ANÁLISE DO CONCEITO DE DESIGUALDADE SOCIAL EM ROUSSEAU E MARX

Introdução

O objetivo desse artigo é analisar as desigualdades e a sua relação com a diferença de classe a partir de Rousseau e Marx, fazendo uma relação entre ambas com as desigualdades que encontramos em nosso dia-a-dia, tais como as sociais e as econômicas. Vivemos em um mundo totalmente capitalista e até mesmo egoísta, onde as pessoas encontram-se completamente presas a esse sistema, sempre desejando mais, sem se importar com as outras, considerando-se melhores que alguns e piores do que outros. Isto se deve ao que aconteceu com os homens, onde a necessidade começa a ser deixada em segundo plano e as coisas supérfluas, tais como ter dinheiro, um belo carro, uma bela casa, jóias, status, poder, entre outras coisas começam a ter mais valor.

Com este pensamento, eis que surgem então, as idéias de desigualdades e também as próprias diferenças de classes, pois a partir do momento em que as pessoas começam a separar-se, e assim consideram-se melhores, essa enorme teia começa a se formar.

Fazendo este estudo, pretendo mostrar como isto ocorreu, a importância de tal análise, relacionando com os dias atuais, pois através da compreensão destes fatores, tão presentes em nosso dia-a-dia, conseguiremos enxergar o que deve ser mudado, não tratando isto como algo normal do próprio ser humano. O homem em sua natureza é bom, o que o corrompe é a sociedade em que vive (ROUSSEAU, 1994).

A origem das desigualdades e sua relação com a diferença de classes nos dias atuais.

Muitas vezes em nosso dia-a-dia somos informados de várias coisas que acontecem no lugar onde vivemos e, em quase todas essas ocasiões, muitas não são bem vistas por nós e até entendidas como algo absurdo e incompreensível. Isto ocorre por se tratar de algo em que em nosso círculo social é visto como algo errado e completamente absurdo de se pensar. O que muitos não percebem é que mesmo sendo “iguais” não tratamos as outras pessoas acreditando nessa idéia, mas a uma idéia de desigualdade, em que uns sempre serão melhores e iguais que os outros, sejam eles devido a sua classe social, a sua raça, a sua cultura, religião, etc.

Porém, as desigualdades como existem hoje nem sempre existiram, Rousseau no seu livro “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens” nos mostra como elas surgiram, distinguindo duas espécies de desigualdades: a desigualdade natural ou física e a desigualdade moral e política. A desigualdade natural não é o seu objetivo, pois como o próprio nome já afirma, esta desigualdade tem uma origem natural e ao contrário da outra desigualdade mostrada, não foi ela que submeteu um homem a outro. Para Rousseau (1994) o homem natural, mas muito próximo da realidade histórica, é aquele que vive seu presente, é robusto e bem organizado, é inocente e por isso não possui as noções de bem ou mal e não possui motivos que o leva a vida em sociedade. Este homem possui apenas a preocupação de sobreviver e à medida que nascem as dificuldades, ele é obrigado a superá-las, possuindo novos conhecimentos.

Este homem aprendeu a pescar, aprendeu a colher, a caçar e até a se agrupar com outros homens, geralmente para a caça. Porém, desse agrupamento com outros homens, começa a se alojar em um único lugar por mais tempo, deixando de ser nômade, unindo-se a outras famílias por questões de segurança, clima e hábitos alimentares formando assim as primeiras comunidades. O autor nos coloca (ROUSSEAU, 1994) esse momento como o momento em que as coisas deveriam ter parado, para que as desigualdades fossem mais difíceis de originar. Porém não foi isto que aconteceu nestas pequenas comunidades, onde todos os moradores possuíam todas as condições de suprir suas necessidades e serem felizes, mas o desejo de ser melhor e o de possuir mais do que o outro foi tomando conta daqueles homens que não possuíam a idéia disto, fazendo as sociedades morais e políticas, onde o possuir apenas o necessário para sobrevivência, não é mais suficiente para o homem, sempre buscando mais e assim dividindo-os em ricos e pobres, ou seja, os melhores e os piores.

