Sobre o Processo Eleitoral

Ou como a história, recente e passada, ainda tem muito a nos ensinar.

Recentemente inclodiu dentro de mim uma dúvida crucial sobre a obrigatoriedade do voto e seu resultado útil, já que a experiência recente tem nos demonstrado de forma escancarada que a opção eleitoral – em especial no que se refere ao Legislativo municipal, estadual e federal – tem apresentado um resultado pífio e, muita das vezes, inócua, inodora e insípida.

Senão vejamos. Se analisarmos as últimas eleições realizadas neste país, à parte da sua transparência e modernidade quanto aos recursos disponíveis, temos sido surpreendidos por candidatos que, logo após terminado o processo eleitoral e investido em seus respectivos cargos, simplesmente desaparecem da mídia, cedendo suas imagens ao líderes de partidos, de bancadas e outras lideranças que precisam da luz dos holofotes apenas para legislar segundo interesses próprios ou interesses que não podemos chamar, definitivamente, de interesses da maioria ou do povo em geral.

Alguns dos atuais candidatos que concorrem à uma das duas vagas dispníveis para o Senado Federal, bem como a maioria dos candidatos à Câmara dos Deputados Federal, não denotam qualquer conhecimento aprofundado dos grandes problemas brasileiros (infra-estrutura, desenvolvimento regional ou saúde e segurança pública), limitando-se à bradar em alto e bom tom que, caso venham a ser eleitos, todos estes problemas serão resolvidos em um passe de mágica. E, a bem da verdade, o passe de mágica apenas acontece com o desaparecimento virtual do candidato eleito da mídia nacional, restringindo-se a pequenas manifestações isoladas quando chamados a proferir algum posicionamento mais apurado sobre determinado assunto.

Para se ter uma ideia (mesmo que pequena sobre o tamanho deste problema nacional), basta que acessemos o sítio eletrônico do “Transparência Brasil”, para que lá inseridos digitalmente possamos visualizar a enormidade de calamitosas atuações de nossos parlamentares, seja sob o aspecto de prestação de contas, seja no próprio desempenho, seja no acréscimo patrimonial amealhado a partir de sua eleição, evidenciando que nossa intenção não é exclusivamente de cunho denunciador, já que para tal fim diversas entidades existem a procuram manter informado o incauto eleitor brasileiro.

Ainda neste mesmo sítio eletrônico constata-se que a maioria dos projetos de lei apresentados pelos senhores legisladores restringem-se à um produtividade infame que não ultrapassa 7,1% (sete por cento!); melhor explicando: do total de projetos apresentados – em média – apenas o percentual acima produz resultado efetivo e, mesmo assim, não possuem qualquer relevância de ordem prática na proteção dos interesses do eleitorado brasileiro. E nesta toada facilmente conclui-se que, fossem eles “empregados” em uma instituição privada, com certeza já teriam sido sumariamente demitidos com a pouca sorte de conseguirem, em curto espaço de tempo, uma recolacação em um mercado amplamente competitivo.

Nesta altura, precisamos urgentemente destacar que não nos interessa a atuação de um candidato em especial, nem mesmo sobre a bandeira de que partido esteja afiliado. Nossa preocupação é estritamente crítica, voltada exclusivamente para o resultado prático do processo eleitoral e sobre o que a história política – recente e passada – possa destacar em uma relevância que sirva ao eleitor para deter-se um pouco na análise do seu voto antes de concedê-lo a um destes ilustres e desconhecidos senhores que, terminada a votação, apenas apeiam de suas posições para fornecerem declarações cujos efeitos são tão inócuos quanto a sua própria participação na vida política deste país.

SOBRE OS PROJETOS E PERSPECTIVAS

Um outro aspecto relevante sobre este nosso processo eleitoral “sui generis” é aquele que diz respeito aos projetos apresentados pelos candidatos, cujas propostas além de serem apologéticas, constituem-se em verdadeira cornucópia de imbecilidades, recheadas por afirmações que beiram o pleno desrespeito à inteligência do seu eleitorado.

Se nos detivermos numa rápida observação do estado geral de coisas neste país nos últimos cinco ou dez anos constataremos facilmente a plena ausência de um eixo central que oriente projetos legislativos, em especial no que se refere à obras de infra-estrutura viária, aeroportuária, energética ambiental e social. Nada foi levado até o final, pois o que importa mesmo é apenas o voto, e apenas o voto – a fiel certeza de que será eleito não importando os meios para que isso aconteça.

