A XENOFOBIA ATACA DE NOVO                                         
 
                                                         Sérgio Martins Pandolfo*
 
       Estamos a assistir, novamente, triste e repulsivo espetáculo de explosão de violência, de revolta, de insatisfação social que eclodiu inesperado, repentino e avassalador... como um tsunami, na outrora austera e bem comportada Inglaterra, integrante do bloco de países intitulado Reino Unido, inobstante vivam a se carcomer e repelir internamente. Vai grassando e desgraçando a sociedade! Destruíram lojas, saquearam carros, incendiaram prédios (incluindo um da polícia), depredaram monumentos públicos, feriram gentes, em cidades como Manchester, Birmingham, Liverpool, Londres. Bombas incendiárias de fabricação caseira, tijolos, pedras foram os seus armamentos, o que fez a população atacada pegar em armas para se defender e às suas propriedades. Cinco restaram mortos na repressão... Quatro muçulmanos. Mais de 2000 prisões efetuadas. Juizados ingleses constituídos às pressas e em regime de trabalho permanente submeteram-nos a julgamentos sumários
       De onde surgiram essas hordas? Das favelas arrabaldeiras periféricas segregantes que abrigam gente indesejável, composta pelo geral de negros, latinos e, principalmente, muçulmanos, provindos das ex-colônias secularmente dominadas pelas então potências imperialistas coloniais. Desemprego, isolamento social, falta de oportunidades os motivam. As autoridades dizem tratar-se de “jovens adolescentes arruaceiros”, aligados por sites de relacionamento da internet, por meio dos quais maquinam suas malfeituras. No fundo dos fatos estão a xenofobia, intolerância étnica e religiosa (verbi gratia islamitas), racismo explícito, máxime antiafrodescendentes e latinos.
       Enquanto isso se passa no opulento Reino Unido, no chifre da África, assolado por seca inclemente e prolongada, miseráveis e desassistidos morrem à míngua de fome e de sede por não receberem ajuda financeira condigna dos países ricos. Só na Somália são milhares de famintos esquálidos. Logo mais esses miseráveis vão bater com o costado nos domínios dos ex-senhores à busca de sobrevivência, sendo de lá rechaçados, escorraçados, mandados de volta humilhantemente ou então, os que conseguirem entrar e permanecer no paraíso citadino das metrópoles serão arrabaldeados em casas miseráveis, sem abastecimento (água, luz, aquecimento), transporte deficitário e...  segregados, interditos a empregos e atividades que lhes garanta sobreviverem condignamente, gerando forte sentimento de fracasso, de revolta e de revanche.
      Dos trilhões que as mais ricas nações do mundo gastam na manutenção de guerras sanguinárias, inclusive étnicas, e na concepção e confecção de armas cada vez mais mortíferas, capazes de destruir maciçamente as populações inocentes atingidas com bombardeios de “precisão cirúrgica”, como se está a ver agora na Líbia – e ainda no Iraque e no Afeganistão – em nome da “liberdade e proteção do povo”, um ínfimo percentual (1% ou 2%) seria suficiente para aplacar a fome no mundo e, de fato, propiciar a Paz Mundial.
  O que se vê - mas não se ouve - são apelos plangentes da ONU por recursos de “ajuda humanitária” que, ao final, se mostram em forma de fardos com sobejos alimentares humilhantes e garrafas d’água atirados de aeronaves ao povo esfaimado lá em baixo, o qual se atira como urubu na carniça, a ver se consegue um pugilo de comida e uma botija d’água, batalhando ferozmente com companheiros de infortúnio, pobres seres nossos irmãos de origem (humanos) e de credo (não somos, afinal, todos filhos de Deus?), como se admite, mas não se permite,
       Ao revés, enquanto milhares morrem de fome nos países abandonados, secularmente saqueados, milhões padecem, ou falecem, de doença igualmente grave e pecaminosa, o excesso de comida, a que eufemisticamente chamam de obesidade mórbida, ou seja: as calorias que faltam aos miseráveis, matando-os, sobejam nos ricos, enxundiando-os e lhes sendo igualmente letais, paradoxo nada dignificante para nossa pomposa e pernóstica autoclassificação de homo sapiens sapiens. Onde a lógica? Onde a razão? Onde a religião? Há que se repensar e – por que não? – recriar o mundo dentro dos parâmetros do bom senso e da inteligência, extirpando de vez a praga que afeta a humanidade: xenofobia e racismo.
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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
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Site: www.sergiopandolfo.com                    
Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 22/08/2011
Reeditado em 12/10/2011
Código do texto: T3174459
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