O homem selvagem, quando acabou de comer, está em paz com toda a natureza e é amigo de todos os seus semelhantes. Se algumas vezes tem de disputar seu alimento, não chega nunca às vias de fato, sem ter antes analisado a dificuldade de vencer com a de encontrar noutro lugar sua subsistência e, como o orgulho não se mistura ao combate, ele termina por trocar alguns socos. O vencedor come e o vencido vai em busca da sorte em outro lugar e tudo fica em paz. Mas no homem que vive em sociedade, as coisas são bem diferentes. Trata-se primeiramente de prover o necessário e depois, o supérfluo. Em seguida, vêm as delícias, depois as imensas riquezas e depois súditos e ainda escravos. Não há um momento de descanso. O que há de mais singular é que, quanto menos as necessidades são naturais e prementes, tanto mais as paixões aumentam e, o que é pior, o poder de satisfazê-las, de modo que, após longa prosperidade, depois de ter devorado muitos tesouros e desolado muitos homens, meu herói acabará por arruinar tudo até que seja o único senhor do universo. Esse é, abreviadamente, o quadro moral senão da vida humana, pelo menos das pretensões secretas do coração de todo o homem civilizado. (ROUSSEAU, 1994, p. 136).

O próprio homem criou seus males quando “evoluiu” de seu estado natural para um social, pois enquanto era apenas um homem da natureza ele não possuía a ânsia de se sobressair entre os outros homens, e ao tornar-se um homem que convive em sociedade, essa sua ânsia por poder fez com que se transformasse, fazendo com que tudo que possui para sobreviver seja pouco e sempre queira mais. Esta vontade insaciável do homem de sempre ser melhor e possuir mais não foi presente só ali, mas em toda época que analisarmos iremos perceber os mesmos fatores agindo.

Na Idade Média, por exemplo, percebemos essa desigualdade através dos estamentos. Analisando os feudos, em que os senhores feudais e o clero eram entendidos como as pessoas superiores, ou seja, os ricos, e prevaleciam sobre os que possuíam menos vantagens e possibilidades para obterem lucros, ou seja, os pobres, impondo aos camponeses várias leis e trabalho. A maioria dos camponeses aceitava todas essas leis e seu trabalho árduo como algo que os padres lhe ensinaram que foi o que Deus escolheu para eles, não percebendo a verdadeira origem dessa desigualdade, onde essa diferença só existe porque os homens quiseram criá-la, e aceitam geralmente tudo que lhes é dito sem contrariar.

Foram essas pessoas da classe alta, que determinaram as condutas e formaram as leis para que as outras pessoas seguissem, nunca se importando com suas necessidades, dando-lhes apenas obrigações sem nenhum direito e fazendo de tudo para tirar-lhes algum proveito, pois com a posse do poder, elas acreditam possuir o direito para tais atividades.

(...) o homem só tem os males que se criou para si mesmo, o que à natureza se faria justiça. Não foi fácil chegarmos a ser tão desgraçados. Quando, de um lado, consideramos o imenso trabalho dos homens, (...) e quando, olhando do outro lado, procuramos, meditando um pouco as verdadeiras vantagens que resultaram de tudo isso para a felicidade da espécie humana, só podemos nos impressionar com a espantosa desproporção que reina entre essas coisas, e deplorar a cegueira do homem, que, para nutrir seu orgulho louco, não sei que vã admiração de si mesmo, o faz correr ardorosamente para todas as misérias de que é suscetível e que a benfazeja natureza havia tomado cuidado em afastar dele.

Os homens são maus, uma triste e contínua experiência dispensa a prova; entretanto, o homem é naturalmente bom, (...). Que será, pois, que o pode ter depravado a esse ponto, senão as mudanças sobrevindas na sua constituição, os progressos que fez e os conhecimentos que adquiriu? Que se admire quanto se queira a sociedade humana, não será menos verdade que ela conduz necessariamente os homens a se odiarem entre si à proporção do crescimento dos seus interesses, a se retribuir mutuamente serviços aparentes, e a se fazer efetivamente todos os males imagináveis (...) É assim que tiramos vantagens do prejuízo dos nossos semelhantes, e que a perda de um faz quase sempre a prosperidade do outro. (ROUSSEAU, 1994, p. 135).

