Valeu, Presidente!



Depois de um ano eleitoral cuja campanha foi a mais sórdida que já vi, não podia me furtar a encerrar o ano falando uma vez mais sobre o Presidente Lula.
Quem sempre se interessou por política, quem, de alguma maneira procurou participar da política do país, vai lembrar até com detalhes do que representou até aqui a nossa trajetória democrática.
Alguém se lembra do movimento das Diretas-já que uniu todo o Brasil em uníssono lutando pelo mesmo ideal de votar para Presidente? Creio que todos, sem exceção, com mais de quarenta anos se lembram muito bem.Isso se deu em 84, porém mesmo com a imensa pressão popular a Emenda Dante de Oliveira não passou no Congresso .Apenas como paliativo, os generais permitiram que civis concorressem no Colégio Eleitoral.Somente em 89, conseguiríamos votar para presidente. Naquela época, a campanha global pró-Collor foi indecente.Escândalos, edições tendenciosas, tudo muito bem orquestrado para eleger o candidato dos poderosos.O resultado já era o esperado para a frustração de milhões que apostavam no novo, num governo popular de fato.
As conseqüências de um governo construído pelas elites, forjado pela Vênus Platinada deu no que deu e creio que ninguém sentiu saudades, muito pelo contrário.
Em 94 novas eleições, mais uma vez a orquestração bem feita tentou dissuadir o povo de uma representação legítima.Entre um doutor e um torneiro mecânico não havia comparação,não é mesmo? A campanha foi mais amena, menos passional e o resultado, mais uma vez, foi o esperado.FHC na cabeça.E ele se reelegeu sem dificuldades.Daí para frente, o povo já mais habituado ao voto, já mais antenado com os novos tempos democráticos, foi prestando mais atenção ao país, às práticas de governo que nunca atendiam de forma substancial às demandas populares.Afinal, o doutor e sua equipe deveriam atender principalmente àqueles que sempre representaram a nata da sociedade, o motor do desenvolvimento, ou seja, os donos do dinheiro.Esse negócio de povo é só pra época de eleição, com direito a andar pela 25 de Março, pegar criancinha no colo, subir as favelas, tomar cafezinho no copo ou comer pastel de feira.Puro jogo de cena.
Até que o ano de 2002 entrou para a história.Os milhões de eleitores de Lula conseguiram virar o jogo.É como se um imenso time se unisse em prol do mesmo ideal.Cada um passou a fazer a sua parte, a vestir a camisa do candidato, a tentar multiplicar o número de votos necessários a sua eleição.Recordo-me do entusiasmo à minha volta, as casas repletas dos slogans da campanha, o retrato de Lula em várias janelas, as estrelas do PT se multiplicando Brasil afora em todos os cantos.E dessa vez não tinha como dar errado, como não deu.Lula eleito.Tudo resolvido? Claro que não.Agora começaria o grande desafio.Governar uma nação como o Brasil, um continente, não seria tarefa fácil.Mas os eleitores de Lula confiavam.
O primeiro mandato foi acanhado.As promessas de campanha em sua maioria não saiu do papel.A oposição trancava a pauta sempre e a base governista ainda pequena não conseguia reverter a situação.As críticas eram impiedosas.Era como se a burguesia afastada momentaneamente do poder depois de décadas de controle absoluto não tivesse ainda digerido o fato de se ter como mandatário da nação alguém com a cara do povo, um Zé da Silva qualquer.
Muitos escândalos acontecem.O mensalão surge como um monstro assustador capaz de desestabilizar o governo completamente.Aliás isso teria acontecido, não tivesse Lula a têmpera de quem conseguiu driblar todo tipo de adversidade, todo tipo de preconceito.Foram tempos difíceis.Se alguém pegar as revistas da época, principamente a Veja com todo sua parcialidade declarada, vai lembrar desses momentos em que o presidente era clicado nas mais ignominiosas poses.A mais deprimente delas (que já mencionei noutro artigo), Lula aparece de costas com a marca de dois pés no traseiro.Alguém se lembra de algo mais perverso em relação a uma figura pública legitimamente eleita pelo povo? Eu não.A mídia fez muito bem o seu papel, tanto no sentido de mostrar o que vinha acontecendo de errado no Governo (corretíssimo), como de arregimentar forças para tentar liquidar com o governo.Mas, felizmente os tempos eram outros.O povão já experimentara os novos ares democráticos e não mais aceitava ser refém da poderosa mídia.
