinam o grau de apego, de vinculação e sensibilidade que sentimos com o objeto relacionado. A força atrativa desses polos nos dá a medida do amor e da simpatia, ou do ódio e antipatia que sentimos pelas pessoas e do desejo de posse pelas coisas que o nosso Ego nos sugere como fontes de prazer.

É por isso que a experiência de uma relação muito intensa e duradoura de uma pessoa com outra gera uma corrente energética que leva muito tempo para se dissipar. É fácil perceber isso dentro de uma família quando um filho, que vive há muito tempo longe dos pais, vai sentir bem menos a morte deles do que aquele que viveu próximo a eles a vida toda.

É a mesma coisa com bens materiais. Quem convive com a abastança a vida inteira sente mais a perda dela do quem nunca a teve, ou então aqueles que conviveram com ela durante pouco tempo e não tiveram oportunidade de viver uma relação muito intensa com ela. Nosso sistema neurológico é alimentado por essa energia polar. E a sua força está na intensidade da relação que se estabelece entre os polos dela. Na Cabala filosófica ela é referida como Desejo de Receber e Desejo de Compartilhar. Isso significa que recebemos energia da pessoa com quem nos relacionamos (e quanto mais próxima e sensível é a relação, mais intensa é a corrente energética) e também das coisas que desejamos, (pois todas coisas que têm massa e forma são resultado de energia condensada), e quanto maior é o desejo por esses bens, maior é a intensidade da corrente que nos liga a elas.

Isso explica porque muitas pessoas não conseguem resistir a perdas muito sensíveis. Indivíduos que viveram a maior parte da vida ligada á outra pessoa, como é o caso de casais que convivem durante muito tempo é um claro exemplo disso. Quando um morre, logo o outro vai atrás. É que a energia gerada durante a relação é tão intensa que o organismo que a hospeda não consegue sobreviver na ausência do outro polo. E como a idade e as próprias circunstâncias da vida geralmente não concorrem para que ela capture outro polo capaz de sustentar a sua existência, então a sua neurologia renuncia à ela. E ele definha até morrer.

Isso acontece também com pessoas cuja corrente energética é sustentada pela sua relação com bens materiais, carreira profissional, sucesso, etc. A perda do polo que sustenta o prazer dessa relação, às vezes à leva a procurá-lo no prazer das drogas, no álcool, em comportamentos aberrantes que lhe trazem mais dor do que prazer. E um dia, a ausência de um verdadeiro polo para sustentar a corrente vital o leva a acabar com a própria vida.

É o que ensina a doutrina cabalista. A vida é consequência do Desejo de Receber. Ela é o polo negativo da corrente energética que dá existência ao cosmo. Ela hospeda essa energia, e por consequência também precisa de outro polo para se manifestar. Essa é a razão da necessidade neurológica que todos temos de nos relacionar com outras pessoas e com bens corpóreos ou incorpóreos. Está na fonte da amizade, do amor, da ambição e de tudo que dá sustentação ào desejo de viver. Por isso o filósofo Jean Paul Sartre disse: nós somos produtos de relações e de relações entre relações.

E Cabala nos diz: nós somos hospedeiros da Energia que vem do Criador. O que fazemos com ela é o que determina o rumo das nossas vidas e do legado que deixaremos ao cosmo. Energia desperdiçada ou energia transformada em boas obras. Escolha, pois o arbítrio é livre e é nosso.