Um exemplo recente de desigualdade é a desigualdade de classes que podemos perceber na Índia, pois mesmo que legalmente abolidas, as castas que fazem parte da religião hindu, que é seguida por 75% do país, continuam a existir, estas que, são determinadas pela hereditariedade e se definem de acordo a condição social pregam que não podem se misturar através do casamento, profissionalmente ou culturalmente com outras pessoas que não façam parte do meio em que vivem, podendo concluir que de alguma forma são consideradas superiores, pois não se misturam e as pessoas que não fazem parte de nenhuma casta, entendem esta situação e permanecem no lugar social em que acreditam ser delas porque a sociedade os impôs. Os “dalits”, por exemplo, são pessoas consideradas inferiores para as castas e para eles próprios intocáveis, eles são de tal forma excluídos que não possuem nem ao menos o direito de ter atendimento hospitalar e, muitas vezes acabam morrendo, pois mesmo que estejam na rua doentes, ninguém os toca nem dá nenhum apoio ou ajuda. Vale ressaltar que, em relação ao dalits, a situação é completamente diferente das pessoas que se encontram em alguma classe social, pois estes não possuem a capacidade de mudar de situação como as classes onde existe a mobilidade social, e por isso as pessoas ricas, podem se tornar pobres, mas no caso dos dalits não há essa mobilidade e por isso mesmo que cresçam economicamente, continuam sendo considerados inferiores.

Podemos perceber que é a sociedade que corrompe o homem, mesmo sendo ele que a compõe, pois como Rousseau nos diz no livro analisado neste artigo: “O homem nasce bom”, entretanto ao começar a tomar consciência de seus atos, essa sociedade o faz crer que sempre há uma diferença entre ele e os outros, que é certo aquele que segue as regras citadas pelas pessoas que são “melhores” e, quem não segue as regras está fora do padrão, isto se dá devido às pessoas estarem presas a ideologias, que podemos entender como um conjunto de idéias ou pensamentos de uma pessoa ou de um grupo de indivíduos ligada a ações políticas, econômicas e sociais, no caso dessas desigualdades, a ideologia social, denominada pela classe dominante. Na visão de Marx, “não é a consciência do homem que determina seu ser, mas é seu ser social que determina sua consciência." (MARX, 1977, p. 28), pois é a partir da classe que se vive que se criam as regras e o julgamento das coisas consideradas como errado.

Podemos perceber essa diferença, em vários meios, tais como a própria educação, trabalho, a cultura, etc. No ambiente educacional percebemos essas diferenças através da violência simbólica, ou seja, o processo pelo qual a classe que domina economicamente impõe sua cultura aos dominados. Analisando essa violência, exercida pelo professor, vemos como a escola possui um modo de ensino direcionado mais as pessoas de classes superiores, interiorizando a sua cultura. Ela anula a capacidade do aluno de pensar, fazendo-o apenas reproduzir as coisas. A mesma também incorre a essa violência simbólica ao incorporar e refletir uma ideologia da igualdade das oportunidades, fundamentada numa visão liberal da educação como instrumento que garante o sucesso e a mobilidade social para todos, porém ao fazer isto, nega o fato de estar ajudando somente os já “socialmente favorecidos”. A escola não leva em consideração os diferentes modos de vida dos seus alunos, e como aponta Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron (2009), autores da conceituação de violência simbólica e seus maiores estudiosos, o instituto de ensino trata os desiguais como aparentemente iguais, defendendo uma escola direcionada a inclusão, que na verdade atua de modo contrário.

Em relação ao meio de trabalho, percebemos essa desigualdade ao analisarmos as profissões das pessoas de classe alta com as profissões das pessoas de classes baixa. Geralmente a classe alta ocupa os mais altos cargos, os mais bem pagos e que possuem mais valor em nossa sociedade. Já as pessoas de classe baixa, submetem-se muitas vezes a cargos inferiores a sua capacidade, ou até mesmo só podem exercer estes cargos devido a não possuírem o estudo suficiente para tentarem algo melhor. É muito raro vermos alguém dessa classe, tais como vemos os “dalits” citados acima, que se submetem a essa humilhação, pois foi dito a eles, que é apenas isso que merecem e que podem, com um bom salário, um bom emprego, como uma profissão bem vista pela sociedade, pois esta oportunidade não lhes é dada. Trabalho, que muitas vezes é humilhante para a própria pessoa, mas aceito, devido à necessidade de trabalhar para sustentar-se e a sua família. Muitas vezes, a necessidade faz do homem que nasceu livre e tem esse direito, como qualquer outro ser humano, se tornar um escravo.