Em dados momentos têm-se a impressão de que o país tem caminhado por seus próprios pés, pela vontade quase coletiva dos inviduos em busca do bem comum, sendo que o esperado apoio a ser oferecido, tanto pelo executivo como também pelo legislativo, restringe-se à elevação da carga tributária sem o oferecimento da necessária contrapartida tão necessária ao desenvolvimento do país e da sociedade.

No sítio eletrônico do “TRANSPARÊNCIA BRASIL”1 encontramos dados estatísticos relevantes que denotam que os projetos de lei, além de pífios, redundam em absoluta perda de tempo, posto que as manobras operadas pelo Executivo Federal juntamente com as bancadas acabam por tornar relevante apenas aqueles projetos oferecidos diretamente por um dos poderes que, deixando de atuar além do círculo de suas atribuições, alargam seus horizontes, substituindo um trabalho que jamais poderia sê-lo até mesmo pela própria natureza da instituição política.

E ainda, neste mesmo sentido, observamos que a atuação do legislador configura-se em um exercício de irresponsabilidade escancarada, vertendo projetos vazios, movidos na maior parte das vezes pela pressão social – que, ressalte-se não é nada racional – ou pela crítica contumaz de uma mídia quase constantemente comprometida com os interesses de pequenos grupos sociais que almejam benefícios unilaterais, sem qualquer preocupação efetiva com o chamado bem comum.

Aliás, plenamente cabível, ao nosso ver, o excerto abaixo elaborado pelo renomado jurista brasileiro VITOR NUNES LEAL que assim afirma sobre a responsabilidade do legislador:

“Tal é o poder da lei que a sua elaboração reclama precauções severíssimas. Quem faz a lei é como se estivesse acondicionando materiais explosivos. As conseqüências da imprevisão e da imperícia não serão tão espetaculares, e quase sempre só de modo indireto atingirão o manipulador, mas podem causar danos irreparáveis”. 2

Todavia, as distorções não cessam apenas neste estágio prosseguindo em rumo à total desorganização da atuação do legislativo nacional em qualquer uma de suas esferas. Em recente obra eletrônica, intitulada “O Subjetivo do Legislador”, elaborada pelo i. Estudante de direito Ticiano Marcel de Andrade Rodrigues e publicado no VIA JUS, observamos que esta postura do legislador possui uma faceta muito mais subjetiva do que se poderia imaginar, conforme podemos analisar no trecho abaixo transcrito:

O legislador ao participar de uma votação de um projeto de lei deve, antes de tudo, procurar compreender qual o sentido de determinado projeto e a intenção de seu criador. O que, por vezes, não acontece. Muitos legisladores participam das votações de determinados assuntos sem ao menos saber do que se trata, com isso, votam de maneira “aleatória” e em alguns casos favorecem representantes mais prestigiados da Comissão Permanente para tentar criar algum vínculo político com os que de certa forma estão em um degrau mais elevado do Congresso Nacional. (g.n.). 3

Nossa proposta neste artigo não é uma análise fria e distante da realidade. Contudo, faz-se necessário um destaque de ordem doutrinária elaborada pelo grande hermeneuta brasileiro MAXIMIANO, o qual assim descreve a atuação do legislador pátrio:

“As contingências sociais criaram a necessidade, a norma brotou quase espontânea, o fator subjetivo existiu, ativo, eficiente, porém, menos original, poderoso, autônomo do que o considerava a Filosofia antiga. O legislador não tira do nada, como se fora um Deus; é apenas o órgão da consciência nacional. Fotografa, objetiva a idéia triunfante; não inventa, reproduz; não cria, espelha, concretiza, consigna”. 4

Nesta seara pouco difundida, percebe-se que a questão relativa aos projetos institucionais para o desenvolvimento do país esbarram nos interesses pessoais ou mesmo grupais minoritários, embasando uma perspectiva pobre e desconstituída de um denominado “projeto nacional”, deixando grande parte da população alijada dos seus próprios destinos enquanto cidadãos, limitados ao programas sociais instituídos pela liderança governativa que entende ser mais que suficiente dar o peixe, sendo desnecessário, portanto, ensinar a pescar.

