Sérgio Martins Pandolfo*
   
                                                             Meu Pará velho de guerra
                                                             o teu povo não se vexa
                                                             contra essa gente que berra
                                                             desde que em teu chão não mexa

                                                                                                      SerPan

      Nossos “precursores do pretérito”, os espertos portugueses, deixaram-nos brocardo bem conhecido que, posto a jeito de trova, ficou assim:
Quem por si parte e reparte/ e fica com a menor parte/ ou não preza o que comparte/ ou não entende da arte, e cabe, a talho de foice, para a situação que estamos a viver hoje no Pará com a expectativa do plebiscito que irá auscultar a população sobre a tripartição do Estado.
      Do jeito como as coisas vêm sendo conduzidas podemos afirmar que está em curso um “pré-biscito”, posto que os que propugnam pela retalhação do solo paraense, malgrado o TRE e o TSE já haverem calendarizado prazos e o modus faciendi da propaganda eleitoral para os dois lados (pró e contra a divisão), os falangiários pró-Tapajós e, principalmente, os pró-Carajás estão se movimentando a mil, propagandeando à farta e à festa a subtração das duas regiões do Estado do Pará, com a aleivosa alegação de que “foram abandonados por sucessivos governos”, o que é, no mínimo, rematada falácia, haja vista que Carajás em especial  tem sido a região que mais recursos e incentivos há merecido do governo paraense nas últimas décadas.
      Estão a exibir “sinais exteriores de riqueza”, a começar pelo lançamento em Belém (21/07), no Salão Karajás do fashion Hilton Hotel com farto e indutor “café da manhã”, das “Frentes Parlamentar” (está grafado assim no convite que nos chegou) com babados e fanfarras estilosos. Tal convite, aliás, vivamente colorido em amarelo canário e marrom café, já por si marcou proeza sem par: nas minguadas nove linhas que o compõem atenta-se nada menos que dez vezes contra o sovado idioma pátrio, o que, convenhamos, já não configura bom começo de campanha.  Diz-se, e tudo faz crer, que a frente carajasense já contaria com um “bolão” em caixa de 50 milhões de reais para deslanchar a campanha, arrebanhados como “doação” entre os fazendeiros e comerciantes da onírica nova unidade federativa.
      Aquando do lançamento das frentes na Câmara dos Deputados, em Brasília (04/08), novamente marcado pela ostensiva e imodesta propaganda que se viu na mídia, expressa por painéis, panfletos, faixas, logotipo e jingle tocado à exaustão durante toda a duração do evento, impressionava ver que todo esse barulho, essa “acción traicionera” (Evoé Agustín Lara!) era feita por parlamentares (deputados federais/senadores) eleitos pelo Pará como é hoje, em sua inteireza, para representá-lo e defendê-lo e não para tentar, com manhas e artimanhas, subtrair, a gáudio e gozo próprios, como num jogo de quebra-cabeça, porção maior de seu território. Na Audiência Pública no TSE, em Brasília (05/08/2011) acompanhava-os lauta comitiva.
      Aversivo é que pouco tempo atrás, ao longo da campanha eleitoral que os guindou, todos se mantiveram surdo-mudos ou faziam-se de desentendidos se instados a se pronunciar sobre o fatiamento do solo parauara. Seguiam a praxe dos acusados em oitiva de inquérito policial: “só falo em juízo!”, ou se valiam da frase de ex-ministro da Justiça que por ela se notabilizou: “Nada a declarar!”. Eleitos estão de novo sajicas, troantes, chibantes e até tratam com desdém a quem ouse lhes contraditar.
      Afiança-se estarem em sequiosa cata aos votos de paraenses residentes em estados vizinhos (Amazonas - só em Manaus seriam 300 mil; Maranhão; Tocantins) para captar-lhes a simpatia e o sufrágio (e só!) promovendo o alistamento em massa ou a transferência de títulos para as regiões demandantes, a configurar aliciamento de eleitores, sabe-se lá a que paga. Urge que os órgãos ligados à Justiça eleitoral fiscalizem com rigor não só a migração de eleitores como a propaganda extemporânea ora proibida, mas que vem sendo feita às escancaras, com concentração popular, como ocorrido no lançamento das frentes em Marabá e Santarém. Na internet há sites criados só para isso.
      Como esses senhores que estão à frente das Frentes de bobos nada têm, e por muito prezarmos o que por ora compartimos, cumpre vigiemos seus passos para que, como no brocardo retro, não fiquemos com a menor parte.
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*Médico e escritor. SOBRAMES/ABRAMES
E.mail:
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Site: www.sergiopandolfo.com

Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 11/08/2011
Reeditado em 11/08/2011
Código do texto: T3153701
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