Radicalizações perigosas

RADICALIZAÇÕES PERIGOSAS

A campanha política de 2010 trouxe para o bojo das discussões um ingrediente novo, inusitado e perigoso: a difamação projetada a partir do anonimato. Até então, a troca de idéias, a exposição de objetivos de governo e as críticas a esse ou àquele candidato eram feitas às claras, de peito aberto, sujeitas a réplicas, tréplicas, contestações, “direitos de resposta” e até medidas judiciais, conforme o caso.

O que se viu nesta eleição foi uma enxurrada de acusações anônimas, apócrifas e, a maioria delas, montadas em cima de fatos e circunstâncias inverossímeis, misturando de forma sofista verdades com mentiras, tudo com o objetivo de difamar e criar confusão na cabeça do eleitor mais ingênuo ou desavisado. Sou a favor da liberdade de expressão, desde que não contenha o ingrediente covarde do anonimato.

Uma vez que a telinha da internet, seja por e-mail, twitter, blogs ou posts se presta para qualquer coisa, encobrindo os autores, surgiram acusações escabrosas, protegidas pelo anonimato, coisa que, em circunstâncias normais seria evitado, com o temor de uma competente medida judicial.

As maiores mentiras ou acusações duvidosas vinham com a recomendação “repasse...”, “divulgue”...”, “espalhe para o bem do Brasil...”, etc. Dentre essas, viu-se cartas de bispos recomendando voto em “a” ou “b” e rejeição em “c” ou “d”, fatos que pesquisados evidenciaram mentira e tentativa de manipulação. Chegaram a mostrar fotos da Escola Agrícola de São Paulo como de propriedade do filho do Lula. A ficha de Dilma, a partir do DOPS dos “anos de chumbo” foi divulgada mais de uma centena de vezes. Ito é coisa que todos sabem... ela nunca escondeu.

Assim como Regina Duarte na campanha de Lula, surgiu uma eventual entrevista de Maria Gabriela, dizendo “ter medo de Dilma”. Outro absurdo, se não configurasse um ilícito, foram cenas de um vídeo amador, filmado em noir, onde vários homens parecem estuprar uma mulher, supostamente Ingrid Bettancourt. Na legenda diz: “isto são as FARC, amigos de Lula, do MST e Dilma”. Que baixaria! As revistas, a cada semana denunciam um novo escândalo, fatos que depois são desmentidos ou ficam pendentes de prova. E tudo fica por isto mesmo...

O fato é que essa enxurrada de mentiras e aleivosias cria um clima muito perigoso. Essas práticas das oposições, denotando um ódio que extrapola os ditames da ética e do bom senso só servem para acirrar ânimos. De outro lado, os agredidos buscam responder da mesma maneira, o que torna o desfecho imprevisível. Não se sabe que consequências poderão advir desse tipo de radicalização.

Cria-se com isto um perigoso espírito de revanche. Há risco para apropria democracia. O fato é que muitas amizades pessoais, laços familiares e relações sociais se deterioraram – alguns de forma irreversível – por conta dessa radicalização que é danosa para o convívio e uma ameaça ao processo democrático.

Escritor, filósofo e Doutor em Teologia Moral.