Promessas e boas intenções há muitas – assim como também há no inferno – porém são apenas intenções que não ultrapassam o estágio do papel que tudo aceita e que tudo vivifica. Há uma enorme distância entre o país que podemos ser e aquele delineado por projetos megalomaníacos voltados para eventos que mais servem de circo para o povo do que efetivamente uma demonstração de nacionalismo e boa-vontade orientadas para o bem comum.

Nos último anos, presenciamos criadores de projetos econômicos que apenas se preocuparam com o imediato, deixando de lado qualquer situação mais próxima de uma política de longo prazo, seja para a própria economia, seja para a educação, seja para a saúde, para a habitação e para a segurança, itens esses fundamentais para se avaliar o estágio progressivo de uma nação. Esforços foram orientados em plena consonância com o consenso de Washington que desde de sua edição jamais deixou de ser o pano de fundo para as políticas públicas então adotadas. E nada mais importando do que o resultado, independentemente dos meios adotados este projeto veio definitivamente para ficar e criar seguidores que, no mais das vezes, apenas entendem de modelos e sistemas inertes sem a intervenção da criatividade humana.

Conforme o ex-embaixador Paulo Nogueira Batista, "apresentado como fórmula de modernização, o modelo de economia de mercado preconizado no consenso de Washington constitui, na realidade, uma receita de regressão a um padrão econômico pré-industrial caracterizado por empresas de pequeno porte e fornecedoras de produtos mais ou menos homogêneos. O modelo é o proposto por Adam Smith e referendado com ligeiros retoques por David Ricardo faz dois séculos. Algo que a Inglaterra, pioneira da Revolução Industrial, pregaria para uso das demais nações mas que ela mesma não seguiria à risca. No Consenso de Washington prega-se também uma economia de mercado que os próprios Estados Unidos tampouco praticaram ou praticam (...). O modelo ortodoxo de laissez-faire, de redução do Estado à função estrita de manutenção da ‘lei e da ordem’ – da santidade dos contratos e da propriedade privada dos meios de produção – poderia ser válido no mundo de Adam Smith e David Ricardo, em mercados atomizados de pequenas e médias empresas gerenciadas por seus proprietários e operando em condições de competição mais ou menos perfeita; universo em que a mão-de-obra era vista como uma mercadoria, a ser engajada e remunerada exclusivamente segundo as forças da oferta e da demanda; uma receita, portanto, de há muito superada e que pouco tem a ver com os modelos modernos de livre empresa que se praticam, ainda que de formas bem diferenciadas, no Primeiro Mundo" (Batista: 1995, pág. 119-120).

Deste modo, a análise do excerto acima demonstra de forma irretocável que os projetos governamentais em campanha não podem (muito menos devem) fugir deste paradigma adotado quase como fórmula mágica para a solução de todos os problemas do mercado (leia-se “mão invisível”), inclusive porque tal conduta além de inaceitável não tem qualquer chance de prosperar já que além de sua natureza revolucionária exigiria também uma postura diferenciada por parte de seu proponente, o que certamente não faria dele o candidato com mais chances junto às urnas eleitorais ávidas apenas pelo resultado da estratégia de marketing e propaganda adotadas por um bando de quase-messias propostos apenas a demonstrar o quanto o povo é facilmente influenciável por imagens e sons.

DO HORÁRIO ELEITORAL GRATUITO.

Este talvez seja o momento de maior desgosto que podemos apreciar na mídia nacional, em especial nas veiculações por meio da televisão, inclusive porque, acreditemos ou não, a destinação deste horário não é observada nem mesmo por aqueles que se dizem candidatos sérios. Segundo o que consta a legislação pertinente ao tema é a lei n. 9.504/97 que regula a utilização deste horário nos artigos 44 e seguintes.

Em princípio, isto deveria ser o momento de buscar o eleitorado indeciso e aquele que ainda se encontra pendente de escolha certa por meio da divulgação de plataformas, projetos e institutos que serão objeto da política de governo do candidato, inclusive no legislativo.

No momento em que nos deparamos com esta “divulgação”, a falta de seriedade tem início com os nomes e alcunhas adotadas pelos candidatos com o único e exclusivo fim de tornar fácil a memorização, razão pela qual temos candidatos alcunhados como “cabide”, “palhaço quiabo”, “mulher pera”, “o gente nossa”, “galo de ouro” e outras dezenas cujo espectro vai do folclórico ao inenarrável, desafiando não apenas nosso humor, como também nossa paciência.