“ A maneira com que os homens produzem seus meios de existência depende, antes de mais nada, da natureza dos meios de existência já encontrados e que eles precisam reproduzir. Não se deve considerar esse modo de produção sob esse único ponto de vista, ou seja, enquanto reprodução da existência física dos indivíduos. Ao contrário, ele representa já, um modo determinado da atividade desses indivíduos, uma maneira determinada de manifestar sua vida, um modo de vida determinado. A maneira com que os indivíduos manifestam sua vida reflete exatamente o que eles são.” (MARX, 2002, p 11)

Já na cultura, percebemos essas diferenças pela discriminação que existe, pelo modo em que julgamos algo que outras pessoas fazem e nós não estamos acostumados a presenciar. As crenças em outras religiões, as diferentes concepções de bem e mal, o diferente modo de vida, entre outras coisas, são, para nós, coisas difíceis de serem concebidas como corretas em nosso pensamento e, por isso, discriminadas em nossa sociedade.

Estas desigualdades/diferenças de classes são coisas que passam geralmente despercebidas pelas pessoas, pois são exercidas pela própria sociedade como algo natural da mesma, fazendo com que as pessoas convivam com elas de um modo a demonstrá-las natural ao ser humano.

Marx acreditava em sua época, no começo da revolução industrial, onde as pessoas exploradas tomariam conta de sua situação e por serem tantas as pessoas indignadas e descontentes com a sua situação, que elas se reuniriam e derrubariam o sistema capitalista a que estavam submetidas. Delas foi tirada a sua dignidade, quando lhes foi roubado o seu trabalho, foi explorada a sua mão-de-obra, afastando o fruto de seu trabalho, ganhando pouco em relação ao seu patrão, que retirava o lucro da mão-de-obra de seus empregados.

O trabalhador torna-se tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria tanto mais barata, quanto mais número de bens produz. Com a valorização do mundo das coisas, aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens. (MARX, 2002, p.111)

Mesmo com tudo isso, as pessoas não se revoltaram, ou até se revoltaram, mas foram tão poucas ou seu medo foi tão grande, que não fizeram nada que surgisse grande efeito, e desde então, ou até mesmo antes, as pessoas são exploradas se não são os patrões ou vivem na completa miséria se não aceitam isso, pois não possuem dono e são livres, mas por serem livres e não possuírem dinheiro, não conseguem possuir nada, e vivem de uma forma humilhante, como é o que acontece no filme Ilha da Flores (1989).

O filme Ilha das Flores (1989) relata a história de uma ilha onde é depositado o lixo recolhido na cidade de Porto Alegre. Nesta ilha existem várias pessoas de diferentes tipos. Umas são donos, outros trabalhadores e outras livres, umas ricas, o seja patrões e outras pobres, que não são nada. Estas pessoas livres se alimentam do lixo, cada uma tem um tempo para pegar a sua “comida” diariamente e vivem nessa realidade social. Por que se encontram nesta situação? É uma pergunta que possui várias respostas, pode ser por necessidade e até mesmo por acomodação, mas uma coisa é certa, estão ali principalmente por serem livres.

Mas não são apenas as pessoas livres pobres que passam dificuldades para sobreviver, muitas pessoas de classe baixa que possuem um “dono” (emprego), também passam por essas necessidades, só que em menor proporção. Geralmente não têm mais do que para sobreviver e nem mesmo disponibilizam da mesma instrução, tornando-se “diferentes” para nós.

Estas pessoas, principalmente as mais pobres, vestem-se de uma forma simples e muitas vezes nem tem roupas suficientes para passarem o inverno ou até mesmo para o dia-a-dia, sendo forçadas a usarem a mesma roupa por vários dias, não advêm de uma educação como a nossa, pois em várias casas não existem quartos suficientes para todos os filhos, pois como muitos não possuem instrução para utilizarem métodos contraceptivos, acabam por terem muitos filhos, fazendo-os dormirem juntos, independentemente do seu sexo. O caso de terem muitos filhos também contribui para a sua dificuldade financeira, pois quanto mais filhos, mais pessoas precisam se alimentar. O incesto, que para nós é considerado uma coisa completamente absurda, às vezes para estes indivíduos que possuem várias pessoas de sexo oposto dormindo no mesmo quarto ou no mesmo quarto dos seus pais, não é visto como algo tão abominável para eles, pois eles não tem os mesmos valores morais possuímos, e deixam-se levar pelas suas funções fisiológicas, cometendo o incesto, sem que haja culpa para eles.

