Acordo sobre o programa Nuclear Iraniano

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, investiram contra os críticos ao acordo assinado com o Irã sobre o enriquecimento de urânio, aos quais o líder turco chamou de "invejosos".

"O Brasil e a Turquia se empenharam e conseguiram um êxito diplomático que alguns países tentaram em vão durante muitos anos", destacou Erdogan em entrevista à imprensa, depois de reunir-se com Lula em Brasília.

Lula destacou que só os países que já possuem a bomba atômica se opõem ao entendimento tripartite com o Irã, pedindo que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) tenha "sensibilidade para entender o momento político" na hora de analisar esse acordo.

Lula recordou a fábula de La Fontaine sobre a raposa que desdenha as uvas que não pode alcançar. "Acontece o mesmo com este acordo", afirmou, sem esconder a irritação com os que se opõem a ele.

"É necessário que todos digam se querem construir uma possibilidade de paz ou de conflito. Turquia e Brasil foram a favor da paz. Até agora, o Irã já cumpriu o que acertou com a Turquia e o Brasil", afirmou.

Já o premier turco recordou que tanto o Brasil quanto a Turquia "fazem parte do Conselho de Segurança, como membros não permanentes, e assumiram uma responsabilidade que surge dessa posição. Assim, chegamos a esta vitória diplomática", disse.

Erdogan e Lula mantiveramm nessa quinta-feira (27/05), uma reunião de pouco mais de uma hora em Brasília, anterior à participação de ambos no III Fórum das Civilizações no Rio de Janeiro, de: 27 a 29 de maio de 2010.

Durante esse Fórum, nessa quinta-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse em entrevista à imprensa, que o centro da crise com Teerã está "numa séria falta de confiança".

Isto porque, depois de assinar o acordo com Turquia e Brasil para enriquecer urânio a 20% fora de suas fronteiras, a república islâmica anunciou que não abandonaria seus planos de fazê-lo também em seu território. "Seria de grande ajuda se o Irã deixasse de enriquecer urânio a 20%", afirmou Ban.

Foi só o Lula e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan dialogarem com o Irã e assinarem o acordo sobre o enriquecimento de urânio, que os países Ricos se assustaram, especialmente os EUA que, procura resolver os problemas do planeta à bala. No entanto, quando tomaram conhecimento do resultado, foi tiro pra todo lado: A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, afirmou dia 27 de maio de 2010 que, os Estados Unidos e o Brasil têm "sérias discordâncias" em relação ao programa nuclear do Irã, apesar de as relações bilaterais em outros temas serem boas. Hillary disse ainda que o Irã está apenas usando o Brasil, e que atitudes como a do Brasil e da Turquia tornam o mundo mais perigoso.

Essas foram às declarações mais diretas feitas até agora sobre como os EUA veem a negociação brasileira e turca com os iranianos sobre seu programa nuclear. O Ocidente teme que o Irã pretenda desenvolver armas nucleares, mas Teerã afirma que o seu programa tem fins pacíficos.

"Sem dúvida, temos sérias divergências com a política diplomática do Brasil em relação ao Irã", disse Hillary. "Mas nossa discordância não mina nosso comprometimento de ver o Brasil como um país amigo e parceiro", completou. Questionada sobre como Washington enxergava o papel do Brasil na diplomacia global: "Nós queremos uma relação com o Brasil que resista ao teste do tempo", acrescentou.

Hillary afirmou ainda que o Irã estaria apenas usando o Brasil para ganhar tempo e evitar sanções do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).

"Nós dissemos (aos brasileiros) que não concordamos com isso, que pensamos que os iranianos estão usando o Brasil, nós achamos que é hora de ir ao Conselho de Segurança", disse Hillary, ao responder questões de jornalistas sobre a nova estratégia de segurança da administração Barack Obama, divulgada nesta quinta-feira

Hillary alegou que o acordo firmado com o Irã sob mediação do Brasil e da Turquia apenas serve para dar mais tempo para o país persa atingir suas ambições nucleares e impede a unidade da comunidade internacional em responder ao Irã. Ela continuou, dizendo que atitudes desse tipo tornam o mundo mais perigoso.

"Nós achamos que dar mais tempo ao Irã, permitir que o Irã evite a unidade internacional a respeito de seu programa nuclear torna o mundo mais --e não menos-- perigoso."