De outro lado percebe ainda que dado o reduzidissímo horário disponível as chamadas além de curtas, algumas vezes tornam-se ininteligíveis, deteriorando o objetivo final do horário e trazendo uma sensação de mal-estar para quem assiste e procura neste horário um momento voltado, de fato, para a reflexão.

Há ainda os profetas do apocalipse, bem como aqueles que prometem uma verdadeira revolução na administração pública a partir de que se possa tornar vencedor no pleito. Todavia, a experiência histórica tem demonstrado de forma escancarada que estas promessas nunca conseguem ultrapassar o limite do papel que os contém, e mesmo quando isso acontece o resultado nem se assemelha àquilo que fora originalmente proposto.

Mais um breve acesso ao sítio eletrônico do “Transparência Brasil”e veremos que a maioria dos políticos eleitos desde a última eleição no ano de 2006 em nada (ou quase nada) contribuíram para a apresentação de projetos relevantes e cuja eficácia possua destino consonante com as propostas feitas durante o período de campanha.

Deste modo, o uso do horário eleitoral gratuito apenas serve aos interesses daqueles que extraem dele a cultura dos indecisos como oportunidade sorrateira de angariar votos incautos para suas promessas vãs e vazias, cujo conteúdo de ordem prática desafia qualquer sistema lógico vigente, posto que são apenas projeto insignificantes, sem propósito ou resultado.

Ademais, não podemos nos esquecer da importância decisiva da atuação da mídia nas opiniões e na construção do processo político nacional, em especial neste país de dimensões continentais, conforme destaca o célebre jurista brasileiro FÁBIO KONDER COMPARATO, cujo excerto a seguir demonstra de forma inequívoca o quanto a mídia é responsável pelo resultado das urnas:

“Entramos, assim, na última fase da evolução da oligarquia brasileira. O conjunto dos meios de comunicação de massa, notadamente o rádio e a televisão, tornaram-se o maior e mais novo poder informal de nossa organização política. Estamos, de fato, diante de um poder autêntico e não de uma força política inorgânica. Por trás do véu da concorrência comercial, as empresas de comunicação criaram uma unidade interna, estruturada juridicamente, e uma estratégia de atuação em comum com os detentores do poder oficial, perante o povo. Hoje, como todos sabem, ainda que os meios de comunicação de massa sejam impotentes para fazer um presidente da República, eles têm capacidade suficiente para impedir que um candidato adversário das forças dominantes conquiste a presidência pela via eleitoral. A organização contemporânea da imprensa, do rádio e da televisão representa, em nosso país, o mais sugestivo exemplo daquele poder impediente de que falava Montesquieu”. 5

SOBRE O VOTO ÚTIL.

Segundo uma definição encontrada ma web o voto útil “pode também ser chamado de voto tático ou voto estratégico. O voto útil é quando os eleitores, principalmente os menos compromissados com a política, decidem seu voto em favor do candidato que estiver à frente nas pesquisas eleitorais. Isto se dá pelo fato de os eleitores entenderem que se o candidato X está com muitas condições de alcançar a vitória, não vale a pena desperdiçar seu voto com um possível perdedor. Baseia-se em um significativo grau de racionalidade dos eleitores, que pode ser estimulada via pesquisas eleitorais, que mostram o desenvolvimento dos candidatos durante as campanhas eleitorais. A possibilidade dos eleitores preferirem voto útil, migrando sua opção de voto de candidatos fracos para candidatos favoritos, é chamada de efeito psicológico”. 6

Trata-se de fato de uma técnica de adestramento orientado pelo assim chamado “espírito de manada”, ou seja, correr no sentido da multidão, não se importando muito mais com o resultado de ordem política e coletiva, mas apenas direcionado para o próprio umbigo.

Além de deplorável, tal comportamento denota uma absoluta ausência de preocupação com o destino de seus semelhantes, agindo na forma de espírito de corpo, cujos interesses são sempre interesses menores e pouco relevantes para uma política de grandeza nacional.

Mais uma vez escoimados na história destacamos o texto abaixo cuja origem foi a eleição portuguesa no ano de 2009, em que o secretário geral do Partido Socialista condena de forma veemente o voto útil. Assim declarou ele:

"Há para aí muitos a falar de voto útil. Mas quero dizer-vos uma coisa: o voto é útil quando constrói alguma coisa, não quando destrói, mas quando constrói. O voto é útil quando serve para unir e não para dividir. E o voto é útil quando esse voto faz parte da solução dos problemas, e não parte dos problemas do país. É por isso que apelo ao voto no PS".

