A QUEM INTERESSA A DIVISÃO DO PARÁ?

                                    Sérgio Martins Pandolfo*

             Não vamos deixar, pois sim!
             que estranhos vindos pra cá
             mudem pra Pará-Mirim
             o que já foi Grão-Pará

                                           SerPan
 


         Soa a pinima esta surrada tecla em que os separatistas teimam em bater: dizer que as partes diretamente interessadas são apenas as que aspiram à separação, decerto com o zarolho intuito de iludir e acicatar seus crédulos seguidores. Ora, a Lei 9.709, de 1998, dá definitiva exegese ao § 3º: do Art. 18 da Carta Magna: a população diretamente interessada é “tanto a do território que se pretende desmembrar quanto a do que sofrerá desmembramento”. Até o senador Mozarildo Cavalcante, um dos autores da proposta, ressalta esse item.
       Como negar às populações residentes no que restaria dessa ação predatória de apropriação indébita o direito de se pronunciar sobre a supressão de uma parte tão substantiva de seu território, surrupiada à modo de saque? E mais: quem lhes disse que os que habitam a área ocupada pelo projetado Estado do Tapajós não têm interesse em dizer se concordam ou não com a perda das minas e demais riquezas enterradas na província mineral do Carajás e vice versa, i.é: que o povo carajasense aceita, cordeiramente, perder as férteis terras do Tapajós (já que seus solos não são favônios à atividade agrícola), seus rios de águas piscosas e preciosas, que poderão abrigar mais de cinco HE além da de Belo Monte, para a produção, e comercialização de energia gerada. Mais ainda: que o povo brasileiro em seu todo “tá nem aí” para o desembolso inicial de 5,5 milhões de reais só para a realização do plebiscito, mais a sangria anual de cerca de 3,5 bilhões, por vários anos, para custear a ereção de palácios para abrigar os poderes executivo, legislativo e judiciário, com todos os seus penduricalhos, nos dois putativos estados, afora os demais complementos, tais: secretarias estaduais e municipais, hospitais, escolas, universidades, polícias, comunicações, estradas vicinais, veículos, materiais e pessoal para fazer girar tais elementos, muitos deles devendo permanecer ainda durante bom tempo aligados aos congêneres do desapossado Pará restante. Temos hoje uma banda pobre, a oeste, e uma faixa territorial de cerca de 75% da banda rica, a sudeste. Qual a lógica e/ou critérios usados na delimitação desses territórios?
       Marabá, Princesa do Itacaiúnas, e Santarém, a Pérola do Tapajós, joias da Coroa, sempre estiveram ligadas umbilicalmente a Belém desde o nascer, tanto sob o aspecto geopolítico como étnico (forte participação indígena) e sentimental, com laços familiares estendidos nos dois sentidos, até que levas de forasteiros pra cá vieram atraídas pelo eldorado amazônico para se aprumarem, cremos, maioria deles; outros muitos, malsucedidos ou malqueridos, senão mesmo fracassados em seus rincões de origem, afora os de lá corridos ou enxotados. Aqui chegados e abrigados, mediante burla e lábia venenosa lograram implantar a cizânia e a desconfiança entre povos irmãos que até então viviam na mais harmoniosa, respeitosa e veraz benquerença.
       De uma hora pra outra, por pura ganância politiqueira, se arvoraram a porta-vozes dos viventes de lá contra os daqui, incitando-os a nos repudiar, e querem que nada se diga “porque não temos interesse nenhum nessas províncias”, para nós caras e afagadas desde sempre? Julgam-nos, tais sanguessugas, um punhado de bananas, uns panacas, uns sangues-de-barata, nós que já fomos protagonistas vitoriosos da insurreição cabana? Querem que passemos de Grão-Pará que éramos a Pará-Mirim que ameaçam nos impingir. Seria mesmo de troça, não fora, a ação, de destroça.
       O ”rinhateiro” Duda Mendonça que liderou a campanha contra a divisão de seu estado, a Bahia, e agora, ao revés, pretende pilotar (Ah! Sob gordo “incentivo” financeiro) a lide publicitária visando a nos rapinar Carajás terá desprazerosa surpresa com a aguerrida gente parauara, tanto quanto os incitadores do obreiro, ordeiro e parceiro povo do querido Tapajós, fiel ao bordão de Ruy e Paulo André Barata, mocorongos da gema: “Eu sou de um país que se chama Pará,/que tem no Caribe o seu porto de mar”. A Parauaralândia é nossa!
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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 30/06/2011
Reeditado em 24/07/2011
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