TRIPALIUM NA TRIPARTIÇÃO DO PARÁ

                                                       Sérgio Martins Pandolfo*
          
             Não vamos deixar, pois sim!
             que estranhos vindos pra cá
             mudem pra Pará-Mirim
             o que já foi Grão-Pará
                                          SerPan
      


         Face a vários questionamentos que nos chegaram por meio de telefonemas e e-mails, relativamente a artigos anteriores, voltamos ao tema, inexaurível, da tricotomia (divisão em três partes) que se pretende fazer do Estado do Pará.
         Os romanos bem conheciam o tripalium (lat. Tripalìum = instrumento de tortura feito com três paus, dele resultando o verbo tripaliare, i.é, castigar com tripalium), usado à farta na Roma antiga para punir trabalhadores braçais do campo ou escravos em falta, eis que trabalho braçal era coisa reles, só exercida pelas mais baixas classes sociais.  Tripaliare era, assim, o mesmo que castigar. De tripalium originou-se a palavra trabalho.
         Pois é isso, exatamente, o que estamos a ver com a tentativa de se despedaçar o Pará em três: um castigo para um Estado que já foi Grão-Pará. Desadonaram-nos do atual Estado do Amazonas, ainda ao tempo da Colônia e, mais proximamente, do Amapá.  Agora querem nos surrupiar quase tudo, nada menos que 83% de nosso território, que fora tomado à Natureza pela bravura e determinação do luso Pedro Teixeira, o “Conquistador da Amazônia”, domínios terreais, hauridos a ferro e fogo em um tempo que já vai distante. Isso configura ou não “tripaliamento”, castigo, para um povo que está a bem trabalhar?
         Duas razões, principalmente, foram alegadas para tal: 1- a “enormidade” do território paraense, que impossibilitaria a correta e presta ação do poder central para atender às necessidades de regiões mais alonjadas da capital; 2- a tripartição daria mais força, maior poder de barganha no Congresso Nacional às bancadas dos três Estados, eis que, somadas, seriam maior que a atual representação parlamentar paraense. Analisemos as duas assertivas.
         Quanto à primeira temos a contrapor o que já está à farta demonstrado: são justamente os Estados maiores que mais progridem e se desenvolvem, por contar com fontes de receitas oriundas de ramos vários da atividade humana, industrial e comercial, ao passo que os pequenos, por só contarem com um ou pouco mais que isso de geradores de receita, em geral crescem feito rabo de cavalo: pra baixo. Isso se verifica assim no solo pátrio, onde vamos encontrar estados geograficamente maiores (S.Paulo, Minas, Bahia, Paraná) liderando em receita e crescimento e os menores (Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte) como menos desenvolvidos.
         No nível mundial o mesmo também se dá: EUA, Rússia, China, Canadá (os maiores), França, Alemanha, Reino Unido (médios), ocupam os primeiros lugares, cabendo menção especial aos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) igualmente grandes, a ocupar o cimo na economia global, Dentre os pequenos (Grécia, Mônaco, Malta, Vaticano) nenhum sobressai.
         Grandes distâncias são hoje vencidas por modernos meios de transporte (aéreos, terrestres, aquáticos) para acertos presenciais e, virtualmente, pelas telecomunicações (telefone, fax e, mais modernamente, a WEB), capazes de propiciar intercomunicação em tempo real (v.g. as teleconferências), ligando lugares e pessoas distantes entre si numa mesma sessão para discussão de assuntos diversos. Precisa mais?
         Quanto à ligação por estradas, inflamado separatista verberou contra o “estado tenebroso da Transamazônica e Santarém-Cuiabá” que há 40 anos estão em péssimo estado e nunca são concluídas “(sic). Ora, essas rodovias BR-230 e BR-163, respectivamente, vêm do tempo do chamado regime militar, presidido à época pelo general Emílio Médici (1969-74). São, ambas, estradas federais e, por isso, o governo do Estado não pode ingerenciar ativamente em sua conclusão. Seguiriam sendo problemas porque, sabidamente, o Planalto não tem interesse nem disposição para injetar dinheiro por aqui, conquanto sejamos um Estado superavitário, gerador de divisas para o Tesouro Nacional.
         O Norte também perderia força política, pois, como se antevê pela controvérsia inflamada das opiniões, teríamos não três novas unidades lutando em uníssono pela região, mas sim, três bancadas inimigas a se embaterem no Congresso como leões esfaimados.
         A pujante Parauaralândia (terra dos parauaras) que ostenta hoje uma economia forte e em ascensão, com a tripartição irá ensejar a formação de, uma troika de nanicos a onerar os cofres da Nação e cumear os índices de criminalidade, pobreza e analfabetismo do País, Queremos isso?

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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
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“Site”: www.sergiopandolfo.com
Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 23/06/2011
Reeditado em 11/07/2011
Código do texto: T3052211
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