DO EFETIVO COMPROMISSO DO CANDIDATO.

Qualquer outro comentário sobre tudo o que foi dito seria o mesmo que redundar sobre o óbvio ululante. A necessidade de uma mudança radical no quadro político nacional, exigindo-se ética, compromisso e comprometimento do candidato eleito, que deve estar plenamente consciente de sua responsabilidade e da tarefa que lhe foi entregue pela confiança do voto da maioria. Aliás, não devemos nunca esquecer do fato de que o mais grave defeito da democracia está sediado na imposição pela maioria, ao mesmo tempo que, analisado da forma orientada por Aristóteles, também têm-se uma qualidade própria deste regime de governo.

Não há como negar-se que somente através do regime democrático o povo pode manifestar livremente a sua vontade, e que a decisão pela maioria decorre da enormidade populacional dos países, implicando necessariamente em uma escolha nem sempre satisfatória a todos, mas pelo menos para a maioria. E neste sentido exige ainda que esta maioria assuma a responsabilidade pelo seu voto, impondo-se este compromisso pela assunção do voto consciente.

De fato, esta análise implica em uma conseqüência que não pode ser relativizada: o eleito é a imagem do seu eleitorado, razão pela qual não se pode o cidadão esquivar-se de sua enorme responsabilidade com o processo eleitoral, posto que acreditar em promessas vazias, “negociar” o voto tal como uma mercadoria qualquer e abrir mão do seu direito de escolha seja por desilusão ou por ausência de autovalorização, implica em um prejuízo coletivo de longo prazo.

Me perdoem aqueles que acham um exagêro qualquer dos comentários acima discorridos por considerarem a perspectiva do voto útil ou do voto negociado, até mesmo porque, em uma democracia todo o pensamento é livre. Porém, devemos ser continuamente capazes de, mudando nossas perspectivas e reconhecendo nossas limitações, saber que a força para a mudança está dentro de nós e que o continuismo aliado com contido conformismo e eterna prostração, implicarão nesta parcialidade que assola o país fazendo com que o atual presidente sofra enormes pressões sociais para fazer seu sucessor, sem qualquer demagogia, esperando apenas frutificar um projeto que, talvez, nem mesmo ele compreenda o sentido e o alcance de longo prazo.

Bandeiras político-partidárias servem apenas como cortina de fumaça: a disputa atual é ideológica e sócio-econômica. Trata-se de um indivíduo facultando-se no direito de, representando uma coletividade, valer-se desta prerrogativa em benefício próprio (que pode não ser o pior de tudo), ou canalizar este benefício na direção de uma pequena oligarquia – não importando muito se esta oligarquia tem como premissa algum interesse que seja, efetivamente, direcionado ao bem comum. Aliás, é inadmissível que ações tomadas por grupos menores tenham qualquer objetivo de ordem geral que sirva como benefício para a maioria; e o porque está no fato de que sempre o interesse pessoal de quem está no poder prevalecerá sobre o interesse geral.

Não pretendemos levantar qualquer bandeira contra determinado ato ou fato; porém, certo é que não se pode privar a população do direito de escolher seus governantes de forma livre e consciente. Privilegiar um candidato da situação, valendo-se da máquina administrativa para o seu favorecimento é o mesmo (de forma pouco figurada) que tentar estabelecer a manutenção de um oligarquia no poder, demonstrando um firme interesse em edificar as bases para um quase-totalitarismo.

Privar os cidadãos do direito de informação sobre a qualificação do candidato, ou ainda firmar convencimento de que, mesmo condenado por ato criminoso em primeira instância, este candidato é o mais indicado para representá-los, pouco difere dos atos cometidos durante a tomada do poder na Aústria nos anos 30/40 que culminaram o início da caminhada do partido nacional-socialista ao poder.

A liberdade de escolha é uma das qualidades que tornam os indivíduos capazes de exercitarem seu livre-arbítrio, seja sob o aspecto político, social, religioso, cultural ou mesmo comportamental. Ceifar o cidadão deste arbítrio que lhe foi concedido por uma força maior que todos é análoga à subserviência ocorrida durante o período escravocrata entre os séculos XVII e XVIII.