Para disputar seu segundo mandato, em 2006, Lula passou aperto , não levou de primeira.Para a oposição foi um êxtase.Acreditavam na virada de mesa.Eu, como os milhões de eleitores de Lula, sabíamos que novamente ele sairia vencedor das urnas.É que os seus eleitores andavam descontentes, insatisfeitos mesmo com a postura muitas vezes equivocada e fraca do Presidente.A gente queria mais.A gente queria a força do antigo sindicalista, que engrossava a voz na hora certa e que não temia ninguém.Com isso, e eleição foi decidida no segundo turno.E como tudo mais difícil tem gostinho especial, foi muito bom reeleger Lula mais uma vez, além de ter sido mais um ganho para a nossa jovem democracia.Pois não é verdade que votar se aprende votando?
A partir de 2007, a história foi outra. As promessas de governo foram se concretizando.Os programas sociais tomaram vulto, alcançaram os bolsões de miséria.O Brasil passou a ser governado em todas as suas dimensões continentais.Não mais os investimentos estavam restritos ao Sudeste.Pela primeira vez na história desse país, vimos a pirâmide social ser modificada.Quase trinta milhões saíram da miséria absoluta, mais de vinte milhões mudaram para as classes C e B. Na educação, ponto sempre muito criticado por todos, foi onde houve os maiores investimentos se comparados com os governos anteriores.Regiões do Norte e Nordeste que nunca haviam recebido nenhum incentivo do governo passaram a ser prioridade.Agora quem mora nessas regiões não precisa abdicar do direito legítimo de freqüentar uma universidade.Por mais estranho que possa parecer, foi preciso um analfabeto ( para quem o considera assim e nada entende do que seja realmente “ser analfabeto”) chegar ao poder para que o povão tivesse acesso ao ensino superior.E o que dizer dos centros tecnológicos, dos programas como o PROUNI, o REUNI, o FIES e tantos outros que possibilitam o ingresso às universidades? E o que dizer do Enem, que apesar das muitas falhas ocorridas tem em sua essência a possibilidade de uma inclusão educacionalde fato?
É.Até na questão da criação de empregos, que era uma das promessas não cumpridas no primeiro mandato e que dava poder de artilharia à oposição, Lula conseguiu cumprir.Cerca de 15 milhões de empregos criados com carteira assinada num cenário global deficitário não é pouca coisa.Que país democrático conseguiu mais?

Bem, eu poderia estar aqui elencando tudo o que foi feito nos oito anos de governo Lula.Mas o meu artigo nem seria lido devido ao exagerado tamanho, pois é claro que tem muita mais coisas importantes.Fiquei apenas no que é mais perceptível.Agora dirão alguns possíveis leitores que nunca suportaram o Lula: Em que país essa defensora de Lula vive? Como nunca percebemos nada disso? E eu ousarei responder: A gente muitas vezes só vê o que deseja.Como sempre quis ver esses avanços no país, fico feliz por vivenciar essas realizações .Quanto ao que não foi feito, quanto aos inúmeros erros dessa administração, também sei de muitos deles.E como cidadã que ama o seu país, também não fico feliz com a corrupção, com a prevaricação, com o oportunismo.Mas se nunca conseguimos responder se quem nasceu primeiro foi o ovo ou a galinha, creio que imputar a esse governo todo os descalabros recém-descobertos é, no mínimo, uma enorme injustiça.O poder não pertence à esfera do divino.Tudo que é feito pelo homem está sujeito à conspurcação.No que tange à política então.....
Nesse sentido, quero reafirmar meu otimismo em relação ao que acontece em nosso país e , em nome de milhões de brasileiros ,dizer ao nosso prezadíssimo presidente: Valeu, Lula! Se muito não foi feito, muito do que precisava fazer, você conseguiu.Que a sua sucessora possa dar continuidade aos projetos que estão dando certo e que o Brasil se torne cada vez mais um país mais humano, mais justo.