Hillary disse que a visão dos EUA --não compartilhada pelo Brasil-- é de que o Irã só vai concordar em negociar sobre seu programa nuclear após o impor sanções mais duras contra o país.

Em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou nesta quinta-feira que o acordo de troca de combustível com o Irã mediado por Brasil e Turquia atende às solicitações dos EUA e é uma oportunidade que não pode ser desperdiçada.

Em entrevista coletiva em Brasília ao lado do primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan, Lula disse que os envolvidos em negociações nucleares com o Irã precisam pensar em diálogo, e não em confronto.

Erdogan afirmou também que o momento não é o adequado para discutir sanções contra o Irã, que reafirmou à Turquia não ter planos de construir armas nucleares.

Lula reforçou que a lista de condições acatadas pelo líder iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, está muito próxima das propostas colocadas pelos Estados Unidos, em carta anterior ao acordo, endereçada pelo presidente Barack Obama tanto para o Brasil como para a Turquia.

O primeiro-ministro turco comentou, durante entrevista coletiva no Itamaraty, que "aqueles que criticam o processo são invejosos, fizemos o que era certo". Os dois líderes formularam um documento sobre a questão nuclear iraniana para levar ao encontro do G20 (que reúne os países desenvolvidos e emergentes), em junho, em Toronto (Canadá).

Os dois presidentes afirmaram que o comprometimento com o programa nuclear iraniano não será interrompido. Erdogan disse, inclusive, que já encaminhou cartas a 27 países. O líder disse estar convencido de que Teerã não tem fins bélicos em seu programa nuclear.

Entenda o caso:

Os Estados Unidos acusam o Irã de querer desenvolver armas atômicas, algo que é negado pelos iranianos, que afirmam que seu programa nuclear tem apenas fins pacíficos.

O acordo tripartite, firmado no dia 17 de maio em Teerã com Brasil e Turquia, determina que o Irã envie 1.200 quilos de seu urânio enriquecido a 3,5%, em troca de 120 quilos de urânio enriquecido a 20% na Rússia ou França --suficiente para a produção de isótopos médicos em seus reatores e muito abaixo dos 90% necessários para uma bomba. O urânio enriquecido seria devolvido ao Irã no prazo de um ano.

A troca aconteceria na Turquia, país com proximidades com Ocidente e Irã, e sob supervisão da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) e vigilância iraniana e turca.

Com este acordo, o Irã pretendia tranquilizar a comunidade internacional sobre seu programa nuclear.

No entanto, no dia seguinte ao acordo, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas acertaram uma série de sanções contra o país, jogando por terra os esforços realizados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro da Turquia, Recep Erdogan, para resolver a crise por meio de negociações.

Um projeto de resolução, elaborado por Estados Unidos e apoiado por França, Rússia, China e Reino Unido, prevê sérias sanções contra o Irã, que ficará proibido de investir no exterior em certas atividades delicadas, terá seus navios inspecionados em alto mar, e sofrerá embargo sobre a compra de armas pesadas.

Na ocasião, Hillary Clinton agradeceu aos esforços de Brasil e Turquia, mas destacou as diversas reservas de Washington sobre o acordo tripartite, com a intervenção direta de Lula.

Sanções:

A proposta de resolução do Conselho de Segurança da ONU com sanções contra o Irã, elaborada pelos EUA, Rússia e China prevê punições a bancos e outras empresas do país, além da criação de um regime internacional de inspeções em navios suspeitos de transportar cargas relacionadas aos programas nuclear e de mísseis.

O documento de dez páginas "pede aos Estados que adotem medidas adequadas para proibir (...) a abertura de novas agências, subsidiárias ou escritórios de representação de bancos iranianos" caso haja razões para supor que tais bancos estejam vinculados a atividades de proliferação nuclear.

O esboço também aponta "a necessidade de exercer vigilância sobre transações que envolvam bancos, inclusive o Banco Central do Irã, de modo a evitar que tais transações contribuam para a proliferação de atividades nucleares sensíveis" ou para o desenvolvimento de sistemas para o lançamento de armas atômicas.

A quarta rodada de sanções ao Irã ampliaria o embargo armamentista já em vigor contra o país, incluindo novas categorias de armamentos pesados.

Vários diplomatas ocidentais do Conselho de Segurança disseram que o órgão da ONU, com 15 países, deve votar a resolução no começo de junho.