UPP - o sonho de consumo dos narcotraficantes cariocas...

UPP - o sonho de consumo dos narcotraficantes cariocas...

A vida dos militantes do ramo do tráfico de drogas e crimes afins no Rio de Janeiro era razoável: além de traficar, matavam gente inocente, importavam armas ilegalmente, exportavam drogas e tecologia do crime, liquidavam rivais, ocupavam favelas e ali iam erguendo os seus feudos de crimes e loucura, estabelecendo relações de toda natureza, com gente de todo tipo, do morro até onde a vista não alcançava (países produtores de drogas, países exportadores de armas ilegais, países importadores de drogas de toda espécie) e, volta e meia, iam alvejando policiais em atividade ou que moravam nas proximidades - só para mostrar quem mandava por ali.

O governo carioca (pelo menos desde a lamentável era Brizola), os políticos, o governo e as lideranças classistas sempre ficaram distantes da coisa. Favela e a população cativa dos narcotraficantes e bandidos era um negócio espinhoso, mas que, eventualmente rendia um capilé - e votos.

O único problema eram os riscos decorrentes da concorrência. Sabe como é: aquele negócio de olho gordo do senhor da guerra da comunidade vizinha, sempre às voltas com as tentativas de invasão de território à custa de muita bala e matança e, a consequente perda de "bocas", estrutura, investimentos, armas e homens...

Mas, a coisa foi ficando complicada: o poder de fogo do narcotráfico aumentando dia a dia, escolas servindo de base da atividade principal dos meliantes, política prisional escandalosa, onde a prisão virava escritório e hotel e, uma coisa bisonha - um braço da polícia militar (o BOPE, celebrado no filme "Tropa de Elite" nº 1, aquele que, ao contrário do que imaginava o diretor do filme, transformou o esquizofrênico "Capitão Nascimento" numa espécie de protótipo de um tipo de herói que o carioca e muitos brasileiros anseiam - o policial impositor da lei e prendendor de bandido...) demonstrando que era possível subir os morros e prender bandidos, quando a coisa interessava.

Aí, o governo carioca, malandro como ele só, inventou uma fórmula de desenvolvimento de política de segurança pública que contemplava tudo: dava uma diminuída do clamor das populações das favelas (massacradas e vilipendiadas por narcotraficantes e bandidos de toda espécie), criava uma vistosa grife para vender para a imprensa e para a população de classe média e, especialmente, dava uma organizada na atividade dos traficantes. A coisa foi batizada de UPP - Unidade de Polícia Pacificadora*.

Onde estava a grande revolução proposta pelo governo, com as UPPs? Nisto: em vez de subir os morros e ocupar as favelas, impondo a lei e a ordem, prendendo os bandidos e limpando as ruas e becos, conforme o Estado de Direito, a Constituição Federal e o ordenamento jurídico pátrio, o governo resolveu confessar suposta incapacidade e contemporizar com a bandidagem.

Que eu saiba, nenhum traficante protestou contra a criação das famigeradas UPPs. E o motivo é muito simples: noves fora o verniz de assistencialismo social, a tal unidade policial não interfere na atividade dos traficantes nas favelas - só organiza e põe a coisa em níveis civilizados - os padrões locais. E tem uma vantagem incrível: protege os grupos locais da invasão dos grupos rivais dos morros vizinho e promove uma sensível redução nos custos, pois proporciona menos gastos com armas, balas, vigilantes e soldados do crime, por exemplo, com a possibilidade de aproveitamento de parte do contigente dispensado na atividade principal, na atividade principal, isto é, a venda de drogas ilícitas. Não é demais?

Pois, é. no Rio, as coisas se resolvem assim. Daí, fica difícil imaginar que o estado e a cidade possam um dia tomar um rumo respeitável, em tema de administração e segurança pública, enquanto houver o pacto pela impunidade estabelecido pelos políticos, alimentado pelo voto dos eleitores.

Quanto custa para o Brasil, a leniência (senão, convivência) dos governos cariocas com o crime?

No momento, o exército brasileiro está envolvido numa missão espinhosa no chamado "complexo do Alemão", justamente por causa desta reiterada e enraizada prática.

O que fazer, numa situação assim, em que, por décadas, governos irresponsáveis se recusam a executar a política de segurança pública a seu cargo, inventando coisas aparentemente estúpidas, iguais às tais UPPs, cujo único efeito prático é tornar a vida dos traficantes e bandidos mais confortável e segura?

Sim, pois como se sabe, nas favelas onde foram instaladas UPPs e no complexo do Alemão - ora ocupado pelo exército, as notícias são de que os bandidos operam mansa e pacificamente (para horror e consternação da população local) e, por outro lado, as facções inimigas não se metem, certo?

O que pode ser mais seguro para um líder de tráfico de uma favela, do que a organização e segurança oferecida por uma UPP?

Não precisava nem de ofertar o capilé que estão ofertando aos policiais, que sabemos, chega até à cúpula policial!

* Em meu estado, considerados os erros, acertos e reparos, a polícia ainda é do tipo impositora da lei e da ordem e prendendora de vagabundos e bandidos. E espero que continue assim...