O PNDH-3 (Plano Nacional de Direitos Humanos), editado no fim ao ano de 2009 trazia em seu bojo temas polêmicos sobre liberdades individuais e coletivas, pondo em xeque as possibilidades de que nossa Carta Constitucional – já tão remexida quanto um omelete – permenecesse como estandarte único da supremacia dos direitos e garantias individuais, procurando dar uma nova conotação à expressões comumente utilizadas pela população como máscara que traz oculta a intenção de aumentar a intervenção do Estado nas relações sociais, monitorando comportamentos e assegurando que nada seja feito sem que a máquina estatal além de ter conhecimento, possa, ainda, interferir de maneira contundente na orientação das ações dos indivíduos.

Da mesma forma, o processo eleitoral neste estágio parece estar atrelado a uma condição sine qua nom, pela qual somente quem está no poder pode ter as melhores condições de “construir um candidato”, revestindo-lhe de candura, inocência e competência que o cidadão comum do povo não tem condições de aferir, e, cegamente, acaba por abraçá-lo primeiro por absoluta falta de informação confiável e, segundo, porque “melhor não mexer em time que está ganhando”.

Todavia, não sabemos bem quem está ganhando; o que sabemos é quem está perdendo: todos. Perdem nos vários escândalos que, durante a atual gestão do governo federal, apenas foram sendo redimensionados, servindo como enormes sangrias de dinheiro público, canalizados para os bolsos de indivíduos que deveriam ser pessoas acima de qualquer suspeita. Indivíduos que deviam pautar suas vidas pela ética e pela honestidade, tendo como única preocupação o interesse público e o bem-estar do cidadão.

UMA OUSADA CONCLUSÃO.

Ao final desta nossa pequena ilação, nosso maior desejo orienta-se pela ideia de que todos os indivíduos além de nascerem livres são também livres para orientar suas escolhas sob qualquer aspecto que sejam elas consideradas, posto que a liberdade e ir e vir encontra-se aderida pela liberdade de pensar e de expressar seus pensamentos. A liberdade de pensamento é uma dádiva da qual nenhum homem tem o direito de dispor, principalmente se o faz com o intuito de auferir um benefício somente para si, em detrimento de seus iguais.

Ademais, devemos sempre ter em mente que o exercício da democracia além de livre deve ser consciente e, desta forma, exige que o cidadão mantenha-se informado sobre todos o assuntos que afetem, direta ou indiretamente, o seu futuro e o futuro de seus semelhantes. Para tanto, faz-se necessário uma educação política, cuja orientação deve ser firmada a partir do interesse do cidadão em, conhecendo os asssuntos tratados no Congresso Nacioal, na Assembléia Legislativa de seu Estado de origem e na Câmara Municipal da cidade onde vive, exigindo prestação de contas, justificativas de projetos e respostas a qualquer perguntas que precisem ser formuladas e cujas respostas deverão servir de guias de orientação ao indivíduo não apenas para uma boa escolha, mas principalmente, para uma escolha consciente, unânime e que represente o bem-estar de todos.

Por fim, uma citação que consideramos relevante não apenas para este texto, como também e principalmente para a conscientização não apenas do indivíduo eleitor, posto que esta é apenas uma face do cidadão – cidadão na integralidade é aquele que exerce sua cidadania – citação esta que serve como bandeira que empunharemos ao longo de nossa vida e que desejamos que todos assim o façam. Tal citação pertence ao jurista maranhense, o juiz Márlon Reis, atualmente licenciado do Judiciário maranhense e membro do Movimento Nacional de Combate à Corrupção Eleitoral e Doutorando da Universidade de Saragoza, na Espanha, na área de sociologia jurídica e instituições políticas (está licenciado desde o final de 2004 para fazer o Doutorado, onde desenvolveu a tese sobre a lei 9.840, de iniciativa popular e que permite a cassação de políticos por compra de votos e por uso eleitoral da máquina administrativa). Eis o excerto:

"Concentre-se na capacidade de o candidato transformar em ação aquilo que é necessário. Para tanto, não se esqueça de uma questão fundamental: seu voto é uma procuração. Por meio dele você delega o seu direito de administrar o patrimônio público (nosso) aos representantes que você mais confia. Dessa forma, essa relação precisa ser transparente, e não termina quando você lê a palavra FIM na urna eletrônica. Cobre seus escolhidos, e não se sinta derrotado em eleições. Se outro político ganhou, você tem o mesmo direito de fiscalizar, exigir e reivindicar".7

http://www.jornalpequeno.com.br/2006/10/1/Pagina43123.htm