Pronto pra pancadaria (vem pro pau, leprechaun)

[Sinto, no fundo da minha (in)existência apática que eu serei eliminado à bala ou coisa pior, logo mais.]

Pois então. Já ouvi, de algumas bocas, e eram bocas inteligentes, a seguinte coisa: "Você sempre tem escolha". Coisa da qual -- e nisso eu me diferencio de um punhado enorme de gente -- eu discordo COMPLETAMENTE. Ou quase. Penso que, na grande maioria dos casos, nós NÃO TEMOS escolha. E explicarei, abaixo, o motivo de assim pensar.

Começo: Se você quisesse, agora, poderia ir à Europa? Alguns talvez respondam que sim. Mas sei bem que pra maioria seria preciso tomar uma série de providências pra que tal coisa acontecesse. Mais uma: Se eu te oferecesse uma passagem pra Eslovênia e um emprego como stripper num clube, você aceitaria? Porque?

Vamos esmiuçar. A primeira questão possui alguns entraves ou obstáculos conhecidos. Até onde eu sei, não é preciso passaporte pra entrar na Europa, hoje em dia. Ouvi estórias de que estavam boicotando a entrada de brasileiros em alguns lugares lá, mas que vá. Mas bom, o lance é que, pra ir pra Europa, você precisa de grana. Pra viver (lá) também. Além de outras coisas.

Agora a da Eslovênia. (Que é tão mais legal que a primeira) Bom, é o seguinte: muitas pessoas com certeza recusariam a parada por não acharem digno o trabalho de despirem-se sobre um palco, possivelmente agarrados num cano. Sim, de certo não é algo muito útil à evolução pessoal, já que com certeza com a grana que se ganha fazendo isso você nem vai mais querer evoluir... (Sim, isso dá dinheiro... Isso se vc souber fazer e... Hm, pode ser que você não possua um corpanzil muito admirável, e isso é essencial nesse ramo, mas suponhamos que sim, só pra continuar aqui... Bom, já tá bom assim.)

Não sei se você sacou já. Talvez sim, talvez não. O ponto aqui é: você provavelmente escolheria NÃO ir pra eslovênia por causa de algo que lhe é muito caro: princípios. Princípios que (quase) todo mundo tem. Em menor ou maior grau, creio que todos. Em cada parte do mundo, de cidade pra cidade, família pra família, eles são diferentes. E eles geralmente impedem as pessoas de fazer uma série de coisas que gostariam de fazer.

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Resolvi adicionar esses pontinhos porque sei que a coisa chegou onde devia já, e respeito o senso comum que me diz que a grande maioria não vai ler tudo, até o fim. Eu continuarei com a argumentação, leiam ou não.

Além de tudo, ainda existe um outro fator em jogo. Responsabilidade. Como dizer que alguém "escolheu" algo se não essa pessoa puder saber anteriormente ao menos em parte das conseqüências que aquilo trará? Como o povo é, em geral, muito supersticioso, e TAMBÉM muito curioso (relativamente ávido por entender as causas de tudo), sempre dá-se um jeito de explicar a sorte ou o infortúnio de alguém de maneira simplista. Eternas falácias que nunca calarão (espero que calem, um dia, e eu me disponibilizaria pra estourar a boca delas com uma doze sempre que fosse necessário) A mídia fomenta esse pensamento, de uma maneira inocente e tácita, com programas de auditório onde o 'jogador' convidado tem a chance de escolher seu destino num painel de números, indistintos (a não ser pelo valor cardinal mesmo), sem pista alguma de qual deve conter os melhores prêmios. E não adianta dizer que isso não fomenta a burrice, pois o povo é muito muito muito manipulável. Você sabe, eu sei, e até o papa sabe. (ahauhau, claro que sabe)

Outra coisa. Quando eu nasci, creio não ter assinado nenhum contrato autorizando o Governo a cobrar-me coisas como ter um trabalho ou votar. Mas mesmo assim, sou "obrigado". Teria eu escolha? Digo, isso é uma obrigação, um dever. Ok. E embora não doa (a não ser no ego, por ter que escolher alguém entre uma gangue de calhordas) tanto perder meia hora por ano numa merda destas, faz pensar... Faz pensar que algumas coisas, que são completos lixos ou placebos sociais, quando negligenciadas te trazem um castigo desproporcional à infração. Toda a merda sobre direitos humanos e sobre corrigir pessoas incorrigíveis. E, sobre as eleições, eu estou me lixando pro fato de ser um direito conquistado pelo povo, já que o povo ainda é a porcaria da massa de manobra da mídia (e sempre provavelmente sempre será, caso não destrua a mídia, ou mais provável, seja destruído por ela). Calro que esses pensamentos são tão rasos quanto a tela desse monitor, e, pra continuar com a linha que eu tinha previamente escrito aqui, obviamente, o destino da humanidade é criar maneiras de sentir-se indo pra algum lugar. Como... como uma fuga da incerteza do campo aberto em direção à certeza da sujeira da cela ou incômodo da coleira.

E eu vou continuar... (Sinto muito se você não agüenta mais...)

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Sabendo que a maioria das pessoas não pensa (eu próprio não pensaria se...) se não forem levadas a isso pelos estímulos certos, vou criar aqui um TOTEM, um lance primitivo... uma lenda, isso. A minha lenda da criação.

O ser humano é um animal pensante. Criado, digamos, POR CAUSA do pensamento. Que é sua única real prisão. Após um desses animais, suficientemente acidentado histórica e geneticamente REMOVER toda a possível ilusão, reduzindo a vida a uma única verdade básica da onde poderia começar a pensar "sem erro" (verdade essa que, diga-se de passagem, também rodava em torno do conceito do <<pensar>>) a humanidade pode encontrar uma cela ainda mais apertada.

And that's the whole of it.