Devido a essas condições percebemos que o que julgamos como errado pode não ser considerado o mesmo por outras pessoas, pois mesmo que em muitas coisas as pessoas se submetam ao que acreditamos como regras sociais universais, nem sempre seus costumes e seu modo de ver o certo e o errado é igual ao nosso, pois na maioria das vezes, isto se deve a impossibilidade dessas pessoas em possuírem o mesmo nível de entendimento que nós de classe mais favorável temos ao nosso dispor devido a desigualdade que existe. A educação, as regras de conduta, as condições que possuem para viver são completamente diferentes e devido a isso elas não se submetem as mesmas leis que possuímos, pois de acordo como vivem, já formaram as suas próprias regras.

Entretanto, mesmo que existam essas diferenças de conduta entre as classes, elas também são estipuladas pela classe em que vive, é comum vermos pessoas de mesma classe agirem de forma parecida, pois por menos instrução que possuam e mesmo sem muita aproximação uns dos outros, as pessoas de mesma classe agem igual, devido a sua convivência e também ao que lhes foi transmitido por seus pais e familiares, que vivendo na mesma situação social, agem dessa forma. Raramente veremos uma pessoa de classe alta possuir o comportamento de alguém de classe “inferior” e vice-versa, mesmo que se sigam de alguma forma as mesmas regras, ou seja, podemos concluir que “os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segunda a sua livre vontade; não a fazem sob circunstância de sua escolha, mas sob aquelas circunstâncias com que defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”. (MARX, 1977, p. 17)

Percebemos então, que quase sempre as pessoas permanecem na mesma classe de seus antepassados, dificilmente mudando de posição em relação à classe que se encontram. Conseguimos perceber com isso como o modo de produção capitalista nos mostra que as relações sociais dão também as relações de classes e que estas resultam na divisão social do trabalho. Se isto ocorre porque as pessoas de classe baixa se acomodaram com a sua situação ou por não terem condições de mudarem, é difícil saber, mas com essa situação fica cada vez mais clara a idéia que existe no sistema em que estamos presos um favorecimento das classes mais altas e como dizia a letra da musica ‘A cidade’ da banda Nação Zumbi, e que podemos encaixar muito bem no nosso dia-a-dia em relação as classes sociais: “O de cima sobe e o de baixo desce”. A própria política econômica privilegia os que têm muito e arranca o máximo possível dos que não têm, fazendo com que o próprio país se contradiga nos seus próprios objetivos, como foi um dos objetivos trazidos para a nossa Constituição Federal de 1988, que visava a redução das desigualdades sociais, mas percebemos que o que acontece hoje é bem diferente dessa meta, onde as podemos observar através das medidas econômicas do atual governo, tais como:

a) isenção de tributação sobre a distribuição de lucros e dividendos;

b) isentar a remessa de lucros para o exterior;

c) isenção concedida aos lucros de filiais no exterior de empresas brasileiras;

d) dedução da parcela referente aos juros sobre o capital próprio do lucro tributável das empresas.

Essas isenções só chegam às grandes empresas, não chegam nem as pequenas empresas e muito menos as pessoas de classe baixa, favorecendo de um modo visível, e mais uma vez, quem tem dinheiro.

Marx, como foi citado acima, acreditava que as pessoas perceberiam as injustiças e o quanto estavam sendo discriminadas e tentariam mudar a sua história, porém percebemos que isto não aconteceu em sua época e em nenhum momento da história, pois mesmo que tentassem uma mudança, eram muito poucos ou era inútil, tendo que sempre aceitar as coisas como elas são e nunca tendo meios suficientes para lutar contra elas. O que teria acontecido se as pessoas tivessem se juntado e se revoltado com o que acontecia? Será que possuiríamos as mesmas idéias em relação ao assunto que temos hoje? Ou conseguiríamos ver a diferença ( se é que ela existiria com os acontecimentos) e mudá-la? Será que é tarde demais para isso? Ainda podemos mudar, perceber as coisas e conscientizar quem esta nessa situação para que não se acomode, mas que ajude a essa transformação.

