FATOS POLITICOS RECENTES. A SEMÂNTICA E A METANÓIA

FATOS POLITICOS RECENTES. A SEMANTICA E A METANÓIA.

A maioria dos irmãos desta Loja Maçônica conhece o nosso apreço à literatura e a incursão vez ou outra no exercício da escrita e do cotidiano hábito da leitura. Tal prática nos proporcionou apreender os acontecimentos políticos pinçados da vida recente do estado e do país. E como resultado dessa percepção captamos determinados fatos e mudanças do significado de palavras, o novo enfoque e a conseqüente evolução semântica desta resultante e a metanóia sofrida pelas pessoas nelas envolvidas.

A principio, para ilustrar o escopo a que vamos atingir, destacamos as palavras paz e justiça por nós outros consideradas de suma importância na vida política de uma nação; e tortura e injustiça as de importância menor, abjetas e desprezíveis. E de permeio duas outras, comunismo e subversão, muito encontradiço e discriminados até pouco tempo atrás, de amarga lembrança em nossa geração.

Elas nos fazem recordar tempos político nebuloso em que era proibido às pessoas qualquer demonstração de irresignação represada, quando expresso publicamente por qualquer do povo contra ato falho do estado de exceção então em vigor. Incorria na iminência de ser posto no índex vigente, em que as duas palavras encabeçavam o crivo de terrível listagem.

Avaliem o quanto de tortura e o quanto de injusta perseguição foi impingidas àquelas pessoas, sob a acusação de serem perigosas à segurança de estado... Quem por infelicidade detivesse os epítetos - comunista e subversivo - eram perseguidas e enquadradas na esfera administrativa quando funcionário publico, chegando ao cúmulo de sofrerem ingerência descabida ao serem demitidas a pedido, (imaginem!), e até proibidas de exercerem atividades profissionais privadas!

Inclusive o anedotário popular os acusavam de comerem crianças; não sabemos se no sentido antropofágico da palavra, ou se no sentido penalmente enquadrado até há pouco tempo como atentado violento ao pudor...

Então, em exercício de memória e para argumentar, passamos a questionar o porquê de essas palavras e o ideal dessas pessoas estarem hoje em desuso, assim como os atos nocivos à ordem estabelecida terem perdido importância e glamour.

Onde andarão elas? Parafraseando Machado de Assis perguntamos: mudaram os comunistas e subversivos de ontem ou mudamos nós? Ou mudou a maneira de serem vistos pela sociedade, hoje? A semântica ou a metanóia explicam ou influenciaram tal metamorfose?

E por que não mais os encontramos com a freqüência de antes? Por que cessaram suas nefastas intervenções? Por que a ausência deles, agora que a liberdade democrática, embora com todas as nuances de imperfeição e descalabro se faz presente? Por que ainda hoje a prevalência do regime democrático, tão protelado e tão indesejado naquela época?

E os torturadores? Teriam sido aliciados e cooptados pelos detentores do poder recente e o de agora? Por que não mostram a cara? Onde anda o famigerado perigo que os subversivos e comunistas representavam à sociedade, à família e à propriedade?

Estariam, hoje, encarnados, materializados, disfarçados na figura dos sem terra, dos sem teto? Por que não mais atuam? Por que não se insurgem em regime democrático? Por que só proliferaram nos regimes de força? Por que deixaram de representar toda aquela ameaça concreta e imaginária que se lhes atribuíam? Faz-se necessário outra indagação: a culpa seria da metanóia ou da semântica, pois esta estuda e explica o significado, a evolução e a mudança das palavras no tempo e no espaço; e aquela explica a conversão e a mudança de direção, de atitude, a conversão acometida ás pessoas...

Lamentável verificar o desrespeito cometido pelas autoridades naquele passado ao afrontar e passar ao largo da Constituição de 1967, pois o artigo 153, parágrafo oitavo, insculpido no capitulo DO DIREITO E GARANTIAS INDIVIDUAIS prelecionava ser livre a manifestação de pensamento e de convicção política e filosófica (...)

Paradoxalmente muitos defensores e apaniguados daquele tempo estão agora a usufruir as benesses de altos cargos no governo atual, esquecidas do seu passado recente, chegando muitos deles chamar hipocritamente aquele período de ditadura quando o eufemismo de ocasião a chamava por outro nome... Reconheçam o efêmero da vida e a vertiginosa passagem dos anos; façam o mea culpa, se arregimentem e incorporem o idealismo da paz e da boa convivência com os contrários e se redimam daquele período eivado de equívocos e contradições.

Esqueçam aquele exacerbado passado e irmanados festejem a alegre ciranda da vida antes que o ocaso, o crepúsculo os toldem e os cubram com a sombra perene da”indesejada das gentes,” como afirmara o poeta Manoel Bandeira. Assim perceberão o quanto foi em vão o imenso sacrifício que a muitos impuseram com a intolerância se fazendo presente, abrindo mão do dialogo, da compreensão e da saudável convivência humana.

Valeu a pena toda aquela perseguição, todo aquele sofrimento impostos à famílias inteiras, forjando desaparecimentos, torturas, tudo sob a desculpa de resguardo do país a um pseudo perigo e a tentativa de impor uma verdade absoluta através da força?

Em contrapartida, o outrora adversário perigoso, o opositor, está hoje adaptado ao dia-a-dia democrático vigente, salvante os desvios de conduta e a natural imperfeição humana.

A esperança nossa de o período ora abordado ficar apenas como pano de fundo do estudo da história política recente do pais e nunca mais vigore entre nós. Pois legou a toda uma geração, como se diz em direito, prejuízo de difícil reparação ao impedir o surgimento de lideranças que se volatilizaram ou desapareceram sob o guante do baraço e do cutelo. RUMINEMOS.

EM TEMPO: Destacamos acima as palavras paz e justiça por exaltarem o ideal de um governo democrático. Mas elas jamais poderão suplantar a palavra amor, pois esta não sofreu e não sofrerá a influência ou alteração semântica de qualquer natureza, a caracterizar, sempre, o bem querer recíproco em contraponto à sordidez e à iniqüidade humana.

ANTONIO LUIZ DE FRANÇA FILHO

Advogado e aposentado da Celpe

Membro Honorário da Academia Maçônica de Letras de Olinda

Loja Maçônica 12 de Março de 1537

e-mail:antoniofranca12@yahoo.com.br

Data:19/06/2011

ANTONIO FRANÇA
Enviado por ANTONIO FRANÇA em 24/06/2011
Reeditado em 24/07/2020
Código do texto: T3054466
Classificação de conteúdo: seguro