Cabe pensar o quanto isso fez com que a situação nunca mudasse e, mesmo com todos os programas que o governo implantou para beneficiar as pessoas com necessidades de sobrevivência, talvez até mesmo para compensar um pouco do que faz para favorecer os outros, não faz com que as pessoas vivam em uma sociedade em que possuem a dignidade merecida.

Uma sociedade onde todas as pessoas não são tratadas iguais, pois mesmo seguindo as mesmas leis e possuindo os mesmos direitos que os outros possuem, a mesma forma como são tratados muda muito, quando, por exemplo, são presos, pois mesmo que tenham roubado apenas um pão para alimentar um filho ou alguém da sua família que não possui o que comer, são tratados como animais e jogados em uma cela para “apodrecerem” na cadeia, sem poder contratar um advogado decente porque não possui condições para isso.

Considerações Finais

Desde que o momento que homem começa a conviver e entender como a sociedade funciona e procurar ser sempre o melhor, as desigualdades existem, sejam elas econômicas, sociais, culturais, etc., e com elas percebemos que se nasce à idéia de superioridade entre eles. Os homens não são diferentes quando nascem, mas se tornam diferentes uns dos outros a partir do momento em que começam a pensar nessas diferenças, pois se englobam de alguma forma no meio em que acreditam pertencer.

Isto não se dá apenas com as pessoas de classe alta, que geralmente julgam serem superiores as outras pessoas, mas também as outras pessoas, pois elas mesmas se colocam nesse grau de inferioridade, acreditando ser diferentes das outras classes, julgando tudo que estas classes fazem como o certo e muitas vezes tentando copiá-las em seu modo de vida.

Entretanto, como vimos ao decorrer do artigo, nem sempre isto é possível, devido a muitos fatores inexistentes, tais como uma educação adequada, ou melhor, uma educação “certa” que é imposta pela classe dominante, entre essas classes. Enquanto de um lado os menos favorecidos economicamente não possuem a instrução necessária para uma boa desenvoltura, seja ela no modo de falar, no de escrever e até no modo de se relacionar com as outras pessoas, não são elas apenas que sofrem, mas também uma criança de classe alta. Essa criança da classe alta não saberá também em várias áreas se desenvolver do mesmo modo que as outras crianças, tais como a capacidade de saber lidar com algumas situações do dia-a-dia, que alguém de classe baixa está mais acostumado a vivenciar.

Vivemos em relação a essas diferenças em uma balança que nunca estará com a mesma medida dos dois lados, sempre pendendo mais para a classe alta, pois mesmo que não percebamos, ajudamos a aumentar essa diferença, pois negamos a idéia de que na verdade somos todos iguais, e que devíamos tratar todos assim, e nos esforçarmos para que isso se torne a realidade a cada instante, parando de diferenciar as pessoas e no lugar disto tentando ajudá-las e nos ajudar a excluir essas diferenças, fazendo com que todos tenham a mesma oportunidade em tudo, através do auxílio a todos que não possuem as mesmas oportunidades.

Referências

BOURDIEU, P. & PASSERON J.C. A Reprodução. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2009.

Ilha das Flores, Direção: Jorge Furtado. Produção: Mônica Schmiedt, Giba Assis Brasil, Nôra Gulart. Roteiro: Jorge Furtado. Intérpretes: Ciça Reckziegel e outros [S.I.], 1989. 1 filme (13 min), son., color., 35 mm.

MARX, K. Contribuição para a critica da Economia Política. 5ª Ed. Lisboa: Editora Estampa, 1977.

_____. O 18 Brumario e Cartas a Kugelmann. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. 3ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

MARX, K. & ENGELS, F. A Ideologia Alemã. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

ROUSSEAU, J.J. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Tradução de Sieni Maria Campos. Rio de Janeiro: Ediouro, 1994.

Ellen Koteski
Enviado por Ellen Koteski em 02/07/2011
Código do texto: T3070813
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